quarta-feira, 31 de agosto de 2005

Gita

"Eu que já andei
Pelos quatro cantos do mundo
Procurando
Foi justamente num sonho
Que Ele me falou"

Às vezes você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado
Não falo de amor quase nada
Nem fico sorrindo ao teu lado...

Você pensa em mim toda hora
Me come, me cospe, me deixa
Talvez você não entenda
Mas hoje eu vou lhe mostrar...

Eu sou a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o mêdo de amar...

Eu sou o medo do fraco
A força da imaginação
O blefe do jogador
Eu sou, eu fui, eu vou..

Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!

Eu sou o seu sacrifício
A placa de contra-mão
O sangue no olhar do vampiro
E as juras de maldição...

Eu sou a vela que acende
Eu sou a luz que se apaga
Eu sou a beira do abismo
Eu sou o tudo e o nada...

Por que você me pergunta?
Perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra
Do fogo, da água e do ar...

Você me tem todo dia
Mas não sabe se é bom ou ruim
Mas saiba que eu estou em você
Mas você não está em mim...

Das telhas eu sou o telhado
A pesca do pescador
A letra "A" tem meu nome
Dos sonhos eu sou o amor...

Eu sou a dona de casa
Nos pegue pagues do mundo
Eu sou a mão do carrasco
Sou raso, largo, profundo...

Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!

Eu sou a mosca da sopa
E o dente do tubarão
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão...

Euuuuuu!
Mas eu sou o amargo da língua
A mãe, o pai e o avô
O filho que ainda não veio
O início, o fim e o meio
O início, o fim e o meio
Euuuuu sou o início
O fim e o meio
Euuuuu sou o início
O fim e o meio...

Raul Seixas

terça-feira, 30 de agosto de 2005

Dissolução da dualidade

Príncipio da Dissolução da Dualidade. Um dos príncipios do Taoísmo, brilhantemente abordado por Ricardo Kelmer:

O mito cristão da expulsão do Jardim do Éden é uma maneira simbólica (e nem por isso menos verdadeira) de explicar o processo da criação da consciência humana. Com uma forma mais refinada de consciência nossos ancestrais se diferenciaram de seus parentes hominídeos e começaram a se questionar sobre a realidade. Assim surgiram as dualidades, tão necessárias ao crescimento psíquico da espécie.

Bem e mal, mente e corpo, luz e sombra, vida e morte. De repente a existência tornou-se um grande mercado de conceitos e opostos por onde a espécie teria de se movimentar e se situar no contexto geral da existência.

Que mal há nos opostos da vida? Em si, nada. Eles de fato são necessários durante uma determinada etapa de aprimoramento da consciência. Porém, ao fragmentar a realidade em contrários, tendemos à identificação com um deles e desprezamos o outro. Desse modo nos limitamos a percorrer o grande mercado dos conceitos tendo de escolher o tempo todo entre isso e aquilo, o que termina por limitar nossas escolhas e nossa própria compreensão da vida. Tornamo-nos assim unilaterais. Acostumamo-nos a enxergar a realidade de forma fragmentada e fica cada vez mais difícil perceber sua natureza una. Assim nos aliamos ao que consideramos certo e entendemos que é errado tudo que não se alinha conosco. Assim surge o medo do outro, a intolerância e os preconceitos – assim surgem as guerras. Porque nunca identificamos o mal em nós mesmos.

Ao seguir o Tao, ruem por terra os opostos. Eles continuam existindo mas agora são usados pelo taoísta de forma diferente. Ao entender que não somos nem nunca seremos um dos opostos mas sempre os dois, começamos a lidar melhor com nossos defeitos e, consequentemente, com os defeitos dos outros. Somente essa compreensão já transforma o mundo, não duvide.

Agora veja só: se isso ocorre em termos de conceitos morais, o que dizer de conceitos como aqui e ali, ontem e amanhã? Se o taoísmo nos guia naturalmente para a dissolução dos opostos, ele aqui nos conduz também para uma compreensão mais abrangente do espaço e do tempo, onde as divisíµes começam a sumir feito névoa e nos surge… a percepção da unicidade! Surge-nos a indescritível sensação de perceber que na verdade tudo é uma coisa só, até mesmo o tempo e o espaço.

Deixei por último, de propósito, uma categoria de opostos: eu e o outro. Eu e aquilo que não sou eu. No polêmico mercado dos conceitos humanos certamente é esse o mais intrigante e limitador dos contrários. Sendo o mais difícil de superar, por isso mesmo deve esconder o mais libertador dos segredos. Qual será?

Por Ricardo Kelmer
Texto na í­ntegra

Dogma - uma análise do filme

Certas obras artísticas traduzem bem os movimentos que sacodem os subterrâneos do inconsciente comum da humanidade. O filme Dogma é um desses. Seu tema principal é um antiquíssimo e poderoso arquétipo que vive na alma coletiva da espécie desde seus primórdios: a idéia de Deus.

Que a relação da humanidade com esse arquétipo vem de muito longe, isso não é novidade. O que assusta algumas pessoas de religiosidade mais ortodoxa é dizer que, como numa relação todas as partes envolvidas são sempre afetadas, na relação da humanidade com Deus mudamos nós, humanos e… Deus também teve de mudar! E ai dele se não mudasse.

Dos deuses-forças da Natureza, passando pelos deuses do Olimpo, até a idéia de um deus único e todo-poderoso, muita água rolou por baixo da ponte, muitas noites em claro. Essa difícil relação entre criador e criatura é uma verdadeira saga onde não faltam conflitos, sofrimentos, dilemas, heróis e mártires. As mitologias de todo o mundo formam um mosaico precioso para entender melhor essa saga; no entanto, na carona do filme Dogma, tomemos a Bíblia: ela pode ser vista (também) como o registro simbólico da evolução do conceito de Deus de boa parte da humanidade. Assim veremos perfeitamente como ambas as partes da relação evoluíram com o tempo, criador e criatura.

A mordida no fruto proibido simboliza o advento da consciência, o momento histórico em que um ramo dos hominídeos se diferencia pelo refinamento de sua mente. Antes eram todos mergulhados na inconsciência geral, na indiferenciação psíquica: era o Éden. Nem felizes nem infelizes: simplesmente não se questionavam. Evoluída a mente, surge a consciência, feito uma extensão de terra que aos poucos se eleva do fundo do oceano inconsciente e põe a cabeça de fora: é a terra que, em forma de ilha, adquire consciência sobre si mesma e sobre o que a rodeia.

No entanto a autoconsciência tem seu preço. O despertar para um novo nível de compreensão da realidade e de si mesmo traz sempre novas dúvidas e grandes desafios. Ao adquirir a autoconsciência, nossos antepassados foram expulsos do tranquilo paraíso do não-saber. E saíram dele com a pergunta que a partir daí jamais se calaria: quem nos criou e onde diabos estará?

Por Ricardo Kelmer
Texto na í­ntegra

quinta-feira, 25 de agosto de 2005

Sermão do monte

Se todos os livros já escritos sobre religião desaparecessem repentinamente, mas ainda houvesse o Sermão da Montanha, seria mais do que suficiente. – Mahatma Ghandi

A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes são tais trevas! Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e à s riquezas. Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário?
Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas? Ora, qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um cí´vado à sua estatura? E pelo que haveis de vestir, por que andais ansiosos? Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam; contudo vos digo que nem mesmo Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé?

Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que havemos de comer? ou: Que havemos de beber? ou: Com que nos havemos de vestir? (Pois a todas estas coisas os gentios procuram.) Porque vosso Pai celestial sabe que precisais de tudo isso. Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.

Mt 6:22-34

domingo, 21 de agosto de 2005

A profundidade de Krishnamurti

Alguns trechos interessantes sobre o Krishnamurti.

O compromisso
Em 1980, seis anos antes de morrer, Krishnamurti estava fazendo uma palestra em Brockwood, na Inglaterra, quando foi questionado sobre os motivos que o levaram a continuar falando, após 50 anos, como mensageiro, gastando energia, quando ninguém parecia mudar. Ele sábia e serenamente respondeu: “Antes de mais nada, eu não dependo de vocês como um grupo que vem ouvir o palestrante. O orador não está ligado a nenhum grupo em particular, nem está precisando de uma assembléia. Penso que quando alguém vê algo verdadeiro e belo, ele quer contar í s pessoas sobre isso, por afeição, por compaixão, por amor. E, se não houver quem esteja interessado, tudo bem, mas aqueles que estão interessados, talvez eles possam reunir-se. Você pode perguntar à flor por que ela cresce, por que ela tem perfume? É pela mesma razão que o orador fala”.

A renúncia a títulos preestabelecidos
Em Madras, em 1947, aqueles que tinham contato com o homem Krishnamurti e com a essência de seus ensinamentos estavam perplexos com o fato de ele ter sido anunciado pela Sociedade Teosófica como sendo o Messias e o instrutor do mundo e ter renunciado a esse papel.
Krishnamurti tentou responder a essa questão contando uma história: “O diabo e um amigo estavam passeando quando viram, a sua frente, um homem abaixar-se e pegar algo brilhante do chão. O homem olhou para aquilo com deleite, colocou-o no bolso e continuou caminhando. O amigo perguntou: “O que aquele homem achou que o transformou tanto?” O diabo respondeu: “Eu sei, ele encontrou a verdade.” “Por Deus!”- exclamou seu amigo: “Isto deve ser um mau negócio para você!”. “De jeito nenhum”- o diabo respondeu com um sorriso malicioso: “Vou ajudá-lo a organizá-la, você vai ver só!”
Krishnamurti indaga: “Pode a verdade ser organizada? Você pode encontrar a verdade através de uma organização? Elas estão baseadas em diferentes crenças. Crenças e organizações estão sempre separando as pessoas, excluindo umas das outras. Você é um hindu e eu sou um mulçumano, você é um cristão e eu sou um budista. Crenças, ao longo de toda a história, atuaram como uma barreira entre os seres humanos. Nós falamos de fraternidade, mas se você tem uma crença diferente da minha, estou pronto para cortar sua cabeça; nós temos visto isso acontecer inúmeras vezes.
E prossegue; “A experiência de Deus deve ser experimentar por si mesmo. Ela não pode ser organizada. No momento que é organizada, propagada, ela cessa de ser verdade, ela se torna uma mentira. O real, o imensurável, não pode ser formulado, não pode ser colocado em palavras. O desconhecido não pode ser medido pelo conhecido, pela palavra. Quando você o mede, ele cessa de ser verdade, deixa de ser real e, portanto, é uma mentira”.

Por Ana Elizabeth Diniz
Leia o texto na íntegra no site
Jornal Infinito

quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Ego - o falso centro

Alguns trechos de um excelente texto a respeito do Ego. Recomento a leitura completa

O verdadeiro só pode ser conhecido através do falso, portanto, o ego é uma necessidade. Temos que passar por ele. Ele é uma disciplina. O verdadeiro só pode ser conhecido através da ilusão. Você não pode conhecer a verdade diretamente. Primeiro você tem que conhecer aquilo que não é verdadeiro. Primeiro você tem que encontrar o falso. Através desse encontro, você se torna capaz de conhecer a verdade. Se você conhece o falso como falso, a verdade nascerá em você.

O ego está sempre abalado, sempre à procura de alimento, de alguém que o aprecie. E é por isso que você está continuamente pedindo atenção. Você obtém dos outros a idéia de quem você é. Não é uma experiência direta. É dos outros que você obtém a idéia de quem você é. Eles modelam o seu centro. Mas esse centro é falso, enquanto que o centro verdadeiro está dentro de você. O centro verdadeiro não é da conta de ninguém. Ninguém o modela. Você vem com ele. Você nasce com ele. Assim, você tem dois centros. Um centro com o qual você vem, que lhe é dado pela própria existência. Esse é o eu. E o outro centro, que é criado pela sociedade - o ego. Esse é algo falso - é um grande truque.

Tente entender isso. E comece a procurar o ego - não nos outros, isso não é da sua conta, mas em você. Toda vez que se sentir infeliz, imediatamente feche os olhos e tente descobrir de onde a infelicidade está vindo, e você sempre descobrirá que o falso centro entrou em choque com alguém. Você esperava algo e isso não aconteceu. Você espera algo e justamente o contrário aconteceu - seu ego fica estremecido, você fica infeliz. Simplesmente olhe, sempre que estiver infeliz, tente descobrir a razão. As causas não estão fora de você. A causa básica está dentro de você - mas você sempre olha para fora, você sempre pergunta: 'Quem está me tornando infeliz?' 'Quem está causando a minha raiva?' 'Quem está causando a minha angústia?' Se você olhar para fora, você não perceberá. Simplesmente feche os olhos e sempre olhe para dentro. A origem de toda a infelicidade, da raiva e da angústia, está oculta dentro de você, é o seu ego.

É difícil ver o próprio ego. É muito fácil ver o ego nos outros. Mas esse não é o ponto, você não os pode ajudar. Tente ver o seu próprio ego. Simplesmente o observe.


Osho, Além das Fronteiras da Mente
Texto extraído do site Osho Brasil

segunda-feira, 15 de agosto de 2005

A Caverna de Platão

E agora, deixa-me mostrar, por meio de uma comparação, até que ponto nossa natureza humana vive banhada em luz ou mergulhada em sombras. Vê! Seres humanos vivendo em um abrigo subterrâneo, uma caverna, cuja boca se abre para a luz, que a atinge em toda a extensão. Aí sempre viveram , desde crianças, tendo as pernas e o pescoço acorrentados, de modo que não podem mover-se, e apenas vêem o que está à sua frente, uma vez que as correntes os impedem de virar a cabeça.

Acima e por trás deles, um fogo arde a certa distância e, entre o fogo e os prisioneiros, a uma altura mais elevada, passa um caminho. Se olhares bem verá uma parede baixa que se ergue ao longo desse caminho, como se fosse um anteparo que os animadores de marionetes usam para esconder-se enquanto exibem os bonecos.

Pois esses seres são como nós. Vêem apenas suas próprias sombras, ou as sombras uns dos outros, que o fogo projeta na parede que lhes fica à frente. - Platão, República, Livro 7

Platão (c.428-348 a.C.) não achava que este era o melhor dos mundos. É uma espécie de prisão, escreveu ele, onde estamos trancafiados em escuridão e sombras. Mas além dessa prisão reside um brilhante e esperançoso mundo de verdades que ele chamou de idéias ou ideais, e é por isso que chamamos essa doutrina de idealismo.

Platão desenvolve suas doutrinas idealistas de forma notável na República, onde seu porta-voz, como de hábito, é seu mestre, Sócrates. (Desconhece-se até que ponto Sócrates realmente sustentava os pontos de vista de Platão.) Sócrates compara nosso mundo cotidiano a um “abrigo subterrâneo”, uma caverna onde somos mantidos acorrentados. À nossa frente ergue-se uma parede e atrás de nós, uma fogueira.

Incapazes de virar a cabeça, vemos somente as sombras projetadas na parede pelo fogo.

Nada conhecendo além disso, naturalmente tomamos essas sombras por “realidade”. Os seres humanos, nossos companheiros, assim como todos os objetos da caverna, para nós não passam de sombras; não têm, para nós, outra realidade além dessa.

Mas se pudéssemos nos libertar das correntes, se pudéssemos ao menos nos virar para a entrada da caverna, poderíamos constatar o nosso erro. A princípio, a luz direta nos seria dolorosa e perturbadora. Porém, logo nos adaptaríamos e começaríamos a perceber as pessoas e objetos reais, que só conhecíamos em forma de sombras. Mesmo assim, devido ao hábito, nos agarraríamos às sombras, ainda acreditando que elas fossem reais, e suas fontes, apenas ilusões. Mas se fossemos tirados da caverna para a luz, cedo ou tarde chegaríamos à visão correta das coisas e lamentaríamos nossa antiga ignorância.

A analogia de Platão é um ataque aos nossos hábitos de pensamento. Estamos acostumados, diz ele, a aceitar os objetos concretos que nos cercam como “reais”. Mas eles não são. Ou melhor, eles são só cópias imperfeitas e menos “reais” de “formas” imutáveis e eternas. Essas formas, como Platão as define, são as realidades permanentes, ideais e originais a partir das quais (de alguma forma) são construídas cópias concretas imperfeitas e corruptíveis. Por exemplo, cada cadeira em nosso familiar mundo de objetos é meramente uma imitação, ou “sombra”, da Cadeira Ideal. Cada escrivaninha é uma cópia da Escrivaninha Ideal, que nunca muda, que existe pela eternidade, e na qual você nunca pode derramar café.

Essas cadeiras e escrivaninhas ideais, segundo Platão, não são fantasias; elas são de fato mais “reais” que suas imitações materiais, porque são mais perfeitas e universais. Entretanto, como nossos sentidos corrompidos têm sido sempre enganados, nós somos cegos para o mundo dos ideiais. Nossas mentes estão escravizadas a imitações que nós, desta maneira, confundimos com a realidade. Somos prisioneiros em uma caverna filosófica.

Texto extraído do site Filosofia e Idéias

quinta-feira, 11 de agosto de 2005

O vaso

Certo dia, num mosteiro zen-budista, com a morte do guardião foi preciso encontrar um substituto. O grande Mestre convocou então todos os discípulos para determinar quem seria o novo sentinela. O Mestre, com muita tranquuml;ilidade, falou:

- Assumirá o posto o primeiro monge que resolver o problema que vou apresentar.

Então, ele colocou uma mesinha magnífica no centro da enorme sala em que estavam reunidos e, em cima dela, pôs um vaso de porcelana muito raro, com uma rosa amarela de extraordinária beleza a enfeitá-lo e disse apenas:

- Aqui está o problema!

Todos ficaram olhando a cena. O vaso belíssimo, de valor inestimável, com a maravilhosa flor ao centro. O que representaria? O que fazer? Qual o enigma?

Nesse instante, um dos discípulos sacou a espada, olhou o Mestre, os companheiros, dirigiu-se ao centro da sala e … ZAPT … destruiu tudo, com um só golpe. Tão logo o discípulo retornou a seu lugar, o Mestre disse:

- Você será o novo Guardião do Castelo.

Moral da História: Não importa qual o problema. Nem que seja algo lindíssimo. Se for um problema, precisa ser eliminado. Um problema é um problema. Mesmo que se trate de uma mulher sensacional, um homem maravilhoso ou um grande amor que se acabou. Por mais lindo que seja ou, tenha sido, se não existir mais sentido para ele em sua vida, tem que ser suprimido.

Muitas pessoas carregam a vida inteira o peso de coisas que foram importantes no passado, mas que hoje somente ocupam um espaço inútil em seus corações e mentes. Espaço esse indispensável para recriar a vida. Existe um provérbio oriental que diz: “Para você beber vinho numa taça cheia de chá é necessário primeiro jogar o chá fora, para então, beber o vinho.”

Ou seja, para aprender o novo, é essencial desaprender o velho.


Texto extraído do Saindo da Matrix