segunda-feira, 30 de julho de 2007

Dia das mães

Firmei-me na lua cheia
No grande dia das Mães
Pedindo conforto a meu Pai
E pedindo benção a mamãe


A benção para viver
E colher esta grande família
Para um dia eu apresentar
No Reino da Soberania


Oh! Santa Mãe das Mães
Em todo o Universo impera
Protegei a nossa família
Com minha Mãe que me trouxe em matéria


A doutrina é verdadeira
O Santo Daime em tudo se soma
O Mestre é o de Nazaré
E o mistério é da Amazônia
Mad. Rita

A ignorância da raiva

Imagine-se andando com os braços carregados de compras do supermercado. Então, alguém grosseiramente colide, fazendo você e as compras caírem no chão. Assim que você se levanta da poça de ovos quebrados e massa de tomate, está pronto para gritar: “Imbecil! O que há de errado com você? Está cego?”.

Mas antes mesmo que possa tomar fôlego para falar, você vê que a pessoa realmente é cega. Ele, também, está esparramado na poça. Sua raiva some em um instante, para ser substituída por preocupação bondosa: “Você está machucado? Deixe eu te ajudar”.

Nossa situação é como essa. Quando claramente compreendemos que a fonte da desarmonia e dor no mundo é a ignorância, podemos abrir a porta da sabedoria e compaixão. Então, ficamos em uma posição adequada para curar a si mesmo e aos outros.

Extraído do site Samsara

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Revelação da verdade

CANTO II – Revelação da Verdade

11. Andas triste por algo que tristeza não merece – e tuas palavras carecem de sabedoria. O sábio, porém, não se entristece com nada, nem por causa dos mortos nem por causa dos vivos.

12. Nunca houve tempo em que eu não existisse, nem tu, nem algum desses príncipes – nem jamais haverá tempo em que algum de nós deixe de existir em seu Ser real.

13. O verdadeiro Ser vive sempre. Assim como a alma incorporada experimenta infância, maturidade e velhice dentro do mesmo corpo, assim passa também de corpo a corpo – sabem os iluminados e não se entristecem.

14. Quando os sentidos estão identificados com objetos sensórios, experimentam sensações de calor e de frio, de prazer e de sofrimento – estas coisas vêm e vão; são temporárias por sua própria natureza. Suporta-as com paciência!

15. Mas quem permanece sereno e imperturbável no meio do prazer e do sofrimento, somente esse é que atinge a imortalidade.

16. O que é irreal não existe, e o que é real nunca deixa de existir. Os videntes da Verdade compreendem a íntima natureza tanto disto como daquilo, a diferença entre o ser e o parecer.

17. Compreende como certo, ó Arjuna, que indestrutível é aquilo que permeia o Universo todo; ninguém pode destruir o que é imperecível, a Realidade.

18. Perecíveis são os corpos, esses templos do espírito – eterna, indestrutível, infinita é a alma que neles habita. Por isto, ó Arjuna, luta!

19. Quem pensa que a Alma, o Eu, que mata, ou o Eu que morre, não conhece a Verdade. O Eu não pode matar nem morrer.

20. O Eu nunca nasceu nem jamais morrerá. E uma vez que existe, nunca deixará de existir. Sem nascimento, sem morte, imutável, eterno – sempre ele mesmo é o Eu, a alma. Não é destruído com a destruição do corpo (material).

21. Quem sabe que a alma de tudo é indestrutível e eterna, sem nascimento nem morte, sabe que a essência não pode morrer, ainda que as formas pereçam.

22. Assim como o homem se despoja de uma roupa gasta e veste roupa nova, assim também a alma incorporada se despoja de corpos gastos e veste corpos novos.

23. Armas não ferem o Eu, fogo não o queima, águas não o molham, ventos não o ressecam.

24. O Eu não pode ser ferido nem queimado; não pode ser molhado nem ressecado – ele é imortal; não se move nem é movido, e permeia todas as coisas – o Eu é eterno.

25. Para além dos sentidos, para além da mente, para além dos efeitos da dualidade habita o Eu. Pelo que, sabendo que tal é o Eu, por que te entregas à tristeza ó Arjuna?

26. Se o ego está sujeito às vicissitudes de nascer e morrer, nem por isto deves entristecer-te, ó Arjuna.

27. Inevitável é a morte para os que nascem; todo morrer é um nascer – pelo que, não deves entristecer-te por causa do inevitável.

28. Imanifesto é o princípio dos sêres; manifesto o seu estado intermediário; e imanifesto é também o seu estado final. Por isto, ó Arjuna, que motivo há para a tristeza?

29. Alguns conhecem o Eu como glorioso; alguns falam dele como glorioso; outros ouvem falar dele como glorioso; e outros, embora ouçam, nada compreendem.

30. Eterno e indestrutível é o Eu, que está sempre presente em cada ser. Por isto, ó Arjuna, não te entristeças com coisa alguma.

Bhagavad Gita

quarta-feira, 4 de julho de 2007

O Um contém o Todo

Não é necessário remover nada do que existe. De fato, não há nada que possamos retirar da existência. Se tirássemos uma coisa, teríamos que tirar tudo, por que o um contém o todo. Quando entramos na cozinha num dia de inverno nos sentimos aquecidos e confortáveis. Nossa sensação de calor e conforto não é devida ao fogão que está na cozinha, ela se deve ao frio que está lá fora. Se o tempo fora não tivesse frio, não teríamos a sensação de conforto ao entrar na cozinha quente.

Sentimentos agradáveis são feitos de sentimentos desagradáveis. Sentimentos desagradáveis são feitos de sentimentos agradáveis. Isto é assim por que aquilo é assim. Uma formação mental contém todas as outras formações mentais. Toda semente contém todas as outras. A semente da raiva contém dentro de si a semente do amor. A semente da ilusão contém dentro de si a semente da iluminação. Cada gene de nossas células contém todos os outros genes. Num bom ambiente, um gene nocivo pode lentamente se transformar em um gene saudável. Essa idéia pode abrir muitas portas para modernas terapias.

Esse é o ensinamento do Buda. Quando nos esquecemos deste ensinamento somos arrastados para o mundo de nascimento e morte. Mas quando transformamos nossa distração em plena consciência, vemos que não existe nada que necessitemos rejeitar ou descartar.

Extraído do site Thich Nhat Hanh

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Imitação de Cristo – Livro I – Cap. VI

CAPÍTULO 6

Das afeições desordenadas

1. Todas as vezes que o homem deseja alguma coisa desordenadamente, torna-se logo inquieto. O soberbo e o avarento nunca sossegam; entretanto, o pobre e o humilde de espírito vivem em muita paz. O homem que não é perfeitamente mortificado facilmente é tentado e vencido, até em coisas pequenas e insignificantes. O homem espiritual, ainda um tanto carnal e propenso à sensualidade, só a muito custo poderá desprender-se de todos os desejos terrenos. Daí a sua freqüente tristeza, quando deles se abstém, e fácil irritação, quando alguém o contraria.
2. Se, porém, alcança o que desejava, sente logo o remorso da consciência, porque obedeceu à sua paixão, que nada vale para alcançar a paz que almejava. Em resistir, pois, às paixões, se acha a verdadeira paz do coração, e não em segui-las. Não há, portanto, paz no coração do homem carnal, nem no do homem entregue às coisas exteriores, mas somente no daquele que é fervoroso e espiritual.

Tomás de Kempis

sábado, 30 de junho de 2007

Imitação de Cristo – Livro I – Cap. V

CAPÍTULO 5

Da leitura das Sagradas Escrituras

1. Nas Sagradas Escrituras devemos buscar a verdade, e não a eloquência. Todo livro sagrado deve ser lido com o mesmo espírito que o ditou. Nas Escrituras devemos antes buscar nosso proveito que a sutileza da linguagem. Tão grata nos deve ser a leitura dos livros simples e piedosos, como a dos sublimes e profundos. Não te mova a autoridade do escritor, se é ou não de grandes conhecimentos literários; ao contrário, lê com puro amor a verdade. Não procures saber quem o disse; mas considera o que se diz.
2. Os homens passam, mas a verdade do Senhor permanece eternamente (Sl 116,2). De vários modos nos fala Deus, sem acepção de pessoa. A nossa curiosidade nos embaraça, muitas vezes, na leitura das Escrituras; porque queremos compreender e discutir o que se devia passar singelamente. Se queres tirar proveito, lê com humildade, simplicidade e fé, sem cuidar jamais do renome de letrado. Pergunta de boa vontade e ouve calado as palavras dos santos; nem te desagradem as sentenças dos velhos, porque eles não falam sem razão.

Tomás de Kempis

Uma reflexão sobre o respeito

Aconteceu: Buda estava sentado embaixo de uma árvore falando aos seus discípulos. Um homem se aproximou e deu-lhe um tapa no rosto. Buda esfregou o local e perguntou ao homem:

- E agora? O que vai querer dizer?
O homem ficou um tanto confuso porque ele próprio não esperava que, depois de dar um tapa no rosto de alguém, essa pessoa perguntasse: “E agora?” Ele não passara por essa experiência antes. Ele insultava as pessoas e elas ficavam com raiva e reagiam. Ou, se fossem covardes, sorriam, tentando suborná-lo. Mas Buda não era num uma coisa nem outra; ele não ficara com raiva nem ofendido, nem tampouco fora covarde. Apenas fora sincero e perguntara: “E agora?” Não houve reação da sua parte.
Os discípulos de Buda ficaram com raiva, reagiram. O discípulo mais próximo, Ananda, disse:
- Isso foi demais: não podemos tolerar. Buda, guarde os seus ensinamentos para o senhor e nós vamos mostrar a este homem que ele não pode fazer o que fez. Ele tem de ser punido por isso. Ou então todo mundo vai começar a fazer dessas coisas.
- Fique quieto - interveio Buda - Ele não me ofendeu, mas VOCÊ está me ofendendo. Ele é novo, um estranho. E pode ter ouvido alguma coisa sobre mim de alguém, pode ter formado uma idéia, uma noção a meu respeito. Ele não bateu em mim; ele bateu nessa noção, nessa idéia a meu respeito; porque ele não me conhece, como ele pode me ofender? As pessoas devem ter falado alguma coisa a meu respeito, que “aquele homem é um ateu, um homem perigoso, que tira as pessoas do bom caminho, um revolucionário, um corruptor”. Ele deve ter ouvido algo sobre mim e formou um conceito, uma idéia. Ele bateu nessa idéia.
“Se vocês refletirem profundamente”, continuou Buda, “ele bateu na própria mente. Eu não faço parte dela, e vejo que este pobre homem tem alguma coisa a dizer, porque essa é uma maneira de dizer alguma coisa: ofender é uma maneira de dizer alguma coisa. Há momentos em que você sente que a linguagem é insuficiente: no amor profundo, na raiva extrema, no ódio, na oração.

Há momentos de grande intensidade em que a linguagem pe impotente; então você precisa fazer alguma coisa. Quando vocês estão apaixonados e beijam ou abraçam a pessoa amada, o que estão fazendo? Estão dizendo algo. Quando vocês estão com raiva, uma raiva intensa, vocês batem na pessoa, cospem nela, estão dizendo algo. Eu entendo esse homem. El deve ter mais alguma coisa a dizer; por isso pergunto: “E agora?”
O homem ficou ainda mais confuso! E buda disse aos seus discípulos:
- Estou mais ofendido com vocês porque vocês me conhecem, viveram anos comigo e ainda reagem.
Atordoado, confuso, o homem voltou para casa. Naquela noite não conseguiu dormir. (…)
Na manhã seguinte, o homem voltou lá e atirou-se aos pés de Buda. De novo, Buda lhe perguntou:
- E agora? Esse seu gesto também é uma maneira de dizer alguma coisa que não pode ser dita com a linguagem. (…) - Voltando-se para os discípulos, Buda chamou: – Olhe, Ananda, este homem aqui de novo. Ele está dizendo alguma coisa. Este homem é uma pessoa de emoções profundas.
O homem olhou para Buda e disse?
- Perdoe-me pelo que fiz ontem.
- Perdoar? - exclamou Buda. - Mas eu não sou o mesmo homem a quem você fez aquilo. O Ganges continua correndo, nunca é o mesmo Ganges de novo. Todo homem é um rio. O homem em quem você bateu não está mais aqui: eu apenas me pareço com ele, mas não sou mais o mesmo; aconteceu muita coisa nestas vinte e quatro horas! O rio correu bastante. Portanto, não posso perdoar você porque não tenho rancor contra você.
“E você também é outro”, continuou Buda. “Posso ver que você não é o mesmo homem que veio aqui ontem, porque aquele homem estava com raiva; ele estava indignado” Ele me bateu e você está inclinado aos meus pés, tocando os meus pés; como pode ser o mesmo homem? Você não é o mesmo homem; portanto, vamos esquecer tudo. Essas duas pessoas: o homem que bateu e o homem em quem ele bateu não estão mais aqui. Venha cá. Vamos conversar.”

Extraído do site Vida e Morte

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Imitação de Cristo – Livro I – Cap. IV

CAPÍTULO 4

Da prudência nas ações

1. Não se há de dar crédito a toda palavra nem a qualquer impressão, mas cautelosa e naturalmente se deve, diante de Deus, ponderar as coisas. Mas, ai! Que mais facilmente acreditamos e dizemos dos outros o mal que o bem, tal é a nossa fraqueza. As almas perfeitas, porém, não crêem levianamente em qualquer coisa que se lhes conta, pois conhecem a fraqueza humana inclinada ao mal e fácil de pecar por palavras.
2. Grande sabedoria é não ser precipitado nas ações, nem aferrado obstinadamente à sua própria opinião; sabedoria é também não acreditar em tudo que nos dizem, nem comunicar logo a outros o que ouvimos ou suspeitamos. Toma conselho com um varão sábio e consciencioso, e procura antes ser instruído por outrem, melhor que tu, que seguir teu próprio parecer. A vida virtuosa faz o homem sábio diante de Deus e entendido em muitas coisas. Quanto mais humilde for cada um em si e mais sujeito a Deus, tanto mais prudente será e calmo em tudo.

Tomás de Kempis

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Imitação de Cristo – Livro I – Cap. III

CAPITULO 3

Dos ensinamentos da verdade

1. Bem-aventurado aquele a quem a verdade por si mesma ensina, não por figuras e vozes que passam, mas como em si é. Nossa opinião e nossos juízos muitas vezes nos enganam e pouco alcançam. De que serve a sutil especulação sobre questões misteriosas e obscuras, de cuja ignorância não seremos julgados? Grande loucura é descurarmos as coisas úteis e necessárias, entregando-nos, com avidez, às curiosas e nocivas. Temos olhos para não ver (Sl 113,13).
2. Que se nos dá dos gêneros e das espécies dos filósofos? Aquele a quem fala o Verbo eterno se desembaraça de muitas questões. Desse Verbo único procedem todas as coisas e todas o proclamam e esse é o princípio que também nos fala (Jo 8,25). Sem ele não há entendimento nem reto juízo. Quem acha tudo neste Único, e tudo a ele refere e nele tudo vê, poderá ter o coração firme e permanecer em paz com Deus. Ó Deus de verdade, fazei-me um convosco na eterna caridade! Enfastia-me, muita vez, ler e ouvir tantas coisas; pois em vós acho tudo quanto quero e desejo. Calemse todos os doutores, emudeçam todas as criaturas em vossa presença; falai-me vós só.
3. Quanto mais recolhido for cada um e mais simples de coração, tanto mais sublimes coisas entenderá sem esforço, porque do alto recebe a luz da inteligência. O espírito puro, singelo e constante não se distrai no meio de múltiplas ocupações porque faz tudo para honra de Deus, sem buscar em coisa alguma o seu próprio interesse. Que mais te impede e perturba do que os afetos imortificados do teu coração? O homem bom e piedoso ordena primeiro no seu interior as obras exteriores; nem estas o arrasam aos impulsos de alguma inclinação viciosa, senão que as submete ao arbítrio da reta razão. Que mais rude combate haverá do que procurar vencer-se a si mesmo? E este deveria ser nosso empenho: vencermo-nos a nós mesmos, tornarmo-nos cada dia mais fortes e progredirmos no bem.
4. Toda a perfeição, nesta vida, é mesclada de alguma imperfeição, e todas as nossas luzes são misturadas de sombras. O humilde conhecimento de ti mesmo é caminho mais certo para Deus que as profundas pesquisas da ciência. Não é reprovável a ciência ou qualquer outro conhecimento das coisas, pois é boa em si e ordenada por Deus; sempre, porém, devemos preferir-lhe a boa consciência e a vida virtuosa. Muitos, porém, estudam mais para saber, que para bem viver; por isso erram a miúdo e pouco ou nenhum fruto colhem.
5. Ah! Se se empregasse tanta diligência em extirpar vícios e implantar virtudes como em ventilar questões, não haveria tantos males e escândalos no povo, nem tanta relaxação nos claustros. De certo, no dia do juízo não se nos perguntará o que lemos, mas o que fizemos; nem quão bem temos falado, mas quão honestamente temos vivido. Dize-me: onde estão agora todos aqueles senhores e mestres que bem conheceste, quando viviam e floresciam nas escolas? Já outros possuem suas prebendas, e nem sei se porventura deles se lembram. Em vida pareciam valer alguma coisa, e hoje ninguém deles fala.
6. Oh! Como passa depressa a glória do mundo! Oxalá a sua vida tenha correspondido à sua ciência; porque, destarte, terão lido e estudado com fruto. Quantos, neste mundo, descuidados do serviço de Deus, se perdem por uma ciência vã! E porque antes querem ser grandes que humildes, se esvaecem em seus pensamentos (Rom 1,21). Verdadeiramente grande é aquele que a seus olhos é pequeno e avalia em nada as maiores honras. Verdadeiramente prudente é quem considera como lodo tudo o que é terreno, para ganhar a Cristo (Flp 3,8). E verdadeiramente sábio aquele que faz a vontade de Deus e renuncia a própria vontade.

Tomás de Kempis

Matrix do Bem X Matrix do Mal

Neo: Smith, será que nunca vai ter fim esta nossa luta eterna do bem contra o mal e o sofrimento oriundo dela?

Agente Smith: Neo, você assistiu um filme chamado Sexto Sentido?

Neo: Sim, assisti. É com o Bruce Willis. Ele é um terapeuta.

Agente Smith: Lembra o que o terapeuta faz no filme?

Neo: Lembro sim, ele tenta ajudar um menino a se curar.

Agente Smith: Isto mesmo! E você lembra o que ele descobre no fim do filme?

Neo: Descobre que ele estava equivocado. Na verdade, não era ele que estava ajudando o menino, era o menino que estava ajudado ele?

Agente Smith: Pois é, Neo, tudo aqui na Matrix é assim também.

Neo: O que você quer dizer com isto?

Agente Smith: Ora, você quer salvar os habitantes de Zion, não quer?

Neo: Sim, é pra isto que estou lutando com você.

Agente Smith: E como você poderia salvar os habitantes de Zion se os habitantes de Zion não precisassem ser salvos? Já pensou nisto? É você que está ajudando os patriotas de Zion a serem salvos ou será que são os habitantes de Zion que estão ajudando você a ser o salvador da pátria? Quanto a mim, que sou visto por todos como o diabo desta história, pense bem, se eu não estivesse aqui pra lhe impedir, pra lhe tentar, pra ser um adversário a sua altura, como você poderia ser o grande vencedor da batalha? Sendo assim, acha que meu papel aqui é lhe prejudicar ou lhe ajudar?

Neo: Ops! Estou me sentindo como o Bruce Willis.

Agente Smith: Pois é, Mr. Andersom, está tudo certo! Certíssimo! Na saúde e na doença. A Matrix não erra! O motivo é simples: tudo na Matrix é a Matrix. Não perceber isto é única fonte do seu sofrimento e não nossa luta eterna.

Extraído do site Matrix Zero

terça-feira, 26 de junho de 2007

Imitação de Cristo – Livro I – Cap. II

CAPITULO 2

Do humilde sentir de si mesmo

1. Todo homem tem desejo natural de saber; mas que aproveitará a ciência, sem o temor de Deus? Melhor é, por certo, o humilde camponês que serve a Deus, do que o filósofo soberbo que observa o curso dos astros, mas se descuida de si mesmo. Aquele que se conhece bem se despreza e não se compraz em humanos louvores. Se eu soubesse quanto há no mundo, porém me faltasse a caridade, de que me serviria isso perante Deus, que me há de julgar segundo minhas obras?

1. Renuncia ao desordenado desejo de saber, porque nele há muita distração e ilusão. Os letrados gostam de ser vistos e tidos por sábios. Muitas coisas há cujo conhecimento pouco ou nada aproveita à alma. E mui insensato é quem de outras coisas se ocupa e não das que tocam à sua salvação. As muitas palavras não satisfazem à alma, mas uma palavra boa refrigera o espírito e uma consciência pura inspira grande confiança em Deus.
2. Quanto mais e melhor souberes, tanto mais rigorosamente serás julgado, se com isso não viveres mais santamente. Não te desvaneças, pois, com qualquer arte ou conhecimento que recebeste. Se te parece que sabes e entendes bem muitas coisas, lembra-te que é muito mais o que ignoras. Não te presumas de alta sabedoria (Rom 11,20); antes, confessa a tua ignorância. Como tu queres a alguém te preferir, quando se acham muitos mais doutos do que tu e mais versados na lei? Se queres saber e aprender coisa útil, deseja ser desconhecido e tido por nada.
3. Não há melhor e mais útil estudo que se conhecer perfeitamente e desprezar-se a si mesmo. Ter-se por nada e pensar sempre bem e favoravelmente dos outros, prova é de grande sabedoria e perfeição. Ainda quando vejas alguém pecar publicamente ou cometer faltas graves, nem por isso te deves julgar melhor, pois não sabes quanto tempo poderás perseverar no bem. Nós todos somos fracos, mas a ninguém deves considerar mais fraco que a ti mesmo.

Tomás de Kempis

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Imitação de Cristo – Livro I – Cap. I

Imitação de Cristo é uma obra da literatura devocional, de autor anônimo, publicada no século XV. É a obra mais lida no mundo cristão depois da Bíblia. Seu texto é um auxiliar à oração e às práticas devocionais pessoais. Alguns o consideram um dos maiores tratados de moral cristã. A obra é atribuida ao padre alemão Tomás de Kempis, já que, segundo o Padre Fleury, na edição brasileira da obra, dos 66 manuscritos conhecidos do texto, 60 trazem a assinatura de Tomás de Kempis, entre eles a mais respeitada cópia, conhecida como Kempense, escrita em 1441. (Wikipédia)

A partir de hoje estarei colocando (se possível diariamente) os capítulos desde maravilhoso livro. Boa leitura (e prática!).

CAPÍTULO 1

Da imitação de Cristo e desprezo de todas as vaidades do mundo

1. Quem me segue não anda nas trevas, diz o Senhor (Jo 8,12). São estas as palavras de Cristo, pelas quais somos advertidos que imitemos sua vida e seus costumes, se verdadeiramente queremos ser iluminados e livres de toda cegueira de coração. Seja, pois, o nosso principal empenho meditar sobre a vida de Jesus Cristo.
2. A doutrina de Cristo é mais excelente que a de todos os santos, e quem tiver seu espírito encontrará nela um maná escondido. Sucede, porém, que muitos, embora ouçam frequentemente o Evangelho, sentem nele pouco enlevo: é que não possuem o espírito de Cristo. Quem quiser compreender e saborear plenamente as palavras de Cristo é-lhe preciso que procure conformar à dele toda a sua vida.
3. Que te aproveita discutires sabiamente sobre a SS. Trindade, se não és humilde, desagradando, assim, a essa mesma Trindade? Na verdade, não são palavras elevadas que fazem o homem justo; mas é a vida virtuosa que o torna agradável a Deus. Prefiro sentir a contrição dentro de minha alma, a saber defini-la. Se soubesses de cor toda a Bíblia e as sentenças de todos os filósofos, de que te serviria tudo isso sem a caridade e a graça de Deus? Vaidade das vaidades, e tudo é vaidade (Ecle 1,2), senão amar a Deus e só a ele servir. A suprema sabedoria é esta: pelo desprezo do mundo tender ao reino dos céus.
4. Vaidade é, pois, buscar riquezas perecedoras e confiar nelas. Vaidade é também ambicionar honras e desejar posição elevada. Vaidade, seguir os apetites da carne e desejar aquilo pelo que, depois, serás gravemente castigado. Vaidade, desejar longa vida e, entretanto, descuidar-se de que seja boa. Vaidade, só atender à vida presente sem providenciar para a futura. Vaidade, amar o que passa tão rapidamente, e não buscar, pressuroso, a felicidade que sempre dura.
5. Lembra-te a miúdo do provérbio: Os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos de ouvir (Ecle 1,8). Portanto, procura desapegar teu coração do amor às coisas visíveis e afeiçoá-lo às invisíveis: pois aqueles que satisfazem seus apetites sensuais mancham a consciência e perdem a graça de Deus.

Tomás de Kempis

domingo, 24 de junho de 2007

Humildade

Alguém houve na Terra que nascido na palha não desesperou da pobreza a que o mundo lhe relegara a existência, transformando o berço apagado em poema inesquecível.

Assinalado por uma estrela em sua primeira hora humana, nunca se lembrou disso em meio das criaturas.

Com a sabedoria dos anjos, falava a linguagem dos homens, entretendo-se à beira de um lago em desconforto, com as criancinhas desamparadas.

Trazendo os tesouros da imortalidade no espírito, vivia sem disputar uma pedra onde repousar a cabeça e dispondo da autoridade maior escolhia servir, ao invés de mandar, levantando os doentes e amparando aos aflitos.

Em permanente contato com o Céu, ninguém lhe ouviu qualquer palavra em torno dessa prerrogativa e podendo deslumbrar o cérebro de seu tempo, preferia buscar o coração dos simples para esculpir na alma do povo as virtudes do amor no apoio recíproco.

Esquecido, não se descurava do dever de auxiliar sempre; insultado, perdoava; traído, socorria aos verdugos, soerguendo-lhes o espírito através da própria humildade.

Golpeado em suas esperanças mais belas, desculpava sem condições a quantos lhe feriam a alma Angélica.

Amparando sem paga, ninguém lhe escutou a mais leve queixa contra os beneficiários sem memória a lhe zurzirem a vida e o nome com as farpas da ingratidão.

Vendido por um dos companheiros que mais amava, recebeu-lhe, sereno, o beijo suspeitoso.

Encarcerado e sentenciado, à morte sem culpa, não recorreu à justiça por amor àqueles que lhe escarravam na face, deixando-se sacrificar com o silêncio da paz e o verbo do perdão.

E ainda mesmo depois do túmulo, ei-lo que volta à Terra estendendo as mãos aos amigos que o mal segregara na deserção, reunindo-os de novo em seus braços de luz.

Esse alguém era humilde.

Esse alguém é Jesus.

Por Emmanuel & Francisco Cândido Xavier

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Aliança

Oxalá, Shiva, Juramidam
Nesta noite vão se reunir
Para firmar esta aliança
Eterna para os tempos que hão de vir


Eu sinto o perfume desta flor
Jesus Cristo é meu Mestre Imperador
O Oriente veio pro Ocidente
E foi nele que tudo se encontrou


Eu saúdo os Budas e Orixás
E a glória deles todos dou louvor
No Himalaia, nos Andes, na Floresta
Se escuta o rufar de mil tambor


Oxalá, Shiva, Juramidam
São João foi quem me revelou
E o Mestre no final dos tempos
No Santo Daime todos três unificou


Gustavo

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Deus é seu saber

Para amar e ter amor
É preciso conhecer
Deus em tua mente
Deus é teu saber


Para amar e ter amor
É preciso compreender
Amar a todos seres
Igualmente a você


Quem ama e sabe amar
É um foco de luz
Quem ama a todos seres
Ama a meu Jesus


Para amar e ter amor
É preciso obediência
Amar à Virgem Mãe
E o nosso Pai Onipotente


Pad. Sebastião
Hino em MP3

Carma não é destino fixo

Carma é geralmente confundido com a noção de um destino fixo. Mas é mais como uma acumulação de tendências que podem nos travar em certos padrões de comportamento, que por si só resultam em mais acumulações de tendências de natureza similar. [...]

Ser um prisioneiro de carma antigo não é necessário. [...] Aqui está como o estado desperto muda o carma. Quando você medita, está tirando a permissão para que seus impulsos se transformem em ação. Nesse intervalo, pelo menos, você está apenas observando-os. Olhando para eles, você rapidamente vê que todos os impulsos na mente surgem e passam, que eles possuem sua própria vida, que não são você — mas apenas pensamentos –, e que você não precisa ser comandado por eles. Não alimentando ou reagindo aos impulsos, você passa a compreender diretamente a natureza deles como pensamentos.

Esse processo realmente queima impulsos destrutivos nas chamas da concentração, equanimidade e não-ação. Ao mesmo tempo, insights e impulsos criadores não mais ficam tão espremidos pelos mais turbulentos e destrutivos. Eles são nutridos do modo como são percebidos, mantidos no estado desperto.

Extraído do blog Samsara

sexta-feira, 11 de maio de 2007

A verdade deve ser pregada a todos

O vosso fôlego solto ao vento, certamente, encontrará asilo em algum coração. Não procureis saber a quem pertence o coração. Cuidai apenas de que o alento seja puro.

A vossa palavra procurará e encontrará certamente algum ouvido. Não pergunteis de quem é o ouvido. Cuidai somente de que a palavra seja uma mensageira legítima da liberdade.

O vosso pensamento silencioso certamente moverá alguma língua a falar. Não pergunteis de quem é a língua. Verificai, somente, se o pensamento está cheio de amorosa Compreensão.

Não penseis que algum esforço possa ser desperdiçado. Algumas sementes ficam enterradas por muitos anos, mas, rapidamente, brotam, quando estimuladas pelo alento da primeira estação favorável.

A semente da Verdade está em todos os homens e em todas as coisas. A vossa tarefa não é semear a Verdade, mas preparar a estação favorável para que a semente possa brotar.

Todas as coisas são possíveis na eternidade. Não vos desiludais, portanto, da libertação de quem quer que seja, mas pregai a mensagem da liberdade a todos com a mesma fé e zelo ao que não anseia e ao que anseia por ela, pois aquele que não anseia, certamente virá a ansiar, e os que agora não têm asas, um dia estenderão as suas ao Sol e voarão aos inacessíveis páramos.

O Livro de Mirdad
Mikhail Naimy

domingo, 6 de maio de 2007

O dia em que a terra parou

Essa noite eu tive um sonho de sonhador
Maluco que sou, eu sonhei
Com o dia em que a Terra parou
com o dia em que a Terra parou

Foi assim
No dia em que todas as pessoas
Do planeta inteiro
Resolveram que ninguém ia sair de casa
Como que se fosse combinado em todo
o planeta
Naquele dia, ninguém saiu saiu de casa, ninguém

O empregado não saiu pro seu trabalho
Pois sabia que o patrão também não tava lá
Dona de casa não saiu pra comprar pão
Pois sabia que o padeiro também não tava lá
E o guarda não saiu para prender
Pois sabia que o ladrão, também não tava lá
e o ladrão não saiu para roubar
Pois sabia que não ia ter onde gastar

No dia em que a Terra parou
No dia em que a Terra parou
No dia em que a Terra parou
No dia em que a Terra parou

E nas Igrejas nem um sino a badalar
Pois sabiam que os fiéis também não tavam lá
E os fiéis não saíram pra rezar
Pois sabiam que o padre também não tava lá
E o aluno não saiu para estudar
Pois sabia o professor também não tava lá
E o professor não saiu pra lecionar
Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar

O comandante não saiu para o quartel
Pois sabia que o soldado também não tava lá
E o soldado não saiu pra ir pra guerra
Pois sabia que o inimigo também não tava lá
E o paciente não saiu pra se tratar
Pois sabia que o doutor também não tava lá
E o doutor não saiu pra medicar
Pois sabia que não tinha mais doença pra curar

Essa noite eu tive um sonho de sonhador
Maluco que sou, acordei

Raul Seixas e Claudio Roberto

sexta-feira, 27 de abril de 2007

São João da Cruz

Minha alma está ocupada
E toda minha substância a Seu serviço;
Agora não guardo nenhum rebanho,
Nem tenho qualquer outro emprego:
Minha única ocupação é amor

Se, então, na terra comum
Eu não mais for visto ou encontrado
Você vai dizer que estou perdido
Que, estando enamorado,
Me perdi de mim mesmo; mas ainda assim fui encontrado

Para chegares a saborear tudo,
não queiras ter gosto em coisa alguma.

Para chegares a possuir tudo,
não queiras possuir coisa alguma.

Para chegares a ser tudo,
não queiras ser coisa alguma.

Para chegares a saber tudo,
não queiras saber coisa alguma.

Para chegares ao que não gostas,
hás de ir por onde não gostas.

Para chegares ao que não sabes,
hás de ir por onde não sabes.

Para vires ao que não possuis,
hás de ir por onde não possuis.

Para chegares ao que não és,
hás de ir por onde não és.

São João da Cruz

sábado, 31 de março de 2007

O valor que o Mestre tem

O valor que o Mestre tem
Eu vou esclarecer
Se tiver alguém que duvide
Tome Daime para ver


Meu Mestre veio ao mundo
Nasceu lá no estrangeiro
O valor que o Mestre tem
Não se compra com dinheiro


Meu Mestre é formoso
É preciso acreditar
Eu convido os meus irmãos
Vamos todos acompanhar


Meu Mestre a ti eu peço
Na minha concentração
Para vós me consolar
E consolar meus irmãos


Meu Mestre a ti eu peço
Faça de mim o que quiser
Meu Mestre estou aqui
E te prometo ser fiel


Padrinho Sebastião

terça-feira, 27 de março de 2007

Os véus e os selos

Para penetrardes além dos véus, necessitais de olhos outros que não aqueles dotados de pálpebras, pestanas e sombrancelhas.

Para quebrardes os selos, necessitais de outros lábios que não aqueles da carne, que tendes por baixo do nariz.

Vede em primeiro lugar, correspondentemente, os vossos próprios olhos, se quiserdes ver corretamente as outras coisas. Não com os olhos, mas através deles, deveis olhar para que possais ver aquilo que além dele está.

Falei, primeiro, corretamente, os lábios e a língua, se quiserdes falar corretamente as outras palavras. Não com os lábios e a língua, mas através deles deveis falar, para falardes todas as palavras que além dele estão.

Se não virdes e não falardes corretamente, nada mais vereis senão a vós mesmos e nada mais pronunciareis senão a vós mesmos, porque em todas as coisas e além de todas as coisas, em todas as palavras e além de todas as palavras, estais vós – os que olham, e os que falam.

Se, pois, vosso mundo é um enigma indecifrável, é porque vós mesmos sois enigmas indecifráveis. Se o vosso falar é uma deplorável confusão, é porque vós sois essa deplorável confusão.

Deixai as coisas como elas são e não vos esforceis para modificá-las, porque elas parecem ser o que parecem, devido a vós parecerdes ser o que pareceis. Elas não vêem nem falam, se vós não lhes emprestardes vista e voz. Se elas vos falam asperamente, atentai para vossas línguas. Se vos parecem feias, procurai a fealdade, em primeiro e último lugar, nos vossos próprios olhos.

Não deveis pedir as coisas que se dispam dos seus véus. Tirais vós próprios os vossos véus, e elas perderão os seus. Não peçais às coisas que quebrem os seus selos. Removeis os vossos próprios selos, e todas as coisas perderão os seus.

O Livro de Mirdad
Mikhail Naimy

sábado, 17 de março de 2007

Diálogo com a Sombra

Ele abre a porta da sala com um certo fastio e dá um passo para o lado, a fim de deixar a sombra entrar. A expressão em seu rosto é desolada, uma tristeza contida, uma melancolia resignada. Sabe que sua vida está bloqueada e que não há nada que ele possa fazer para desimpedi-la.

Antes de entrar, a sombra pára na soleira da porta e espia o interior da sala, curiosa. É um vulto escuro, de contornos difusos e, mesmo assim, seu rosto, desprovido de olhos, nariz ou boca, consegue expressar cada pequena nuance de emoção. A sombra é alta, mais alta que ele, e esguia. Seus movimentos são graciosos, espontâneos e amplos, num agudo contraste com os modos contidos do dono do apartamento.

- É um cafofo simpático, o que você tem aqui – diz a sombra, com aparente sinceridade, mas deixando entrever uma certa nota de ironia na voz.

- É, eu gosto de viver aqui – ele responde, numa voz sem entonação.

- Se importa se eu sentar? – antes mesmo que ele responda, a sombra já se encaminha para o sofá.

- O que você quer aqui? – ele pergunta, não inteiramente satisfeito com os modos despachados da sombra.

- Não sei, foi você que me chamou.

- Eu?

- Fiquei até surpreso. Você sempre me ignorou, nunca quis falar comigo, nem sequer olha na minha cara. E de repente, do nada, me pede pra vir aqui.

- Quando foi que eu pedi pra você vir?

A sombra dá uma risada.

- No momento em que abriu a porta.

- Mas foi você quem tocou a campainha! – ele protesta.

- Há anos que eu venho tocando essa campainha, e você nunca atendeu – retruca a sombra, com simplicidade. – Se abriu agora, só posso presumir que você precisa de mim.

- Por que eu precisaria? – diz ele, com uma perplexidade crescente.

- Ora vamos, não vai me dizer que você está satisfeito com a sua vida!

- Podia ser melhor, mas também podia ser pior. No geral, eu diria que, sim, estou bastante satisfeito.

A sombra dá de ombros, como se o assunto todo não lhe tivesse o menor interesse.

- Você diz uma coisa, teu rosto diz outra. Em quem eu devo acreditar?

- O que me importa isso? – ele agora começa a demonstrar uma certa irritação.

- Ah, mas importa, sim! – a sombra levanta e caminha até ele, que continua parado junto à porta, sem se decidir a fechá-la.

- Entenda, eu posso diminuir a sua dor. Tudo o que você tem a fazer é pedir.

- Como você faria isso?

- Eu tenho reservas praticamente inesgotáveis de energia.

- E tudo isso será meu, se eu te adorar? – ele cita, as palavras vibrando de ironia.

- Acho que você está confundindo um pouco as coisas. Eu não sou desses.

- Ah, não? Então, o que você é?

- Uma sombra, não está vendo?

- Sombra de quem? Sombra do quê?

A sombra torna a gargalhar, aproximando sua boca invisível do ouvido dele.

- Não é óbvio? Tua sombra! De quem mais seria? – depois de cochichar essas palavras, ela vai até o centro da sala, sobre o tapete decorado com motivos indígenas, e abre os braços, dramaticamente:

- E como sua sombra, eu obviamente tenho tudo o que lhe falta.

- O que é que me falta?

- Energia, já disse. Disposição, ânimo. Garra. Ambição.

- Não quero ser ambicioso.

- Ah, mas você é ambicioso! Apenas não reconhece isso.

Ele não responde.

- A ambição não é necessariamente uma coisa ruim. Jesus Cristo era ambicioso.

- Cristo?

- Salvar o mundo, quer projeto mais ambicioso que esse?

- Isso eu também quero.

- Então, precisa aprender a aceitar sua cruz. É o preço que se pega.

- Qual é a minha cruz?

- Eu sou a sua cruz! – a sombra o encara como se estivesse falando com o aluno retardado da classe, aquele que é o último a perceber o óbvio ululante.

- Então, aceitar você é o preço a pagar pra que você me ajude.

- Parece justo, não parece?

Ele pondera:

- E o que exatamente você ganha com isso?

- A sua companhia, claro! Admito que não é uma companhia das mais brilhantes, mas é melhor do que o fosso sem luz onde eu habitualmente vivo…

- Parece fácil.

- As coisas nem sempre são o que parecem.

- Não é fácil?

- Também não disse que é difícil.

- Estou confuso.

- Pra quem sempre teve tantas certezas, estar confuso é um bom sinal.

Ele não parece convencido. A sombra torna a se aproximar, coloca uma mão amigável em seu ombro:

- Vamos fazer o seguinte. Você me deixa ficar por uns dias e vê como as coisas rolam. Se gostar, eu continuo. Do contrário, pode me mandar de volta. – Faz uma pausa, espera que ele absorva a proposta. – Feito?

- Quem me garante que você vai mesmo embora se eu quiser?

- Não confia em mim?

- Não.

- Faz bem. Eu também não confio em você. Então, estamos quites – estende a mão para ele: – Feito? – repete.

Ele suspira e aperta a mão que a sombra lhe estende.

- Tenho a impressão de que este é o início de uma bela amizade! – comemora a sombra.

Ele fecha a porta. A sombra permanece na sala.

Extraído do site O Franco-Atirador

sexta-feira, 16 de março de 2007

O dia do juízo

Mirdad fala a Bennoon:

Cada dia, Bennoon, é um Dia de Juízo. A conta corrente de cada criatura entra em balanço a cada abrir e fechar de olhos. Nada fica escondido, nada deixa de ser pesado.
Não há pensamento, ação ou desejo que não seja registrado no pensador, no agente ou no que desejou. Nenhum pensamento, nenhum desejo, nenhuma ação ficam estéreis neste mundo, mas todos se reproduzem de acordo com a sua espécie e a sua natureza. Tudo o que está de acordo com a Lei de Deus é colhido para a Vida. Tudo o que a ela se opõe é colhido para a Morte.

Os teus dias não são todos iguais. Bennoon. Alguns são serenos; são a colheita de horas bem vividas. Alguns são nublados; são o dádiva das horas meio-adormecidas na Morte e meio-alertas na Vida. Há outros que se fustigam na tormenta, com coriscos nos olhos e trovões nas ventas. Esmagam-te de cima; chicoteiam-te de baixo; atiram-te para a direita e para a esquerda; achatam-te de encontro ao solo e fazem-te comer o pó e desejares jamais haver nascido. Esses são os frutos das horas gastas em oposição propositada à Lei.

Assim é o mundo. As sombras que já ameaçam desde os céus não são em nada menos sinistras do que aquelas que anunciaram o Dilúvio. Abri os vossos olhos e vede.

Quando observais as nuvens caminhando para o Norte, sopradas pelo vento Sul, dizeis que elas trazem chuva. Por que não sois tão sábios em observar a direção para a qual caminham as nuvens humanas? Não podeis ver até que ponto os homens se enrascaram nas suas próprias redes?

O dia de desenrascar está próximo. E que dia de prova vai ser!

As redes dos homens têm sido tecidas com veias do coração e da alma, durante muitos, muitíssimos séculos. Para livrar os homens das suas próprias redes, será preciso rasgar-lhes as carnes; o próprio tutano dos seus ossos terá de ser esmagado. E os próprios homens terão de rasgar, eles mesmos, as suas carnes e esmagar, eles mesmos, os seus ossos.

Quando as tampas forem levantadas – como certamente serão – e quando as panelas despejarem os seus conteúdos – como certamente o farão – onde esconderão os homens a sua vergonha e para onde fugirão?

Nesse dia os vivos invejarão os mortos, e os mortos amaldiçoarão os vivos. As palavras dos homens lhes ficarão presas na garganta, e a luz se congelará nas suas pálpebras. De seus corações sairão escorpiões e víboras, e eles gritarão, atemorizados: “De onde vêm estas víboras e estes escorpiões?”, esquecidos de que os haviam criado e alojado em seus corações.

O Livro de Mirdad
Mikhail Naimy

quarta-feira, 7 de março de 2007

A rosa

Há muitos, muitos anos, num lugar muito longe e triste, havia uma enorme montanha feita de pedras escuras e ásperas.

Ao cair da tarde, no topo dessa montanha, toda noite uma rosa desabrochava e fazia de quem a pegasse imortal. Mas ninguém ousava chegar perto dela porque seus espinhos estavam cheios de um veneno mortal.

Os homens conversavam entre si sobre seu medo da morte, e da dor, mas nunca sobre a promessa da imortalidade.

Então todo dia, a rosa desabrochava sem poder oferecer seus dons a ninguém.

Esquecida e perdida no topo daquela montanha fria e escura, para sempre sozinha, até o fim dos tempos.

Do filme O Labirinto do Fauno

segunda-feira, 5 de março de 2007

Espada do perdão

Estou aqui, eu vivo aqui
Que o Meu Pai me mandou
Estou representando ele
E o Nosso Mestre Ensinador


Vivo aqui, vou por ai
Com ordem Superior
Sempre cantando louvando
O mestre que nos ensinou


Vos ensino com Amor
Vamos buscar na miração
O conforto Nosso Pai
A firmeza Nossa Mãe


Alinhado com as Forças
Somos sábio batalhão
Na batalha quem mais corta
É a espada do perdão


Padrinho Alfredo

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Faxina

Conta-se que muitos anciãos discutiam sobre o significado da vida, porque surgia o desejo e o sofrimento, mas o mais velho ancião permaneceu calado.

Depois de muito tempo alguém incomodado com o seu silêncio perguntou o que ele achava de toda aquela discussão e ele repondeu:

- Amigos, já é tarde e a noite cai. Devo ir para casa e fazer minha faxina…

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Os viajantes

Uma vez viajavam juntos um monge,um bandido, um pintor, um avarento e um sábio. Uma tarde ao cair da noite, abrigaram-se numa gruta.
- Não se encontraria lugar mais próprio para um eremitério! exclamou o monge
- Que ótimo refúgio para salteadores! diz o bandido
O pintor murmurou: – Que motivo para o pincel estas rochas e estes jogos de luz do archote com as sombras!
O avarento observou, por sua vez: – Mas que sítio excelente para esconder um tesouro!
O sábio escutava-os; por fim exclamou:
- Que bela gruta!

Texto extraído do blog Samsara

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Os livros e o rei

Existia, há muito tempo atrás, uma ilha muito grande que pertencia a um reino.

Nesta ilha havia muitas tribos diferentes, cada uma com seu próprio governador, idioma, costumes, vestimentas, etc. Os povos que habitavam esta ilha eram realmente muito diferentes entre si e tinham uma certa dificuldade para aceitar essas diferenças.

O reino no qual estava a ilha, era regido por um Rei muito sábio, justo e que apesar da distância, amava muito as tribos que lá viviam.

Todos, de todas as tribos, amavam muito o Rei, mas não podiam ir ao seu encontro pois a ilha ficava muito distante. Pediam freqüentemente ao Rei que algo fosse feito para que eles pudessem chegar à sede do reino e estarem mais próximos daquele que tanto amavam.

O Rei, atendendo os pedidos, decidiu construir uma ponte.

Porém havia dois problemas: o primeiro era a distância. Como a ilha ficava um pouco afastada do continente, seria preciso construir uma ponte muito longa e para isso todos os habitantes da ilha deveriam trabalhar juntos. E aí surgia o segundo problema: as tribos falavam línguas diferentes.

Mas o Rei, que era muito sábio, chamou seu melhor engenheiro e mandou que ele fosse à ilha ensinar os homens das tribos a construir a ponte.

O engenheiro percebeu que não seria fácil unir todas as tribos devido às diferenças que existiam em cada uma. Além do mais ele era um estranho e as pessoas não estariam muito receptivas a estranhos…

Então ele teve uma idéia! Antes de ir a cada tribo, o engenheiro observaria cada uma delas, aprenderia sua língua, seus costumes, seu modo de se vestir e só então partiria para a viagem.

Chegava em cada tribo como se fosse um deles. Falava o mesmo idioma, se vestia da mesma forma, tinha os mesmos costumes e até adotava um nome diferente para si em cada visita; e então o povo conseguia aceitar e entender o engenheiro, que se empenhava em ensinar com detalhes como eles deveriam construir a ponte que ligaria a ilha ao continente.

Todos os ensinamentos do engenheiro eram anotados em um livro para que, no momento da construção, eles não esquecessem nem errassem nenhuma das lições. Eram livros muito importantes para todos, pois todas as tribos precisariam trabalhar juntas para construir a ponte. Apesar disso, o engenheiro nunca quis escrever um manual, preferia ensinar com palavras e com demonstrações práticas.

Assim que terminava de ensinar, o engenheiro partia para uma nova missão, mas não sem antes prometer voltar para ver a obra de cada um.

E assim foi até a última tribo. Todas elas receberam as lições do engenheiro. Todas aprenderam a construir a ponte. Todas escreveram seu próprio livro. Livros escritos em épocas diferentes, em línguas diferentes, por tribos diferentes, com títulos diferentes mas todos possuíam o mesmo ensinamento: a construção da ponte.

Chegou então o grande dia! Toda a ilha estava em festa! Iriam começar a construção da sonhada ponte!

Os governantes de cada tribo começaram a dar as orientações que estavam no livro, mas algo estranho aconteceu.

Cada tribo começou a achar que apenas o seu livro estava correto. Dizia que os livros das outras tribos eram fraudes, que quem os escreveu não sabia nada sobre construção de pontes e que o seu – apenas o seu – livro possuía os ensinos do verdadeiro engenheiro do Rei. O livro passou a ser mais importante que a construção. Passaram mais a discutir que a construir. As bocas trabalhavam mais que as mãos. Definitivamente não se entendiam; a discórdia surgiu e as ofensas partiam de todos para todos.

Esta situação durou vários anos, muitas tribos entraram em guerra e várias pessoas morreram. A ponte não foi construída e os homens ao invés de se aproximarem do Rei, se afastavam cada dia mais.

O Rei, sabendo de tudo o que estava acontecendo na ilha, resolveu mandar novamente seu engenheiro. Mas desta vez seria diferente…

O engenheiro do Rei voltou à ilha e se apresentou a todos os moradores. Falava a língua oficial do reino. A Linguagem Universal. Poucos sabiam falar essa língua, mas todos conseguiam compreender perfeitamente cada palavra.

Todos ficaram muito espantados, pois apesar de não estar vestido como cada tribo estava acostumado e estar falando a língua oficial, reconheceram imediatamente aquele engenheiro e lembraram da sua promessa de voltar.

Contudo, o que mais espantou aquelas pessoas, foi o que o engenheiro disse.

Falou que os livros eram apenas letras impressas; que os homens das tribos se preocuparam em gravar as palavras nos papéis, mas deveriam ter gravado as palavras nos corações; olhavam apenas para seus livros, quando deveriam olhar uns para os outros e finalmente, que esqueceram seu objetivo principal que não era construir a ponte e sim, chegar ao Rei.

Então, convidou todos a queimarem seus livros, fazerem uma grande fogueira com eles para quem sabe, esquentar um pouco seus corações…

Lá de longe o Rei viu o brilho da fogueira e sorriu.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

O que buscais?

Jesus, ao começar o seu ministério, quis responder aos mais profundos desejos humanos.

Estando só nas margens do rio Jordão, Jesus percebeu que dois homens o seguiam… Sentiu, atrás dos seus passos, o caminhar de uns homens que procuravam alguma coisa. Era a humanidade em busca. Nesses passos ressoava a longa marcha de Israel pelos desertos, querendo chegar à Terra Prometida. Nesses passos havia um eco de tantos pobres e profetas à espera do Messias.

Pressentia que ali havia matéria para formar apóstolos. Voltou-se para eles e lhes perguntou: O que buscais?

Pensemos sobre esta primeira pergunta do Evangelho que tem valor mais além das circunstâncias em que foi feita. Pode nos ajudar, agora, a orientar nossas próprias caminhadas.

O que buscais? Por trás destas palavras, Jesus desejava saber até onde queriam ir estes homens, e porque abandonavam o que lhes dava segurança em suas vidas. Porque deixavam seu antigo mestre, o Batista.

Jesus, que no Evangelho, ensinou com perguntas, volta-se também para cada um de nós, porque quer saber atrás de que coisas andamos. O que realmente, queremos? No nosso trabalho, na nossa família, quando vamos repousar ou quando discutimos política, o que procuramos? Vale à pena fazer o que estamos fazendo? Nosso caminhar nos leva a algum lugar?

O problema não é só pessoal. Também a sociedade como um todo o enfrenta. O que procura uma sociedade ? Quais são nossas metas como povo? Se queremos desenvolvimento, em que tipo de progresso estamos, de fato, interessados? Quando nos impomos – e, muito mais, quando nos impõem – sacrifícios, o que se pretende? Qual era nosso projeto verdadeiro quando nos decidimos voltar à democracia na América Latina? Queríamos liberdade, a igualdade de oportunidades e direitos, a justiça, a verdade?

As utopias e sonhos determinam uma parte importante de nossos esforços. Uma sociedade sem metas é uma sociedade estagnada. Do mesmo modo uma sociedade que proclama uns objetivos que, na realidade, não deseja, mais cedo ou mais tarde, se sentirá duramente decepcionada …

O ser humano é mestre em esconder-se, em camuflar seus desejos. Um dos primeiros frutos do pecado, que Adão provou foi sua necessidade de esconder-se. E Deus lhe foi ao encontro com uma pergunta dilacerante, que é um chamado à verdade: Adão, onde estais? (Gn 3,9). Chamou-o a ousar sair da moita que o escondia e enfrentar sua própria realidade. As ideologias, as meias verdades, as paixões humanas tornam muito difícil para o indivíduo e a sociedade terem ânimo de dizer, realmente, o que buscam….

Um dos grandes desafios educacionais de nosso tempo é ensinar a sonhar, a buscar, a ter metas, que valham à pena, e dar liberdade para que se possa dar início à caminhada. O que uma pessoa busca define o caminho a ser percorrido e, até, anuncia o que vai encontrar. A busca orienta a marcha. Que nada busca, não só andará errante, mas perde o rumo e não alcançará nenhuma meta.

Com inúmeras variantes, o ser humano tem traçado “o caminho real” de sua vida. Este caminho o fez sair de Deus, seu Criador, e o conduz até se encontrar, um dia, diante do rosto do Senhor, que é Pai e o fim de todos os cuidados. Se a senda escolhida não termina à porta de Deus, o ser humano terá errado a propósito de sua mais profunda vocação. Tudo o que ele tem, tudo o que ele é, tudo o que ele faz deve firmar seu passo para chagar a Deus.

Mas é muito bom ter em conta que, se estamos na busca, é porque, muito antes, nosso Senho anda nos procurando, como demonstrou já no Gênesis. É ele quem nos procura apaixonadamente, quem nos quer encontrar. Este encontro, contudo, nunca poderá se dar na liberdade se não nos pomos a caminho. Nunca ele desprezará nossa liberdade.

Consola constatar que todos os caminhos humanos, por errados que sejam, se cruzam, alguma vez, com o Caminho da Vida verdadeira, se temos coragem de reorientar nossos passos. Por isto é bom aceitar que ressoe em cada um de nós a pergunta de Jesus: O que buscais? Nunca é tarde para responder.

Fernando Montes, SJ
trad. R. Paiva, SJ

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Caminhos

Você me pergunta
Aonde eu quero chegar
Se há tantos caminhos na vida
E pouca esperança no ar
E até a gaivota que voa
Já tem seu caminho no ar
O caminho do fogo é a água
O caminho do barco é o porto
O do sangue é o chicote
O caminho do reto é o torto
O caminho do bruxo é a nuvem
O da nuvem é o espaço
O da luz é o túnel
O caminho da fera é o laço
O caminho da mão é o punhal
O do santo é o deserto
O do carro é o sinal
O do errado é o certo
O caminho do verde é o cinzento
O do amor é o destino
O do cesto é o cento
O caminho do velho é o menino
O da água é a sede
O caminho do frio é o inverno
O do peixe é a rede
O do pio é o inferno
O caminho do risco é o sucesso
O do acaso é a sorte
O da dor é o amigo
O caminho da vida é a morte!

“E voce ainda me pergunta:
aonde é que eu quero chegar,
se há tantos caminhos na vida
e pouquíssima esperança no ar!
E até a gaivota que voa
já tem seu caminho no ar!”

O caminho do risco é o sucesso
O do acaso é a sorte
O da dor é o amigo
O caminho da vida é a morte!

Raul Seixas / Paulo Coelho

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

O ideal de uma religião universal

Unidade na variedade é o plano do Universo. Somos todos homens e ainda assim somos distintos uns dos outros. Como parte da humanidade sou uno com você, mas como Sr. Fulano de Tal sou diferente de você. Como homem você está separado do animal, mas como seres vivos, homem, mulher, animal e planta são todos unos; e como existência você é uno com todo o Universo. Essa existência universal é Deus, a Unidade última no Universo. Nele, todos nós somos um. Ao mesmo tempo, na manifestação, as diferenças têm de permanecer. Deverão sempre permanecer em nossas ações, em nossa capacidade enquanto se manifestam externamente. Vemos, então, que é completamente impossível a idéia de uma religião universal significar que toda a humanidade deve acreditar num único conjunto de doutrinas. Isto jamais poderá acontecer, nunca haverá tempo em que todos os rostos serão iguais. Insisto, se esperamos que haverá uma só mitologia universal, isso também é impossível, não pode ser assim. Tampouco poderá haver um único ritual universal. Tais coisas jamais virão a acontecer; se um dia pudessem existir, o mundo seria destruído porque a variedade é o primeiro princípio da vida.

O que nos dá o caráter de seres? A diferenciação. O equilíbrio perfeito seria nossa destruição. Suponha que a quantidade de calor nessa sala, cuja tendência é a difusão perfeita e uniforme, alcançasse este tipo de difusão, então, para todos os fins práticos, o calor deixaria de existir. O que torna o movimento possível nesse universo? A perda do equilíbrio. A unidade somente poderá existir quando este universo for destruído, caso contrário, tal fato é impossível. Não apenas isso, seria perigoso se acontecesse. Não devemos desejar que todos pensemos igual. Se assim fosse não haveria pensamento a ser pensado. Seríamos todos idênticos como múmias egípcias em um museu: umas frente às outras sem um pensamento sequer a ser pensado. É essa a diferenciação, essa perda de equilíbrio entre nós que representa a própria alma de nosso progresso, a alma de nossos pensamentos. E assim deverá prosseguir.

O que, então, quero dizer com o ideal de uma religião universal? Não pretendo nenhuma filosofia, mitologia ou ritual universal que seja idêntico para todos, porque sei que esse mundo deve continuar em funcionamento, essa complicada engrenagem, esse intrincado conjunto de maquinária por demais complexo e maravilhoso. O que podemos fazer então? Podemos fazer com que funcione suavemente, podemos diminuir o atrito como se engraxássemos as engrenagens. Como? Reconhecendo a necessidade natural da variedade. Da mesma forma como reconhecemos que a unidade é a nossa própria natureza, devemos reconhecer a multiplicidade. Temos de aprender que a verdade pode ser expressa em milhares de formas, e que cada uma delas é a verdadeira enquanto existir. Temos que aprender que a mesma coisa pode ser vista de uma centena de ângulos e, ainda assim, continuar sendo a mesma coisa… Através de uma filosofia superior ou inferior, através da mais exaltada mitologia ou da mais crassa, através do ritualismo refinado ou do fetichismo inqualificado, cada seita, cada alma, cada nação, cada religião, consciente ou inconscientemente, estão se esforçando para elevar-se em direção a Deus; cada visão que o homem tem na verdade, é uma visão d’Ele e de ninguém mais. Suponha que fôssemos buscar água num lago, cada qual com um recipiente nas mãos: um traz uma xícara, outro um pote, outro um balde, e assim por diante. No entanto, cada um de nós traria água e nada além de água em cada recipiente. O mesmo se dá com a religião. Nossas mentes são como esses recipientes e cada um de nós está se esforçando para chegar à realização de Deus. Deus é como a água que preenche os diferentes recipientes, e em cada um a visão de Deus vem no formato de seu recipiente. Ainda assim Ele é Um. Ele é Deus em todos os casos. Esse é o único reconhecimento da universalidade a que podemos chegar.

Trechos retirados de “The complete Works of Swami Vivekananda”, vol. 2, pp.38l-384. Advaita Ashrama, Calcutá, Índia

domingo, 28 de janeiro de 2007

Saber ouvir

Tão importante quanto saber falar, é saber ouvir. Muitas vezes somos traídos pela tendência de falar sem pensar. Podemos dizer que saber ouvir caminha ao lado de saber falar; sugiro agora uma pequena reflexão: quantas vezes respondemos antes que nosso interlocutor tenha concluído seu pensamento?

Quantas vezes começamos a ficar impaciente enquanto o outro procura fazer-se entender?

Quantas vezes apressamos, monopolizamos paralisamos os que tentam exprimir seus pensamentos, com a nossa expressão facial de desaprovação, invalidação, menosprezo e desqualificação?

Quantas vezes já fizemos com que o outro parasse de falar, por sentir que não adianta tentar completar seu pensamento?

Baseado nessa reflexão como estão suas relações interpessoais?

Saber ouvir exige que façamos opção consciente em apreender o que se passa com o outro, de forma solidária e sem preconceitos, com o objetivo de buscarmos o entendimento.

O diálogo nem sempre é uma tarefa fácil, pois envolve a disponibilidade para aprender novas idéias, quando antes gostaríamos de ensinar; humildade para reconhecer que não somos perfeitos e que não sabemos tudo a respeito de todos os assuntos e admitir a coerência de fundamentos e idéias que não são nossos.

Ouvir é muito diferente do ato de escutar. Escutar é o uso puro e simples do sentido da audição e só não escuta quem é surdo. Ouvir vai além do simples ato de escutar, é uma ação mais profunda pois nos envolve por inteiro e é um processo ativo, ao contrário do que muita gente imagina.

É também, a mais extraordinária das artes a ser dominada pelo homem. ouvir é renunciar! Vivemos imersos em cogitações pessoais e é raro conseguirmos passar algum tempo sem pensar em nós mesmos. Talvez por essa razão a maioria das pessoas ouça tão mal, ou simplesmente não ouça.

Sugiro alguns pontos que podem lhe ajudar a ser um melhor ouvinte:

-Fale menos, pois você não pode ouvir enquanto estiver falando.
-Deixe o outro terminar suas frases sem interrompê-lo.
-Ouça sem ficar contra-argumentando internamente, isto dificulta a sua compreensão.
-Acalme a sua mente! Não discuta mentalmente enquanto ouve!
-Controle suas emoções, pois elas podem constituir sérias barreiras à comunicação eficaz.
-Coloque-se no lugar do outro para poder compreender o que ele está dizendo.
-Pergunte quando não entender, quando sentir que precisa de mais esclarecimentos; e também quando desejar mostrar que está escutando.
-Reaja às idéias e não à pessoa.
-Discordância não é sinônimo de rejeição.
-Evite julgamentos precipitados, espere até que todos os fatos sejam colocados antes de fazer qualquer julgamento. Quando os fatos colocados o abalarem emocionalmente, diga que vai esperar algum tempo antes de responder, aproveite esse tempo para refletir e só depois responder. Quando compreendemos o outro, muitas vezes passamos a nos compreender melhor.
-Olhe nos olhos enquanto conversa e encoraje o outro a continuar falando.
-Não converse assistindo à televisão ou lendo um jornal, alem de falta de respeito e de educação, desestimula o diálogo e impele o outro a buscar outras pessoas para falar (até mesmo sobre você).

Saber ouvir leva tempo, prática e paciência. É uma arte que mantêm vivos o respeito, a afeição, a amizade, o sentimento de confiança que o outro deposita em nós. Faz com que nossos clientes, colegas de trabalho, filhos, cônjuges e namorados, sintam-se como pessoas importantes e amigos privilegiados.

Assuma, hoje mesmo, um compromisso de falar menos e ouvir melhor.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

O barco

Um homem está curtindo a madrugada em um barco num rio. Ele vê outro barco chegando em sua direção. A princípio, parece tão bom que mais alguém também está apreciando o rio em uma noite de verão. Então ele percebe que o barco está vindo exatamente na sua direção, cada vez mais rápido. Ele começa a ficar perturbado e passa a gritar: “Ei, cuidado! Pelo amor de Deus, vire pro lado!”. Mas o barco apenas acelera mais, bem em sua direção. A essa altura ele está em pé no barco, gritando e balançando os punhos. E o barco estraçalha tudo bem em cima dele. Ele ainda consegue ver que era um barco vazio.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Universalismo

Por meio da transparência da minha meditação mais profunda, sentirei a luz do Pai permeando todo o meu ser. Serei um filho de Deus, como Jesus o foi, sentindo-O plenamente através da minha consciência expandida pela meditação. Seguirei os pastores da fé, da devoção e da meditação, que me guiarão através da estrela de sabedoria interior até o Cristo onipresente.

Nos homens superficiais, o peixe dos pequeninos pensamentos provoca imenso tumulto. Nas mentes oceânicas, as baleias da inspiração mal encrespam a superfície.

Não graceje o tempo todo com os outros. Seja feliz e jovial por dentro. Por que dissipar em conversa inútil as percepções que você ganhou? Palavras são como balas: quando você gasta sua força em conversas frívolas, seu estoque de munição interna é desperdiçado. Sua consciência é como um balde de leite: quando você a enche com a paz da meditação, deve mantê-la assim. Gracejos geralmente são falsas diversões que perfuram buracos nas laterais do seu balde e fazem com que todo o leite de sua paz seja derramado.

O lugar mais amado por Deus é o templo interior de silêncio e paz de Seus devotos. Sempre que você entrar aqui, neste lindo templo, deixe a inquietude e as preocupações para trás. Se não se despojar delas, Deus não poderá vir a você.

O que toda religião deveria dar a seus seguidores é a percepção da Verdade, a experiência de Deus – e não meros dogmas.

A unidade das várias religiões só poderá se concretizar quando seus praticantes tornarem-se realmente conscientes de Deus dentro de si mesmos. Teremos, então, uma verdadeira fraternidade de homens sob a Paternidade de Deus.

Não é pela concentração em dogmas que poderemos alcançar Deus, e sim pelo verdadeiro conhecimento da alma… Para mim, não existem judeus, cristãos ou hindus; todos são meus irmãos. Eu presto adoração em qualquer templo, pois todos foram construídos em honra de meu Pai.

A verdadeira prática da religião consiste em sentar-se quieto, em meditação, e conversar com Deus… A maioria dos freqüentadores de igrejas não consegue ficar sentada quieta por uma hora, a não ser que alguma atividade esteja ocorrendo o tempo todo, para distrair suas mentes.

Não há forma de serviço maior que falar de Deus. Se você convencer alguém de que o caminho do erro leva ao vale da morte e que o caminho da meditação, à vida eterna, terá dado algo mais valioso do que um milhão de dólares. O dinheiro é perecível, mas a realização divina nos acompanhará além dos portais do túmulo.

As pessoas mundanas buscam as dádivas de Deus, mas o sábio busca o próprio Doador.

Abre-se a eternidade abaixo, acima, à direita, à esquerda, à frente, por detrás, dentro e fora de mim. Com os olhos abertos me contemplo como um corpo pequeno. Porém, se fecho os olhos, percebo-me como o centro cósmico ao redor do qual giram a esfera da eternidade, a esfera da bem-aventurança e a esfera do onipotente, onisciente e vivente espaço.

Paramahansa Yogananda

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Compadecida

Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo morre.


Ariano Suassuna

Sobre a dor

E uma mulher falou e disse, Fala-nos da Dor.
E ele respondeu:
A vossa dor é o quebrar da concha que envolve a vossa compreensão.
Assim como o caroço da fruta tem de fender-se para que o seu coração fique exposto ao sol, também vós deveis conhecer a dor.
E se conseguisseis maravilhar-vos com os milagres diários da vossa vida, a vossa dor não vos pareceria menos intensa do que a vossa alegria;
E aceitarieis as estações do vosso coração, tal como haveis aceito as estações que passam sobre o vossos campos.
E passarieis com serenidade os invernos das vossas mágoas. Muita da vossa dor é escolhida por vós.
É a poção amarga com a qual o médico dentro de vós cura o vosso interior doente.
Por isso confiai no médico e bebei o seu remédio em silêncio e tranquilidade:
Pois a sua mão, embora dura e pesada, é guiada pela mão terna do Invisível,
E o cálice que ele vos dá, embora possa queimar os vossos lábios, foi feito com o gesso que o Oleiro humedeceu com as Suas lágrimas sagradas.

O Profeta
Gibran Kalil Gibran

domingo, 14 de janeiro de 2007

Liberação

Como é possível para um homem liberar outro do apego do Mundo?
Só Deus, o Criador deste mundo de Maya, pode salvar um homem de Maya.
Não há outro refúgio que não seja o grande professor Sat Chit Ananda
(existência-sabedoria-felicidade absolutas).
Como é possível para os homens que não realizaram Deus ou receberam Seu
comando, e que não estão fortalecidos com a força divina, salvar outros
desta casa-prisão que é o mundo?

Sri Ramakrishna

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Lobos e cordeiros

Morará o lobo com o cordeiro,
E o leopardo com o cabrito se deitará;
E o bezerro, e o leão novo e o animal cevado viverão juntos;
E um menino pequeno os conduzirá.
A vaca e a ursa pastarão juntas,
E as suas crias juntas se deitarão;
E o leão comerá palha como o boi.
A criança de peito brincará sobre a toca da áspide,
E a desmamada meterá a sua mão na cova do basilisco.
Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte;
Porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor,
Como as águas cobrem o mar.

Isaías 11: 6-9

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Interexistência

Quando examinamos o coração de uma flor, vemos nele as nuvens, a luz do sol, os minerais, o tempo, a terra e todas as outras coisas que existem no universo. Sem as nuvens não poderia haver chuva, e não existiria nenhuma flor. Sem o tempo a flor não poderia desabrochar. Com efeito, a flor é totalmente formada por elementos que lhe são extrínsecos; ela não possui uma existência independente e individual. Ela “interexiste” com todas as outras coisas do universo.

A interexistência é um novo termo, mas estou certo de que em breve ele estará nos dicionários por se tratar de uma palavra extremamente importante. Quando percebemos a natureza da interexistência, as barreiras entre nós e os outros se dissolvem, e a paz, o amor e o entendimento tornam-se possíveis. Onde quer que existe o entendimento, nasce a compaixão.

Thich Nhat Hanh, em “Vivendo Buda, Vivendo Cristo”

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Infinito

O Homem sonhava, e em seu sonho havia outro homem que caminhava, com o rosto que Ele teria, se não O tivesse. Era um sonho em forma de caminho comprido, um oito deitado sub specie aeternitatis, que o homem percorria vezes e vezes sem conta, mal se lembrando do Homem que era. E ele tropeçava, caía, se arrastava, morria, levantava-se, continuava, arrastava-se, caminhava. Encontrou outros homens e mulheres, todos que não sabiam como ele, e eram o Homem sem forma e sem rosto, sem nome e sem voz. Alguns deles tinham teorias que diziam que a cada vez que caía e se levantava, a pessoa tornava-se mais sábia, até o dia em que não precisasse mais cair e se levantar. O homem ouvia aquilo tudo e fazia que sim com a cabeça, mas no íntimo não lhe parecia estar ficando mais sábio, a não ser que se chamasse de sabedoria as cicatrizes de escoriações nos joelhos. No entanto, em deferência a seus amigos que assim diziam, decidiu prestar mais atenção no caminho, pois talvez todos aprendessem o que ele não aprendia. Com isso, começou a perceber algo para o qual nem seu agnosticismo nem as crenças de seus amigos o haviam preparado: o caminho repetia-se, repetia-se e repetia-se. Aos poucos, foi desenhando um mapa mental do percurso, e percebeu que limitava-se a andar em círculos fechados. Notando as bordas do oito deitado, delas se aproximou. Faziam fronteira com um insondável Abismo sem forma e sem rosto, sem nome e sem voz. Hesitou um pouco antes de saltar. Então, o Homem acordou e foi tratar da vida.

O Franco Atirador