sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Bilhete em casa de suicida

Bilhete em casa de suicida:
“Vou andar até a ponte.
Se alguém sorrir, não pulo.”
Pulou.
Penso muito nessa pessoa.
Queria salvá-la, acolhê-la,
ensinar um segredo, um truque:
as ruas são cheias de sorrisos,
a começar pelos meus próprios.
Sorrio para todas as pessoas,
quase todas sorriem de volta.
De sorrisos, escolho ser vetor,
não hospedeiro.
Não mereço sorrisos,
forneço sorrisos.

Alex Castro ~ http://alexcastro.com.br/bilhete-em-casa-de-suicida/

terça-feira, 24 de março de 2015

Maltrapilho

Fyodor Dostoievski capturou o choque e o escândalo do evangelho da graça quando escreveu: “No último julgamento Cristo nos dirá: ‘Vinde, vós também! Vinde, bêbados! Vinde, vacilantes! Vinde, filhos do opróbrio!’ E dir-nos-á: “Seres vis, vós que sois à imagem da besta e trazem a sua marca, vinde porém da mesma forma, vós também!’ E os sábios e prudentes dirão: ‘Senhor, por que os acolhes?’ E ele dirá: ‘Se os acolho, homens sábios, se os acolho, homens prudentes, é porque nenhum deles foi jamais julgado digno’. E ele estenderá os seus braços, e cairemos a seus pés, e choraremos e soluçaremos, e então compreenderemos tudo, compreenderemos o evangelho da graça! Senhor, venha o teu reino!”

O Evangelho Maltrapilho - Brennan Manning

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Libertar das Ilusões

Pergunta – Quando meu corpo físico morrer meu carma continua?

Monge Genshô – Sim, o carma não cessa. Seus impulsos, paixões e apegos é que continuam, mas seu “eu” não tem como sobreviver. Nada do que você costuma amar, assim como você mesma, vai continuar. Todas as religiões foram construídas para dar às pessoas o consolo da continuidade do seu “eu”, inventando uma alma ou espírito e um “eu” que continua de alguma forma. Por isso poucas pessoas ficam no Budismo, pois ele não tem esse consolo para oferecer, todos querem escapar da morte e por isso as religiões falam em salvação, mas o Budismo não é um ensinamento para salvar  da morte através de uma ressurreição milagrosa e sim para libertar.  Libertar do quê? Libertar das ilusões. O Zen não fala em depois, as pessoas querem muito pensar no depois, no que acontece após a morte. O Zen se preocupa com o agora, por isso a orientação no zazen é não pensar em futuro ou passado. Não se preocupem com o que acontece depois da morte, sobre isso todos saberão. Por estarem tão preocupadas com o que acontecerá , é que as pessoas não vivem de fato o momento presente. Esse é o significado da frase de Saikawa Roshi, “Os pássaros são verdadeiramente pássaros, os peixes são verdadeiramente peixes, só os homens não são verdadeiramente homens”.

Só os homens vivem angustiados com o fato de que irão morrer. Reconheça, seu “eu” não pode sobreviver à morte, ele não sobrevive a uma doença cerebral, um Alzheimer, como esperar que ele sobreviva à morte? O que não cessa e que deveria ser realmente alvo de preocupação são os pensamentos, atos, palavras, paixões e apegos. O que você é agora vem do seu passado. No futuro, alguém que não é você, mas é você, viverá as consequências de tudo que  construiu nessa vida.

 Até os quatro anos de idade, normalmente, nos esquecemos de tudo vivido antes. Vamos supor que antes dos quatro anos você  fazendo uma arte, perca um dedo. Na sua vida adulta você olha e não vê seu dedo, você não lembra o que aconteceu, é como se não tivesse sido você, mas o dedo está faltando. Você sofre as consequências e não vê sua culpa, pois não era você adulto. As consequências estão ali, mesmo que não fosse você. O que se faz agora terá consequências no futuro, será você, mas não será você.

Fonte: http://opicodamontanha.blogspot.com.br/

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Vagalume

A bênção de ser humano é entender-se como tal. A maldição é não aceitar-se.Muitas pessoas querem se tornar seres de luz, mas sinto informar que a natureza já preencheu essa vaga. Contente-se em ser o que é.


Renúncia

"Se alguém refletir genuinamente sobre renúncia, não se trata de desistir de coisas externas como dinheiro, deixar a casa ou a família. Isso é fácil. A renúncia verdadeira é abrir mão de nossos queridos pensamentos, de todo nosso deleite nas memórias, esperanças e devaneios, nossa tagarelice mental. Renunciar a isso e ficar nu no presente, isso é renúncia."

Tenzin Palmo em "Cave in the Snow"