terça-feira, 27 de março de 2007

Os véus e os selos

Para penetrardes além dos véus, necessitais de olhos outros que não aqueles dotados de pálpebras, pestanas e sombrancelhas.

Para quebrardes os selos, necessitais de outros lábios que não aqueles da carne, que tendes por baixo do nariz.

Vede em primeiro lugar, correspondentemente, os vossos próprios olhos, se quiserdes ver corretamente as outras coisas. Não com os olhos, mas através deles, deveis olhar para que possais ver aquilo que além dele está.

Falei, primeiro, corretamente, os lábios e a língua, se quiserdes falar corretamente as outras palavras. Não com os lábios e a língua, mas através deles deveis falar, para falardes todas as palavras que além dele estão.

Se não virdes e não falardes corretamente, nada mais vereis senão a vós mesmos e nada mais pronunciareis senão a vós mesmos, porque em todas as coisas e além de todas as coisas, em todas as palavras e além de todas as palavras, estais vós – os que olham, e os que falam.

Se, pois, vosso mundo é um enigma indecifrável, é porque vós mesmos sois enigmas indecifráveis. Se o vosso falar é uma deplorável confusão, é porque vós sois essa deplorável confusão.

Deixai as coisas como elas são e não vos esforceis para modificá-las, porque elas parecem ser o que parecem, devido a vós parecerdes ser o que pareceis. Elas não vêem nem falam, se vós não lhes emprestardes vista e voz. Se elas vos falam asperamente, atentai para vossas línguas. Se vos parecem feias, procurai a fealdade, em primeiro e último lugar, nos vossos próprios olhos.

Não deveis pedir as coisas que se dispam dos seus véus. Tirais vós próprios os vossos véus, e elas perderão os seus. Não peçais às coisas que quebrem os seus selos. Removeis os vossos próprios selos, e todas as coisas perderão os seus.

O Livro de Mirdad
Mikhail Naimy

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