domingo, 4 de setembro de 2005

Insatisfação

Se quisermos nos liberar da insatisfação constante, teremos que compreender a natureza do desejo para sermos capazes de ter prazer diante da satisfação!

O budismo nos ensina que o problema não se encontra em nossos objetos de desejo, mas sim nas convicções que temos a respeito deles. Se as qualidades dos objetos de desejo fossem próprias deles, eles nos despertariam sempre as mesmas sensações. No entanto, o que eu hoje considero como algo profundamente atraente, em outro momento posso vir a sentir repugnância. Todos nós já experimentamos desejo e aversão por uma mesma pessoa. Ou seja, a primeira coisa que devemos ter em mente é que nada existe por si só, tudo resulta de nossas percepções.

Neste sentido, a origem da insatisfação de um desejo está em nosso hábito de nos apegarmos aos prazeres sensoriais como se eles fossem algo real e, portanto, constante. Quantas qualidades ilusórias atribuímos às coisas e às pessoas, pensando que elas poderiam existir por elas mesmas independentemente de nossos humores!

Reconhecer que nossas projeções são exageradas, sem dúvida é um passo importante. No entanto, isto não significa cultivar um olhar neutro em relação ao tudo e a todos. Pois tal postura representa outra projeção ilusória, apenas disfarçada por um mecanismo de defesa da negação. O ponto é simples, no entanto tão profundo que em geral encontramos dificuldade de reconhecê-lo. Por isso vamos repassá-lo: sofremos de insatisfação por que atribuímos aos nossos objetos de desejo qualidades que não estão neles, mas sim em nossa mente! Mas como não nos damos conta de tal erro, continuamos buscando fora o que está dentro de nós!

O passo seguinte para nos libertarmos da insatisfação consiste em renunciar a esta visão errônea. Sem dúvida, este é um processo longo e complexo, pois isto significa nos libertar de um hábito extremamente arraigado: buscar felicidade constante em algo ou em pessoas que, em essência, são transitórias.

É importante compreender que renúncia não significa abandonar o prazer ou negar a felicidade, mas sim abandonar nossas expectativas que algo será capaz de nos satisfazer constantemente. O budismo tibetano não condena o prazer, como se ele fosse a origem de nossos pecados. Aliás, a palavra pecado nem existe no vocabulário tibetano. O que esta filosofia nos alerta é que a origem de nosso sofrimento está no modo de pensar ávido e exagerado.

Texto de Bel Cesar
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