sábado, 31 de março de 2007

O valor que o Mestre tem

O valor que o Mestre tem
Eu vou esclarecer
Se tiver alguém que duvide
Tome Daime para ver


Meu Mestre veio ao mundo
Nasceu lá no estrangeiro
O valor que o Mestre tem
Não se compra com dinheiro


Meu Mestre é formoso
É preciso acreditar
Eu convido os meus irmãos
Vamos todos acompanhar


Meu Mestre a ti eu peço
Na minha concentração
Para vós me consolar
E consolar meus irmãos


Meu Mestre a ti eu peço
Faça de mim o que quiser
Meu Mestre estou aqui
E te prometo ser fiel


Padrinho Sebastião

terça-feira, 27 de março de 2007

Os véus e os selos

Para penetrardes além dos véus, necessitais de olhos outros que não aqueles dotados de pálpebras, pestanas e sombrancelhas.

Para quebrardes os selos, necessitais de outros lábios que não aqueles da carne, que tendes por baixo do nariz.

Vede em primeiro lugar, correspondentemente, os vossos próprios olhos, se quiserdes ver corretamente as outras coisas. Não com os olhos, mas através deles, deveis olhar para que possais ver aquilo que além dele está.

Falei, primeiro, corretamente, os lábios e a língua, se quiserdes falar corretamente as outras palavras. Não com os lábios e a língua, mas através deles deveis falar, para falardes todas as palavras que além dele estão.

Se não virdes e não falardes corretamente, nada mais vereis senão a vós mesmos e nada mais pronunciareis senão a vós mesmos, porque em todas as coisas e além de todas as coisas, em todas as palavras e além de todas as palavras, estais vós – os que olham, e os que falam.

Se, pois, vosso mundo é um enigma indecifrável, é porque vós mesmos sois enigmas indecifráveis. Se o vosso falar é uma deplorável confusão, é porque vós sois essa deplorável confusão.

Deixai as coisas como elas são e não vos esforceis para modificá-las, porque elas parecem ser o que parecem, devido a vós parecerdes ser o que pareceis. Elas não vêem nem falam, se vós não lhes emprestardes vista e voz. Se elas vos falam asperamente, atentai para vossas línguas. Se vos parecem feias, procurai a fealdade, em primeiro e último lugar, nos vossos próprios olhos.

Não deveis pedir as coisas que se dispam dos seus véus. Tirais vós próprios os vossos véus, e elas perderão os seus. Não peçais às coisas que quebrem os seus selos. Removeis os vossos próprios selos, e todas as coisas perderão os seus.

O Livro de Mirdad
Mikhail Naimy

sábado, 17 de março de 2007

Diálogo com a Sombra

Ele abre a porta da sala com um certo fastio e dá um passo para o lado, a fim de deixar a sombra entrar. A expressão em seu rosto é desolada, uma tristeza contida, uma melancolia resignada. Sabe que sua vida está bloqueada e que não há nada que ele possa fazer para desimpedi-la.

Antes de entrar, a sombra pára na soleira da porta e espia o interior da sala, curiosa. É um vulto escuro, de contornos difusos e, mesmo assim, seu rosto, desprovido de olhos, nariz ou boca, consegue expressar cada pequena nuance de emoção. A sombra é alta, mais alta que ele, e esguia. Seus movimentos são graciosos, espontâneos e amplos, num agudo contraste com os modos contidos do dono do apartamento.

- É um cafofo simpático, o que você tem aqui – diz a sombra, com aparente sinceridade, mas deixando entrever uma certa nota de ironia na voz.

- É, eu gosto de viver aqui – ele responde, numa voz sem entonação.

- Se importa se eu sentar? – antes mesmo que ele responda, a sombra já se encaminha para o sofá.

- O que você quer aqui? – ele pergunta, não inteiramente satisfeito com os modos despachados da sombra.

- Não sei, foi você que me chamou.

- Eu?

- Fiquei até surpreso. Você sempre me ignorou, nunca quis falar comigo, nem sequer olha na minha cara. E de repente, do nada, me pede pra vir aqui.

- Quando foi que eu pedi pra você vir?

A sombra dá uma risada.

- No momento em que abriu a porta.

- Mas foi você quem tocou a campainha! – ele protesta.

- Há anos que eu venho tocando essa campainha, e você nunca atendeu – retruca a sombra, com simplicidade. – Se abriu agora, só posso presumir que você precisa de mim.

- Por que eu precisaria? – diz ele, com uma perplexidade crescente.

- Ora vamos, não vai me dizer que você está satisfeito com a sua vida!

- Podia ser melhor, mas também podia ser pior. No geral, eu diria que, sim, estou bastante satisfeito.

A sombra dá de ombros, como se o assunto todo não lhe tivesse o menor interesse.

- Você diz uma coisa, teu rosto diz outra. Em quem eu devo acreditar?

- O que me importa isso? – ele agora começa a demonstrar uma certa irritação.

- Ah, mas importa, sim! – a sombra levanta e caminha até ele, que continua parado junto à porta, sem se decidir a fechá-la.

- Entenda, eu posso diminuir a sua dor. Tudo o que você tem a fazer é pedir.

- Como você faria isso?

- Eu tenho reservas praticamente inesgotáveis de energia.

- E tudo isso será meu, se eu te adorar? – ele cita, as palavras vibrando de ironia.

- Acho que você está confundindo um pouco as coisas. Eu não sou desses.

- Ah, não? Então, o que você é?

- Uma sombra, não está vendo?

- Sombra de quem? Sombra do quê?

A sombra torna a gargalhar, aproximando sua boca invisível do ouvido dele.

- Não é óbvio? Tua sombra! De quem mais seria? – depois de cochichar essas palavras, ela vai até o centro da sala, sobre o tapete decorado com motivos indígenas, e abre os braços, dramaticamente:

- E como sua sombra, eu obviamente tenho tudo o que lhe falta.

- O que é que me falta?

- Energia, já disse. Disposição, ânimo. Garra. Ambição.

- Não quero ser ambicioso.

- Ah, mas você é ambicioso! Apenas não reconhece isso.

Ele não responde.

- A ambição não é necessariamente uma coisa ruim. Jesus Cristo era ambicioso.

- Cristo?

- Salvar o mundo, quer projeto mais ambicioso que esse?

- Isso eu também quero.

- Então, precisa aprender a aceitar sua cruz. É o preço que se pega.

- Qual é a minha cruz?

- Eu sou a sua cruz! – a sombra o encara como se estivesse falando com o aluno retardado da classe, aquele que é o último a perceber o óbvio ululante.

- Então, aceitar você é o preço a pagar pra que você me ajude.

- Parece justo, não parece?

Ele pondera:

- E o que exatamente você ganha com isso?

- A sua companhia, claro! Admito que não é uma companhia das mais brilhantes, mas é melhor do que o fosso sem luz onde eu habitualmente vivo…

- Parece fácil.

- As coisas nem sempre são o que parecem.

- Não é fácil?

- Também não disse que é difícil.

- Estou confuso.

- Pra quem sempre teve tantas certezas, estar confuso é um bom sinal.

Ele não parece convencido. A sombra torna a se aproximar, coloca uma mão amigável em seu ombro:

- Vamos fazer o seguinte. Você me deixa ficar por uns dias e vê como as coisas rolam. Se gostar, eu continuo. Do contrário, pode me mandar de volta. – Faz uma pausa, espera que ele absorva a proposta. – Feito?

- Quem me garante que você vai mesmo embora se eu quiser?

- Não confia em mim?

- Não.

- Faz bem. Eu também não confio em você. Então, estamos quites – estende a mão para ele: – Feito? – repete.

Ele suspira e aperta a mão que a sombra lhe estende.

- Tenho a impressão de que este é o início de uma bela amizade! – comemora a sombra.

Ele fecha a porta. A sombra permanece na sala.

Extraído do site O Franco-Atirador

sexta-feira, 16 de março de 2007

O dia do juízo

Mirdad fala a Bennoon:

Cada dia, Bennoon, é um Dia de Juízo. A conta corrente de cada criatura entra em balanço a cada abrir e fechar de olhos. Nada fica escondido, nada deixa de ser pesado.
Não há pensamento, ação ou desejo que não seja registrado no pensador, no agente ou no que desejou. Nenhum pensamento, nenhum desejo, nenhuma ação ficam estéreis neste mundo, mas todos se reproduzem de acordo com a sua espécie e a sua natureza. Tudo o que está de acordo com a Lei de Deus é colhido para a Vida. Tudo o que a ela se opõe é colhido para a Morte.

Os teus dias não são todos iguais. Bennoon. Alguns são serenos; são a colheita de horas bem vividas. Alguns são nublados; são o dádiva das horas meio-adormecidas na Morte e meio-alertas na Vida. Há outros que se fustigam na tormenta, com coriscos nos olhos e trovões nas ventas. Esmagam-te de cima; chicoteiam-te de baixo; atiram-te para a direita e para a esquerda; achatam-te de encontro ao solo e fazem-te comer o pó e desejares jamais haver nascido. Esses são os frutos das horas gastas em oposição propositada à Lei.

Assim é o mundo. As sombras que já ameaçam desde os céus não são em nada menos sinistras do que aquelas que anunciaram o Dilúvio. Abri os vossos olhos e vede.

Quando observais as nuvens caminhando para o Norte, sopradas pelo vento Sul, dizeis que elas trazem chuva. Por que não sois tão sábios em observar a direção para a qual caminham as nuvens humanas? Não podeis ver até que ponto os homens se enrascaram nas suas próprias redes?

O dia de desenrascar está próximo. E que dia de prova vai ser!

As redes dos homens têm sido tecidas com veias do coração e da alma, durante muitos, muitíssimos séculos. Para livrar os homens das suas próprias redes, será preciso rasgar-lhes as carnes; o próprio tutano dos seus ossos terá de ser esmagado. E os próprios homens terão de rasgar, eles mesmos, as suas carnes e esmagar, eles mesmos, os seus ossos.

Quando as tampas forem levantadas – como certamente serão – e quando as panelas despejarem os seus conteúdos – como certamente o farão – onde esconderão os homens a sua vergonha e para onde fugirão?

Nesse dia os vivos invejarão os mortos, e os mortos amaldiçoarão os vivos. As palavras dos homens lhes ficarão presas na garganta, e a luz se congelará nas suas pálpebras. De seus corações sairão escorpiões e víboras, e eles gritarão, atemorizados: “De onde vêm estas víboras e estes escorpiões?”, esquecidos de que os haviam criado e alojado em seus corações.

O Livro de Mirdad
Mikhail Naimy

quarta-feira, 7 de março de 2007

A rosa

Há muitos, muitos anos, num lugar muito longe e triste, havia uma enorme montanha feita de pedras escuras e ásperas.

Ao cair da tarde, no topo dessa montanha, toda noite uma rosa desabrochava e fazia de quem a pegasse imortal. Mas ninguém ousava chegar perto dela porque seus espinhos estavam cheios de um veneno mortal.

Os homens conversavam entre si sobre seu medo da morte, e da dor, mas nunca sobre a promessa da imortalidade.

Então todo dia, a rosa desabrochava sem poder oferecer seus dons a ninguém.

Esquecida e perdida no topo daquela montanha fria e escura, para sempre sozinha, até o fim dos tempos.

Do filme O Labirinto do Fauno

segunda-feira, 5 de março de 2007

Espada do perdão

Estou aqui, eu vivo aqui
Que o Meu Pai me mandou
Estou representando ele
E o Nosso Mestre Ensinador


Vivo aqui, vou por ai
Com ordem Superior
Sempre cantando louvando
O mestre que nos ensinou


Vos ensino com Amor
Vamos buscar na miração
O conforto Nosso Pai
A firmeza Nossa Mãe


Alinhado com as Forças
Somos sábio batalhão
Na batalha quem mais corta
É a espada do perdão


Padrinho Alfredo