segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Escalando o Himalaia

Outrora, desejava eu escalar o distante Himalaia da Ásia, longe de mim…

Em tempos passados, sonhava eu com enigmáticas aventuras em terras longínquas.

Naquele tempo, encantava-me a idéia de atingir as culminâncias do Everest, solitário, perder-me em imensos campos de neve.

Hoje, me fascina a suprema audácia de galgar o Himalaia Crístico de Dentro, as alturas cósmicas do meu próprio ser… em meio aos planetas, estrelas e todas as galáxias existentes.

Hoje, me seduz a divina aventura Crística de atingir o Everest do meu desconhecido Eu… em meio à Aurora Boreal, na imaculada alvura da minha Qualidade Crística… no silêncio da Verdade Infinita, na mística Cristicidade do Eu Sou o Que Sou.

Esta foi a razão de eu haver ultrapassado o profano querer do meu conhecido ego tradicional.

E, Bandeirante Crístico do Infinito, vivo os meus dias e minhas noites em demanda do monte sagrado que, como Sinai, dentro de mim mesmo se ergue, Altíssimo, ignoto, desconhecido, Divino.

Então, em todos os meus sacrifícios encontro prazer e em todas as minhas tristezas encontro alegria.

E, em todas as lágrimas encontro compreensivos sorrisos, porque tudo isso, porque tudo isso são degraus da montanha sagrada, estágios do meu Himalaia Crístico de Dentro.

E, ainda que tempestades desabem ao meu redor, e inquisições e raios fuzilem por cima de mim e abismos negrejem sob meus pés, ainda que sorridentes e floridas esplanadas me convidem a parar, eu sigo avante, rumo ao Everest, vencendo perigos, com os olhos fitos no sublime ideal da minha suprema Formação Crística, rumo ao grande além de dentro.

Rumo ao Himalaia, alcançando o Everest do meu Espírito, na Qualidade de Filho de Deus.

Huberto Rohden

Não sou mestre de ninguém

Não sou mestre de ninguém.
Ninguém é discípulo meu.
Sou como a flecha na encruzilhada,
Cuja missão é apontar o caminho certo -
E depois ser abandonada…
Se o viandante não ultrapassar a seta,
Não cumpre o desejo da mesma.
Ai de mim se eu não for abandonado!
Se o viandante parar diante de mim,
Contemplando a minha forma e cores,
Se, em vez de demandar
A invisível longinqüidade
Se enamorar da minha visível propinqüidade,
Não compreender a minha mensagem,
Que aponta para além de mim,
Rumo ao Infinito. .
Ai de mim, se eu for espelho,
Perante o qual os homens parem
Para se contemplarem a si mesmos,
Em mortífero narcisismo!
Feliz de mim, se eu for janela aberta,
Que permita visão de horizontes longínquos,
Passagem franca para o Infinito!
Não sou mestre de ninguém,
Ninguém é discípulo meu!
Indico a todos o Mestre invisível,
Que habita na alma de cada um
E para além de todos os mundos.
Sinto-me feliz, quando o viajor,
Orientado pela legenda da minha seta,
Me abandona e vai em demanda
Da indigitada meta
Em espontânea liberdade,
Rumo à longínqua felicidade…

Huberto Rohden

Mensagem mefistotélica

Antes de irdes ao vosso centro, loja, cenáculo, igreja, templo, terreiro ou instituição iniciática, reconciliai-vos com os vossos inimigos; antes da prece recitada em público, lamuriosa e poética, dedicai-vos tão abnegadamente aos vossos irmãos necessitados, de modo tal que nem vos sobeje tempo para orardes. Não julgueis a embriaguez do irmão sem lar e sem ânimo para viver, mas estendei-lhe as mãos fraternalmente; abandonai o vosso veículo caríssimo e luxuoso, até que o infeliz aleijado do vosso caminho tenha o seu carrinho de rodas. Reduzi a quantidade excessiva de ternos, que possuís, para que possais vestir alguns maltrapilhos da vizinhança; diminuí o uísque e as compotas da vossa adega, para que sobre pão ao faminto e vitaminas para a criança anêmica; economizai no gasto da boate, para socorrerdes a infeliz lavadeira que precisa de descanso, a parturiente que pede fortificante ou o operário desvalido que não cobre com o seu salário as suas despesas mensais. Buscai colocação para o desamparado e para a jovem doméstica que luta com dificuldades financeiras; providencial medicamento para o doente deserdado e livro para o estudante pobre.

Aprendei que a doutrina é sempre um meio e não um fim. O Espiritismo é maravilhosa revelação da imortalidade da alma; convite divino para que o homem modifique a sua conduta desregrada e assuma a responsabilidade da vida espiritual; mas, acima de tudo, que se cumpra a universalidade do Cristo, antes que o separatismo de seitas. E que “vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei” seja o compromisso incessante a que deveis atender, porque nunca podereis pregar a união sob a exclusividade religiosa. Podeis afirmar que estais com a melhor doutrina, mas isto é apenas uma opinião humana, com a qual pode discordar a opinião crística. A melhor doutrina é, ainda, o amor pregado por Jesus, doutrina que não possui postulados ou diretrizes tipografadas fora do coração! Se assim fizerdes, asseguramos-vos que estareis livres do imenso perigo dos “lobos vestidos de ovelhas”, dos “falsos profetas”, dos mefistófeles com aparência evangélica ou dos “Espíritos iníquos” preditos na Bíblia. Se eles vos conduzem ao erro e à iniqüidade, tornar-se-ão inofensivos, em virtude de não encontrarem em vós próprios as condições favoráveis para implantarem em vós a iniqüidade e o separatismo.

Saindo da Matrix
Texto na íntegra

sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

É você Jesus?

Um grupo de vendedores foi a uma Convenção de vendas. Todos tinham prometido às suas esposas que chegariam a tempo para o jantar da sexta-feira.

No entanto, a convenção terminou um pouco tarde, e chegaram atrasados ao aeroporto. Entraram todos com seus bilhetes, correndo pelos corredores. De repente, e sem quer, um dos vendedores tropeçou em uma mesa que tinha uma canastra de maçãs (exposição em forma de pirâmide). As maçãs saíram voando por toda parte. Sem deter-se, nem voltar atrás, os vendedores seguiram correndo para o embarque no avião. Todos menos um. Este se parou, respirou fundo, e experimentou um sentimento de compaixão pela dona do posto de maçãs.

Disse a seus amigos que seguissem sem ele e pediu a um deles que ao chegar em sua cidade, chamasse a sua esposa e lhe explicasse que ia chegar num vôo mais tarde.

Regressou-se ao terminal e encontrou todas as maçãs atiradas pelo solo. Sua surpresa foi enorme ao dar-se conta de que a dona do posto era uma menina cega.

Encontrou-a chorando, com lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Tateava ao andar, tratando, em vão, de recolher as maçãs, enquanto a multidão passava vertiginosamente sem deter-se e sem importar-se com o infortúnio da menina.

O homem se ajoelhou junto dela, falou-lhe, juntou as maçãs, colocou-as numa caixa e ajudou a montar a canastra de exposição novamente.

Enquanto o fazia, deu-se conta de que muitas da maças tinham sido golpeadas e estavam machucadas. Recolheu-as e as pôs em outra canastra. Quando terminou, sacou sua carteira e lhe disse à menina: “Toma, por favor, este dinheiro pelo dano que fizemos. Estás bem?”

Ela, chorando, acenou com a cabeça. E o homem disse ainda para a menina, “Espero não ter arruinado o seu dia”.

Conforme o vendedor começou a afastar-se, a menina gritou: “Senhor…”

Ele se deteve e voltou a olhar para os olhos cegos Ela continuou: “É VOCÊ, JESUS…?”

Ele se parou atônito e olhou ao seu redor. Deu várias voltas, antes de dirigir-se ao embarque noutro vôo, com essa pergunta queimando-lhe o peito e vibrando em sua alma: “É VOCÊ, JESUS? “.

E você irmão, já te confundiram com Jesus?

Porque esse é o nosso destino, não é assim? Parecer-nos tanto com Jesus, que as pessoas não possam distinguir a diferença. Parecer-nos tanto com Jesus, conforme vivemos num mundo que está cego ao seu Amor, sua Vida e sua Graça.

Se dissermos que conhecemos a Jesus, deveríamos viver e atuar como Ele faria.

Conhecê-lo é bem mais do que citar os Evangelhos, e ir às Igreja. É, em realidade, viver sua palavra cada dia. Nós somos como a menina cega, ainda que tenhamos sido golpeados pelas quedas, Ele deixou tudo e nos recolheu, a você e a mim no Calvário, e pagou por nossas maçãs machucadas.

Vivamos, pois, a partir de agora, como se valêssemos o preço que Ele pagou por nós!

Comecemos hoje!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

O despir do homem

Sim, o pecado nada mais é do que a barreira que o homem coloca entre ele próprio e Deus – entre seu eu transitório e seu eu eterno. A princípio, um punhado de folhas de figueira, essa barreira veio a tornar-se um poderoso baluarte. Desde o momento em que abandonou a inocência do Éden, o homem tem estado ocupadíssimo em reunir cada vez mais folhas de figueira e a costurar um sem número de aventais. Que são as artes e a instrução do homem, senão folhas de figueira? Seus impérios, nações, segregações raciais e religiões, não são cultos de adoração à folha de figueira? Seus códigos de certo e errado, de honra e desonra, de justiça e injustiça; seu avaliar o inavaliável, e medir o imensurável, e padronizar o que está além do padronizável – não é tudo isso remendar a já ultra-remendada tanga? Sua avidez pelos prazeres que estão pejados de sofrimento; sua ambição pelas riquezas que empobrecem; sua sede pela maestria que subjuga; sua cobiça pela grandeza que achincalha – não são todas essas coisas aventais de folhas de figueira?

Nesta corrida patética para cobrir sua nudez, o homem vestiu um grande número de aventais que, no correr dos anos, agarraram-se-lhe fortemente à pele que ele já não distingue os aventais da pele. E o homem sente-se sufocado, e clama por quem o liberte de tantas peles. No entanto, em seu delírio, o homem tudo faz para ser libertado de sua carga, menos a única coisa que em verdade pode aliviá-lo de sua carga, que seria atirar fora essa carga. Ele quer libertar-se de sua carga e agarra-se a ela com todas as suas forças. Deseja estar nu e, no entanto, mantém-se completamente vestido.

É chegada a hora de despir-se, e eu vim para auxiliar-vos a lançar fora vossas peles desnecessárias – vossos aventais de folhas de figueira – para que assim possais também auxiliar a todos os que anseiam por ver-se livres dos seus. Eu só ensino como fazê-lo, mas cada qual terá de se livrar dos seus, por mais doloroso que lhe seja o despir-se. Não espereis por nenhum milagre que vos salve de vós próprios, nem receeis a dor; a Compreensão nua converterá vossa dor em um perene êxtase de alegria. Se vos enfrentardes a vós próprios, na nudez da Compreensão, e, se Deus chamar-vos e perguntar: “Onde estais?” – não vos envergonheis, nem temais, nem vos oculteis de Deus, mas, ao contrário, deveis permanecer firmes, sem receio e divinamente calmos, respondendo a Deus:

“Eis-nos aqui, Deus – nossa alma, nosso ser, nosso único eu. Envergonhados, medrosos e sofrendo dores, caminhamos pela áspera e tortuosa vereda do bem e do mal, que tu nos apontastes na aurora do tempo. A grande nostalgia apressou nossos passos, e a fé sustentou nosso coração, e agora a Compreensão libertou-nos de nossas cargas, curou nossas feridas e trouxe-nos de volta a tua santa presença, nus do bem e do mal, da vida e da morte; nus de todas as ilusões da dualidade, nus exceto do manto de vosso ser, que tudo envolve. Sem folhas de figueira para esconder nossa nudez, aqui estamos diante de ti, livres da vergonha, iluminados e sem temor. Vede, estamos unificados. Vede, nós vencemos”.

Saindo da Matrix
Texto na íntegra

sexta-feira, 2 de dezembro de 2005

O Coringa

Neste mundo onde a vida e a verdade estão ocultas, apenas umas poucas cartas conseguem ver com clareza. “Apenas o curinga do jogo não se deixa iludir.” Curingas são raros em qualquer baralho, mas sempre existe um para manter viva a esperança e a verdade não deixar morrer.

Muitos de nós vivemos a buscar esta condição: ser um curinga. Em prol disso, negligenciamos tradições, afrontamos autoridades, desafiamos pensamentos, questionamos convenções, indagamos os porquês e procuramos algum a que. Nem sempre faz-se isso de forma coerente, sadia. A Ânsia por tornar-se algo diferente do que somos e não ser contado apenas como mais um, mais uma carta do baralho, é tão grande, que às vezes acabamos por nos perder. Nos perdemos em nossa realidade desvirtuada e confusa. O certo e o errado se misturam. O que buscamos tanto afirmar como sendo o certo, a coisa nobre a se fazer, não raro é a atitude que menos conseguimos concretizar. A tendência ao erro, à seguir a multidão, é forte, e querer ser um curinga, de maneira forçada e portanto, falsa, pode ser perigoso, talvez até mortal.

Não adianta querer fazer tudo porque é bonito de se dizer. Um discurso inflamado é muito belo, mas para ser um curinga de verdade não é necessário discurso. Não se exige diploma ou ideologia. Um curinga é aquele que não se baseia no sistema (esquerda ou direita) para viver. Ele percebe a hipocrisia dos dois lados (ou quantos lados existirem) e tem a nobre tarefa de alertar aqueles que desejem saber a verdade.

Estes costumam ser apedrejados. Ninguém quer ser acordado enquanto sonha. O sonho é belo, é prazeroso. Nele vê-se nuvens e se pode tudo. Você pode ser quem quiser, inclusive um curinga. Os curingas acabam por morrer na sua ânsia de revelar o que entenderam a outros. No seu desejo de despertá-los de sua dormência, acabam por ser acusados de perturbadores, de desertores.

Na verdade, são. São desertores deste sistema e dessa forma única e mecânica de se pensar e de sentir o meio e os pares. São perturbares desta falsa paz e dessa falsa racionalidade estabelecida de cima para baixo. Mas são muito mais do que isso. São sonhadores, são utópicos, são românticos e são sadios. Vêem o mundo com outros olhos: os olhos do delírio. Eis a sua chama vital que nunca se extinguirá.

Os curingas estão espalhados pelo mundo, disfarçados em pessoas alienadas e comuns. Não fazem tanto alarde, até chegar a hora de despertar outro curinga para seguir o jogo. Estão sempre presentes, e sempre estarão. E o nosso desejo, nosso mais íntimo anseio, é de ser, ao menos um dia, um curinga.

Mas não adianta, não se canse. Ser um curinga não é uma opção, não é apenas uma questão de filosofia. Ser um curinga não é só por distração, é apenas uma maldição de família…

Eduardo Marandola Junior
Comentário sobre o livro O Dia do Coringa

Fragmentos

Fragmentos de minha infância.

As pessoas grandes aconselharam-me deixar de lado os desenhos de jibóias abertas ou fechadas, e dedicar-me de preferência à geografia, à história, ao cálculo, à gramática. Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma esplêndida carreira de pintor. Eu fora desencorajado pelo insucesso do meu desenho número 1 e do meu desenho número 2. As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar toda hora explicando.

Quando o mistério é muito impressionante, a gente não ousa desobedecer. Por mais absurdo que aquilo me parecesse a mil milhas de todos os lugares habitados e em perigo de morte, tirei do bolso uma folha de papel e uma caneta. Mas lembrei-me, então, que eu havia estudado de preferência geografia, história, cálculo e gramática, e disse ao garoto (com um pouco de mau humor) que eu não sabia desenhar. Respondeu-me:
- Não tem importância. Desenha-me um carneiro.

Se lhes dou esses detalhes sobre o asteróide B 612 e lhes confio o seu número, é por causa das pessoas grandes. As pessoas grandes adoram os números. Quando a gente lhes fala de um novo amigo, elas jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca: “Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que coleciona borboletas?” Mas perguntam: “Qual é sua idade? Quantos irmãos ele tem? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai?” Somente então é que elas julgam conhecê-lo. Se dizemos às pessoas grandes: “Vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, gerânios na janela, pombas no telhado…” elas não conseguem, de modo nenhum, fazer uma idéia da casa. É preciso dizer-lhes: “Vi uma casa de seiscentos contos”. Então elas exclamam: “Que beleza!”


É uma questão de disciplina, me disse mais tarde o principezinho. Quando a gente acaba a toalete da manhã, começa a fazer com cuidado a toalete do planeta. É preciso que a gente se conforme em arrancar regularmente os baobás logo que se distingam das roseiras, com as quais muito se parecem quando pequenos. É um trabalho sem graça, mas de fácil execução.

- Bom dia, disse o principezinho.
- Bom dia, disse o vendedor.
Era um vendedor de pílulas aperfeiçoadas eu aplacavam a sede. Toma-se uma por semana e não é mais preciso beber.
- Por que vendes isso? perguntou o principezinho.
- É uma grande economia de tempo, disse o vendedor. Os peritos calcularam. A gente ganha cinqüenta e três minutos por semana.
- E o que se faz, então, com os cinqüenta e três minutos?
- O que a gente quiser…
“Eu, pensou o principezinho, se tivesse cinqüenta e três minutos para gastar, iria caminhando passo a passo, mãos no bolso, na direção de uma fonte…”

Os homens do teu planeta, disse o principezinho, cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim…e nunca encontram o que procuram…E no entanto, o que eles buscam poderia ser achado numa só rosa, ou num pouquinho d’água…Mas os olhos são cegos. É preciso buscar com o coração…

Eis aí um mistério bem grande. Para vocês, que amam também o principezinho, como para mim, todo o universo muda de sentido, se num lugar, que não sabemos onde, um carneiro, que não conhecemos, comeu ou não uma rosa…
Olhem o céu. Perguntem: Terá ou não terá o carneiro comido a flor? E verão como tudo fica diferente…

O Pequeno Príncipe
Antoine De Saint- Exupéry

quarta-feira, 23 de novembro de 2005

Quem foi este homem?

Leia tudo e depois veja se acertou...

Havia um cara que, dizem, teria nascido de uma virgem. Nascido de descendentes dos reis legítimos (1), em um período em que seu país encontrava-se na mão de usurpadores, nem um pouco ligado à tradições religiosas ou ao bem do povo.

O nome pelo qual passou a ser conhecido no Ocidente, embora na verdade falado em outra língua, lembra o conceito grego de Christhos, ou os radicais presentes no “Espírito Crístico”.

Várias profecias indicavam que este menino poderia vir a ser o Rei, embora alguns achassem que isso seria no sentido religioso, e outros, no sentido político. (2)

As pessoas esperavam um salvador. Este seria uma encarnação (3) do segundo aspecto (4) de Deus, que é um só (5), mas se divide em três pessoas (6).

O rei usurpador, de família ilegítima, mandou MATAR todos os primogênitos, forçando aos pais do salvador a fugir com ele.

Foi criado de forma aparentemente humilde, mas dava mostras de sua sabedoria. Deixava escapar também traços de erudição que indicavam educação primorosa (talvez patrocinada pelos que apoiavam a família real que tenta voltar ao trono).

Após uma infí¢ncia pouco documentada, deu algumas mostras de seu poder na adolescência.

Após mais algum tempo, em idade adulta jovem, se revelou como presença divina. Sua presença coincide com uma época de grandes conflitos. Durante esta fase de ocupação de suas terras e tentativas de revolução, faz questão de deixar claro que precisamos separar o que é de Deus, notando que o impermanente não é deste mundo.

Quebra paradigmas, ensina morais estranhas, faz questão que cada um cumpra o que é seu papel. Ensina, literalmente, que ELE é o CAMINHO até o Pai (7). Que é necessário fazer os trabalhos, mas que podemos ofertar a Ele. (8) Nos unirmos a ele, que é Caminho, que é Verdade. Não porque ele seja egocêntrico, mas porque ele está ligado com o Criador. E é difícil para nós nos ligarmos com o intangível, mas dá para nos ligarmos com um salvador conhecido. Como ele é ligado a Deus, nos ligando a ele pegamos carona…

Acaba sendo morto ainda jovem, de forma trágica (9), pouco depois de sua revelação como Presença Divina.
Não escreve nada, mas alguns registram parte da sua vida, especialmente as próximas da morte, onde despeja toda a sua sabedoria. Os trechos registrados são pequenos (10), mas capazes de mudar nossa noção religiosa de causa e consequência, trazendo nova luz sobre a natureza do espírito, e sua sobrevivência ao corpo.

Os poucos capítulos sobre sua vida em presença divina são inseridos, como parte das escrituras sagradas, e são traduzidos para praticamente todas as línguas do mundo. (11) O livro com a vida do Deus Vivo é mais popular e citado, individualmente, do que a própria obra religiosa maior que o contém.

Antes de morrer, deixa claro que irá voltar, no futuro (12). Fazem religião em seu nome, mas ele mesmo nunca foi adepto destes preceitos religiosos, até porque nunca fundou religião alguma, nunca foi moralista, nunca foi de trocar sabedoria por rituais, e não podia frequentar o que só fizeram depois dele.


Resposta: Krishna, que viveu em 3000 AC, na Índia.

(1) Bharata, a descendência que se fundia com a própria Índia, e que dava caráter de etnia e identidade cultural. A própria Índia era chamada de Maha-Bharata, ou Grande Bharata: a GRANDE família.


(2) A separação entre estado e religião é recente. Na história, a lei de deus era a justiça humana. O sacerdote era o juiz. O rei, César, Papa ou Faraó era sempre (no mínimo) representante de Deus. Vide reis judaicos (David, Salomão), Aiatolás do Irã, presidentes fundamentalistas árabes, etc. Texto sagrado é o código civil e penal, pois o poder é sempre exercido em nome de Deus. Logo, esperar um rei religioso era esperar um líder político também.


(3) Avatar


(4) Vishnu, equivalente ao Filho para os cristãos, a Isis para os egípcios, ou ao Fixo para os astrólogos. Amor, conservação, manutenção do que foi criado.


(5) Brahman, com N, o Deus não personificado, a soma de todos os deuses e criaturas. Gadu, o Tao, o Todo.


(6) Brahman se divide em 3 aspectos, na trimurti: Brahma (criador), Vishnu (mantenedor) e Shiva (transformador). O segundo aspecto reencarna de tempos em tempos.


(7) Brahman, Deus.


(8)Ensinamentos do Bhagavad Gita, onde Krishna fala sempre em “ofertar a mim”, “eu sou o caminho”, “faz em meu nome”.


(9) Krishna morre flechado, após ensinar sobre karma e dharma a Arjuna, um arqueiro.


(10) As lições estão registradas no Bhagavad Gita.


(11) O Bhagavad Gita é um dos livros que compoem o épico sagrado MAHA-BHARATA.


(12) Krishna foi a a encarnação de Vishnu. Rama teria sido a sétima. Há controvérsias quanto a a encarnação (Buda, Jesus ou Chaytania). Espera-se uma décima encarnação, conhecida esotericamente como kalki, embora algumas correntes tenham seus fortes indícios para achar que já tenha vindo, e outros prefiram achar que Kalki será um onda, e não mais uma “pessoa”.

sábado, 12 de novembro de 2005

Quem morreu na realidade?

Palavras de Sócrates aos juízes após receber sua sentença de morte:
(Dos 501 juízes, 280 foram a favor, 220 contra a condenação e uma abstenção)

Mas também vós, ó juízes, deveis ter boa esperança em relação à morte, e considerar esta única verdade: que não é possível haver algum mal para um homem de bem, nem durante sua vida, nem depois da morte, que os deuses não se interessam do que a ele concerne; e que, por isso mesmo, o que hoje aconteceu, no que a mim concerne, não é devido ao acaso, mas é a prova de que para mim era melhor morrer agora e ser libertado das coisas deste mundo. Eis também a razão por que a divina voz não me dissuadiu, e por que, de minha parte, não estou zangado com aqueles cujos votos me condenaram, nem contra meus acusadores.

Não foi com esse pensamento, entretanto, que eles votaram contra mim, que me acusaram, pois acreditavam causar-me um mal. Por isto é justo que sejam censurados. Mas tudo o que lhes peço é o seguinte: Quando os meus filhinhos ficarem adultos, puni-os, ó cidadãos, atormentai-os do mesmo modo que eu os vos atormentei, quando vos parecer que eles cuidam mais das riquezas ou de outras coisas do que da virtude. E, se acreditarem ser qualquer coisa não sendo nada, reprovai-os, como eu a vós: não vos preocupeis com aquilo que não lhes é devido.

E, se fizerdes isso, terei de vós o que é justo, eu e os meus filhos.

Mas, já é hora de irmos: eu para a morte, e vós para viverdes. Mas, quem vai para melhor sorte, isso é segredo, exceto para deus.

Os Juízes pereceram… Sócrates se eternizou.

terça-feira, 8 de novembro de 2005

A arte de não adoecer

Se não quiser adoecer, fale de seus sentimentos.
Emoções e sentimentos que são escondidos, reprimidos, acabam em doenças como gastrite, úlcera, dores lombares, dor na coluna.
Com o tempo, repressão de sentimentos degenera até o câncer. Vamos desabafar, confidenciar, partilhar intimidades, segredos, pecados. Diálogos, falas, palavras são poderosos remédios, excelente terapia.

Se não quiser adoecer, tome decisão.
A pessoa indecisa permanece na dúvida, na ansiedade, na angústia. A indecisão acumula problemas, preocupações, agressões. A história humana é feita de decisões. Para decidir é preciso saber renunciar, saber perder vantagem e valores para ganhar outros. As pessoas indecisas são vítimas de doenças nervosas, gástricas e problemas de pele.

Se não quiser adoecer, busque soluções.
Pessoas negativas não enxergam soluções e aumentam os problemas. Preferem a lamentação, a murmuração, o pessimismo. Melhor acender o fósforo que lamentar a escuridão. Pequena é a abelha, mas produz o que de mais doce existe. Somos o que pensamos. O pensamento negativo gera energia negativa, que se transforma em doença.

Se não quiser adoecer, não viva de aparências.
Quem esconde a realidade, finge, faz pose, quer sempre dar impressão de que está bem, quer mostrar-se perfeito, bonzinho, está acumulando toneladas de peso, uma estátua de bronze com pés de barro. Nada pior para a saúde que viver de aparências e fachadas, ter muito verniz e pouca raiz. Seu destino é a farmácia, o hospital, a dor.

Se não quiser adoecer, aceite-se.
A rejeição a si próprio, a ausência de auto-estima, faz com que sejamos algozes de nós mesmos. Ser eu mesmo é o núcleo de uma vida saudável. Os que não se aceitam são ciumentos, imitadores, competitivos, destruidores. Aceitar-se, aceitar ser aceito, aceitar as críticas, é sabedoria, bom senso e terapia.

Se não quiser adoecer, confie.
Quem não confia não se comunica, não se abre, não se relaciona, não cria liames profundos, não sabe fazer amizades verdadeiras. Sem confiança não há relacionamento. A desconfiança é falta de fé em si, nos outros e em Deus.

Se não quiser adoecer, não viva sempre triste.
O bom humor, a risada, o lazer e a alegria recuperam a saúde e trazem vida longa. A pessoa alegre tem o dom de alegrar o ambiente em que vive. O bom humor nos salva das mãos do doutor.

Dr. Dráuzio Varella

segunda-feira, 7 de novembro de 2005

Um só rebanho e um só pastor

Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco; é preciso que também a essas eu conduza; elas escutarão a minha voz e haverá um só rebanho e um Único pastor.
João 10:16

Por essas palavras, Jesus claramente anuncia que os homens um dia se unirão por uma crença Única; mas, como poderá efetuar-se essa união? Difícil parecerá isso, tendo-se em vista as diferenças que existem entre as religiões, o antagonismo que elas alimentam entre seus adeptos, a obstinação que manifestam em se acreditarem na posse exclusiva da verdade. Todas querem a unidade, mas cada uma se lisonjeia de que essa unidade se fará em seu proveito e nenhuma admite a possibilidade de fazer qualquer concessão, no que respeita às suas crenças.

Entretanto, a unidade se fará em religião, como já tende a fazer-se socialmente, politicamente, comercialmente, pela queda das barreiras que separam os povos, pela assimilação dos costumes, dos usos, da linguagem. Os povos do mundo inteiro já confraternizam, como os das províncias de um mesmo império. Pressente-se essa unidade e todos a desejam. Ela se fará pela força das coisas, porque há de tornar-se uma necessidade, para que se estreitem os laços da fraternidade entre as nações; far-se-á pelo desenvolvimento da razão humana, que se tornará apta a compreender a puerilidade de todas as dissidências; pelo progresso das ciências, a demonstrar cada dia mais os erros materiais sobre que tais dissidências assentam e a destacar pouco a pouco das suas fiadas as pedras estragadas. Demolindo nas religiões o que é obra dos homens e fruto de sua ignorância das leis da Natureza, a Ciência não poderá destruir, mau grado a opinião de alguns, o que é obra de Deus e eterna verdade. Afastando os acessórios, ela prepara as vias para a unidade.

A fim de chegarem a esta, as religiões terão que encontrar-se num terreno neutro, se bem que comum a todas; para isso, todas terão que fazer concessões e sacrifícios mais ou menos importantes, conformemente à multiplicidade dos seus dogmas particulares. Mas, em virtude do processo de imutabilidade que todas professam, a iniciativa das concessões não poderá partir do campo oficial; em lugar de tomarem no alto o ponto de partida, tomá-lo-ão em baixo por iniciativa individual. Desde algum tempo, um movimento se vem operando de descentralização, tendente a adquirir irresistível força. O princípio da imutabilidade, que as religiões hão sempre considerado uma égide conservadora, tornar-se-á elemento de destruição, dado que, imobilizando-se, ao passo que a sociedade caminha para a frente, os cultos serão ultrapassados e depois absorvidos pela corrente das idéias de progressão.

Allan Kardec
A Gênese

quinta-feira, 3 de novembro de 2005

O que trazemos e o que levamos

Você vem ao mundo sem coisa alguma.
Assim, uma coisa é certa: nada lhe pertence.
Você vem absolutamente despido, porém com ilusões. É por isso que toda criança nasce com as míos fechadas, cerradas, acreditando que está trazendo tesouros – e aqueles punhos estío vazios.
E todos morrem com as míos abertas.
Tente morrer com as míos cerradas – até o momento ninguém conseguiu.
Ou tente nascer com as míos abertas – ninguém conseguiu também.
Nada lhe pertence, entío você está preocupado com qual insegurança?
Nada pode ser roubado, nada pode ser tirado de você.
Tudo o que você está usando pertence ao mundo.
E um dia você terá que deixar tudo aqui.
Você não será capaz de levar coisa alguma com você.

Osho
Do livro “Mais Pepitas de Ouro”

sexta-feira, 28 de outubro de 2005

Ainda vaidade

Sê bom,
mas ao coração
Prudência e cautela ajunta
Quem todo de mel se unta
Os ursos o lamberão

Mário Quintana

Vaidade de vaidades

Palavras do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém: Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades, É tudo vaidade.Eclesiastes 1:1 e 2

Cada dia fico mais fascinado pelos escritos de Salomão. Sua sabedoria, sobrepuja o conhecimento humano, e suas palavras no livro sagrado, deixam conselhos que parecem tão atuais, que as vezes penso que ele escreveu seus livros nos dias de hoje. Uma coisa que não sabia é que Salomão além de Rei, ele era pregador. Com certeza esta é uma caracteristica nobre deste notavel pensador. Sua mensagem de abertura no livro de Eclesiastes começa falando da vaidade. A definição da profissão e filiação do autor, tem por objetivo dar credibilidade as suas palavras. O sentido espiritual da sua profissão é revelado quando ele repete no versciculo 2 a afirmativa de que ele é pregador. Talvez se ele tivesse se definido com o rei, a sua mensagem teria sido levada mais a sério. Entretanto, Salomão iniciou seu livro falando da vaidade das vaidades. E é exatamente por isso, que ele introduziu o seu livro de conselhos se denominando pregador, e exaltando o nome do seu pai. Com certeza esta introdução foi bem mais apropriada, ja que ele estava falando de vaidade.

Eu fui ao dicionário para compreender o significado da palavra vaidade. O que encontrei foi o seguinte: “Qualidade do que é vão, instavél, ou de pouca duração. Desejo imoderado e infundado de merecer a admiração dos outros. Vanglória, ostentação, futilidade.” Ao ler estas definições, pude verificar quão profundamente elas estão arraigadas na vida do ser humano. Salomão estava certissimo quando iniciou seu livro definindo a vida humana como sendo uma vaidade. Quem é que não quer ser notavel, brilhante em sua atuação. Todos apreciamos deveras, glória e vanglória. Aliás a natureza humana pos si própria, sempre está se vanglóriando de alguma coisa. Mas o que mais me impressiona nestas definições de vaidade, é que seja qual for a natureza da vaidade, ela será sempre passageira e de pouca duração.

Quando nós vivemos a vida em proveito próprio, nos atingimos o apogeu da vaidade. E esta é a vaidade das vaidades, que Salomão está falando. Por isso ele diz: “É tudo vaidade.” Como Cristãos temos que aprender de Cristo Jesus. So Ele pode nos livrar das vaidades temporais deste mundo. So Ele pode nos levar a pensar no semelhante, no necessitado, no pecador. São Paulo disse: “…não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus…” Galátas 3:20. Jesus é o antidoto contra a vaidade humana. Viver com Cristo é uma experiência que supera a vaidade das vaidades. É acrescentar dividendos eternos no caráter, a unica coisa desta terra, que vamos levar para eternidade. Que neste Sábado possamos compreender que tudo na nossa vida é vaidade, e que somente Jesus, pode pegar esta vinda instavél e de pouca duração, e nos dar a segurança eterna. E louvado seja Deus por isso!

Pr. Dilson Bezerra
Dallas Brazilian SDA Church
Bíblia OnLine

segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Não há religião superior à Verdade

[...] Mas como dissemos anteriormente, ouvir palavras que expressam a verdade não é o mesmo que compreender esta verdade. As palavras são apenas mapas, e como mapas não podem trazer a experiência do território, as palavras não podem tornar-se um substituto para o conhecimento direto que é a verdade. Infelizmente a substituição continua sempre; assim as palavras fascinam a mente de tal maneira que ela cai na ilusão de que conhece o fato ou a verdade. Krishnamurti falou muitas vezes sobre a palavra não ser a coisa: a palavra “árvore” não é a árvore. Em A Primeira e Última Liberdade, ele disse sobre a Verdade e a Mentira: “Quando você ouve as palavras “Ama o próximo”, isto é uma verdade para você? Isto é verdade somente quando você ama seu próximo; e este amor não pode ser repetido, somente a palavra pode ser repetida. Ainda assim, muitos de nós ficamos felizes com a repetição de “ama teu próximo” ou de “não cobiçar”. Portanto, a verdade de outro ou uma experiência real que voce tenha tido, não se tornam uma realidade apenas pela repetição. Pelo contrário, a repetição impede a realidade”. Isto implica que a verdade não pode ser passada de um para outro. Nenhum guru pode agir como um procurador. Assim como um medicamento não pode ser tomado por um substituto, mesmo por um pai dedicado quando um filho cai doente, é insensatez acreditar que a sabedoria do guru nos curará da cegueira espiritual. Não há alternativa para a experiência direta da verdade por cada pessoa. A menos que seja conhecida intimamente, não é a verdade —mas somente uma sombra enganadora. [...]

[...] Assim, a religião e a ciência interrompem inesperadamente sua dedicação à verdade. Elas falham em seu papel declarado de promover a busca pela verdade porque isto poderia alijar tudo que se refere ao auto-interesse. Madame Blavatsky comparou as duas a dragões dos tempos antigos “um devorando o intelecto; o outro, as almas dos homens”. Mais adiante ela diz “mesmo assim, elas podem reconciliar-se com a condição de que ambas devam limpar suas casas, uma das antigas escórias humanas, e a outra das excrescências terríveis do materialismo moderno”. [...]

[...] Para descobrir a verdade sobre a religião ou qualquer assunto, devem ser descartados preconceitos e preferências pessoais. Esta é a abordagem científica, que é tão valiosa nesta área como o é ao investigar fatos e fenômenos materiais. Somos condicionados a ver tudo sob um ponto de vista pessoal, “meu” país, “minha” raça, “minha” religião ou “minha” classe social. A Humanidade foi descrita como um enorme corpo cujos membros guerreiam entre si. Involuntariamente nos situamos como parte de uma raça, de um país, de uma classe ou sexo; na maioria das vezes, até mesmo a religião é herdada, e não é escolhida com inteligência. Portanto, de geração em geração, preconceitos baseados em rótulos como hindu, cristão, muçulmano, alto, baixo, etc., levam a conflitos e a outras graves calamidades. Somente uma mente investigadora pode livrar-se destas limitações da mente pessoal e perceber que o progresso humano é essencialmente um crescimento da compreensão dos valores que harmonizam e unificam. Ser verdadeiramente religioso significa aprender a ser uno com todas as coisas vivas, e a incorporar valores como bondade e compaixão, simplicidade e desapego, ausência de orgulho e vaidade. O profeta Maomé ensinou que “a benevolência e a cortesia são atos de piedade” (Sayings of Muhammad, Dr. Suhrwardy, 1905, p. 4). Quando crenças, rituais e práticas que separam as pessoas não são identificadas com a religião e são deixadas de lado, a paz se torna uma realidade maior.[...]

Palestra proferida por Radha Burnier,
em 1º de agosto de 1998, no Habitat Centre, Nova Delhi
Texto na íntegra

sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Sobre os filhos

Uma mulher que carregava o filho nos braços disse: “Fala-nos dos filhos.”
E ele falou:
Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável.

O Profeta
Gibran Kalil Gibran
(Em homenagem a meu filho Luiz Ricardo)

quarta-feira, 12 de outubro de 2005

No país das maravilhas

Morfeu: Finalmente, bem-vindo, Neo; como você deve ter adivinhado, eu sou Morfeu.
Neo: É uma honra conhecê-lo.
Morfeu: Não, a hora é minha, por favor, venha, sente-se. Eu imagino que você esteja se sentindo um pouco como a Alice, entrando pela toca do coelho.
Neo: Você tem razão.
Morfeu: Eu vejo nos seus olhos, você tem o olhar de um homem que aceita o que vê, porque está esperando acordar, ironicamente, não deixa de ser verdade. Você acredita em destino, Neo?
Neo: Não.
Morfeu: Porque não?
Neo: Não gosto de pensar que não controlo minha vida.
Morfeu: Sei exatamente o que quer dizer, vou te dizer porque está aqui. Você sabe de algo, não consegue explicar o que, mas você sente, você sentiu a vida inteira. Há algo errado com o mundo, você não sabe o que é, mas há, como um zunido na sua cabeça te enlouquecendo, foi esse sentimento que te trouxe até mim. Você sabe do que estou falando?
Neo: Da Matrix?
Morfeu: Você deseja saber o que ela é?
A Matrix está em todo o lugar, a nossa volta, mesmo agora, nesta sala, você pode vê-la quando olha pela janela, ou quando liga a sua televisão, você sente quando vai para o trabalho, quando vai a igreja, quando paga os seus impostos. É o mundo que foi colocado diante dos seus olhos para que você não visse a verdade.
Neo: Que verdade?
Morfeu: Que você é um escravo, como todo mundo, você nasceu num cativeiro, nasceu numa prisão que não consegue sentir ou tocar, uma prisão para a sua mente. Infelizmente, é impossível dizer o que é a Matrix. Você tem de ver por si mesmo.
Morfeu: Está é a última chance, depois não há como voltar, se tomar a pílula azul, a história acaba, e você acordará na sua cama acreditando no que quiser acreditar. Se tomar a pílula vermelha, ficará no país da maravilha e eu te mostrarei até onde vai a toca do coelho. Lembre-se, tudo que ofereço é a verdade, nada mais. Siga-me. Apoc, estamos conectados?
Apoc: Quase.

[...]

Neo: Eu estou morto?
Morfeu: Longe disso.
Dujuor: Ele precisa de muito trabalho.
Neo: O que estão fazendo?
Morfeu: Seus músculos atrofiaram, vamos reconstruí-los.
Neo: Porque meus olhos doem?
Morfeu: Porque você nunca os usou, descanse, Neo. As respostas virão.
Neo: Morfeu, o que aconteceu comigo? Que lugar é este?

domingo, 2 de outubro de 2005

Siga o coelho branco

Vamos resumir: um coelho branco é tirado de dentro de uma cartola. E porque se trata de um coelho muito grande, este truque leva bilhões de anos para acontecer. Todas as crianças nascem bem na ponta dos finos pêlos do coelho. Por isso elas conseguem se encantar com a impossibilidade do número de mágica a que assistem. Mas conforme vão envelhecendo, elas vão se arrastando cada vez mais para o interior da pelagem do coelho. E ficam por lá. Lá embaixo é tão confortável que elas não ousam mais subir até a ponta dos finos pêlos, lá em cima. Só os filósofos têm ousadia para se lançar nesta jornada rumo aos limites da linguagem e da existência. Alguns deles não chegam a concluí-la, mas outros se agarram com força aos pêlos do coelho e berram para as pessoas que estão lá embaixo, no conforto da pelagem, enchendo a barriga de comida e bebida:

- "Senhoras e senhores" - gritam eles, "estamos flutuando no espaço!"

Mas nenhuma das pessoas lá de baixo se interessa pela gritaria dos filósofos.

- "Deus do céu! Que caras mais barulhentos!" - elas dizem.

E continuam a conversar: será que você poderia me passar a manteiga? Qual a cotação das ações hoje? Qual o preço do tomate? Você ouviu dizer que a Lady Di está grávida de novo?

Jostein Gaarder
O Mundo de Sofia

sexta-feira, 30 de setembro de 2005

Estatuto do Homem

Ato Institucinal Permanente

Artigo I – Fica decretado que agora vale a verdade. Agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II – Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III – Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV – Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem como um menino confia em outro menino.

Artigo V – Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.

Artigo VI – Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII – Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII – Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX – Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X – Fica permitido a qualquer pessoa, qualquer hora da vida, uso do traje branco.

Artigo XI – Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII – Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.

Artigo XIII – Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.

Artigo Final – Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.

Thiago de Mello
Santiago do Chile, abril de 1964

segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Tanto e tão pouco

Você não pode mais pensar como cristãos, budistas, hindus, e muçulmanos. Nós estamos enfrentando uma crise tremenda que os políticos nunca podem resolver porque eles são programados para pensar em um modo particular. Nem pode os cientistas entender ou resolver a crise; nem ainda o mundo de negócios, o mundo de dinheiro. O ponto decisivo, a decisão perceptiva, o desafio, não está na política, na religião, no mundo científico. Está em nossa consciência.


Se houver apenas cinco pessoas que queiram escutar, que queiram viver, que tenham a face voltada para a eternidade, será o suficiente. De que servem milhares que não compreendem, completamente imbuídos de preconceitos, que não desejam o novo(…)? Gostaria que todos os que queiram compreender sejam livres, não para me seguir, não para fazer de mim uma gaiola, que se torne uma religião, uma seita. Deverão estar livres de todos os temores (…), do medo da espiritualidade, do medo do amor, do medo da morte, do medo da própria vida.
Quem falou isso?

Provavelmente seu autor não estaria muito preocupado em ter seu nome revelado, afinal, o que realmente importa é o seu conteúdo, é a mensagem revolucionária que este homem que viveu entre nós trouxe e que, poucos quiseram ouvir.
Talvez o seu nome seja muito estranho, seus hábitos diferentes dos nossos, os motivos são muitos para desacreditar e para fazer com ele o que já foi feito com tantos outros. Crucificá-lo.
Como ele, tantos vieram e falaram sobre a mesma coisa. Pregaram nas praças, nos mercados, nas sinagogas e o resultado foi sempre o mesmo. Incompreensão, zombaria, incredulidade, raiva e pouco, muito pouco entendimento.
Criaram religiões, seitas, doutrinas, ordens, filosofias e quando olhamos ao nosso redor, vemos que o mundo está um caos.
Me pergunto a razão disso tudo.
A humanidade possui dezenas de denominações religiosas e um número inversamente proporcional de valores morais.
A saída para isso não está nas religiões, não está nos santos, nos profetas, nas escrituras, nos textos, nos messias; eles estão mortos ou são meras palavras ou conceitos. A saída está em nós mesmos e é exatamente isso o que tantos falaram, e nós, ao invés de seguir suas palavras, nos perdemos em conjecturas vazias e infrutíferas, motivados por egos inflados e doentes de orgulho e egoísmo.
É mais fácil e confortável acreditar em algo fora de nós, em uma salvação externa que nos alcançará do que em nós mesmos. Ninguém que ter responsabilidades, muito menos em relação a si mesmo. O mérito é meu, mas a culpa é dele!
Então, como diria JIDDU KRISHNAMURTI: (ops…falei o nome!) “Deverão estar livres de todos os temores (…), do medo da espiritualidade, do medo do amor, do medo da morte, do medo da própria vida.”
Viva a liberdade! Sem medos, sem culpas e sem dúvidas!

sexta-feira, 9 de setembro de 2005

Sócrates e os sofistas

Nas Memórias de Sócrates, Xenofonte relembra uma conversa em que o sofista Antifon mostra a Sócrates que o fruto que ele, Sócrates, estava colhendo da filosofia era simplesmente infelicidade - a bebida mais barata, o alimento mais pobre, uma túnica surrada, usada de verão a inverno, e nenhum manto, nenhum calçado. Tudo isso porque ele se recusava a cobrar por seus ensinamentos, desdenhando o dinheiro, que é uma alegria em si, capaz de tornar alguém independente e mais feliz. E como um professor sempre tenta fazer com que seus alunos o imitem, Sócrates devia ser, segundo Antifon, um professor de infelicidade. Sócrates respondeu da seguinte maneira:

Antifon, minha vida lhe parece tão miserável, que tenho certeza de que você preferiria a morte a levar uma vida como a minha. Vamos lá, vamos pensar juntos qual é o problema que você vê em minha vida. Será pelo fato de que os que cobram dinheiro são obrigados a executar o trabalho pelo qual são pagos, enquanto que eu, por me recusar a cobrar, não sou obrigado a falar com ninguém, a menos que queira? Ou você considera meu alimento pobre porque ele seja menos saudável ou menos nutritivo que o seu? ou porque minhas provisíµes sejam mais difíceis de obter que as suas, que são mais raras ou mais caras? ou porque sua dieta seja mais saborosa que a minha? Sabe você que, quanto maior o prazer de comer, menor a necessidade de tempero? quanto maior o prazer de beber, menor o desejo pelas bebidas que não estão ao nosso alcance? E quanto í s túnicas, elas precisam ser trocadas, você sabe, por causa do frio ou do calor. E os sapatos são usados como uma proteção para os pés contra a dor e a dificuldade de andar. Agora, você já me viu ficar em casa mais do que os outros por causa do frio, ou disputar com qualquer homem um lugar na sombra, devido ao calor, ou deixar de andar para qualquer lugar por estar com os pés doendo? Sabe você que através de treinamento um indivíduo franzino pode vir a ser melhor em qualquer forma de exercício que pratique e adquirir mais resistência do que o prodígio de músculos que negligencia o treino? Vendo, então, que estou sempre treinando meu corpo para responder a todo e qualquer estímulo que exija suas forças, não acha você que posso suportar qualquer esforço melhor que você que não tem treino? Para evitar a escravidão do estômago, ou do sono, ou da luxúria, você acha que existe melhor remédio que a posse de outros prazeres, prazeres maiores, que são deliciosos, não só para se gozá-los no momento, mas também porque suscitam a esperança de um benefício duradouro? E, ainda, você certamente sabe que é infeliz aquele que pensa que nada dá certo para ele, enquanto que aquele que acredita que será bem sucedido no cultivo da terra ou na navegação, ou em qualquer outro negócio que empreenda, é feliz em seu pensamento de prosperidade. Pois bem, você acha que existe algo tão prazeroso quanto o pensamento:"estou crescendo em bondade e estou tornando melhores meus amigos?" E isso, posso afirmar, é meu pensamento constante. Além disso, se a cidade ou os amigos precisarem de ajuda, quem dos dois tem mais disponibilidade para suprir suas necessidades, aquele que vive como eu vivo, ou aquele cuja vida você considera feliz? Qual dos dois vai achar a vida militar mais fácil, aquele que não consegue existir sem o alimento caro ou aquele que se contenta com o que consegue obter? Qual dos dois, quando sitiado, se renderá primeiro, o que deseja fugir do que lhe é penoso ou o que consegue se sair bem com o que tem í mão? Parece que você acha, Antifon, que a felicidade consiste na luxúria e na extravagância. Mas eu creio que não ter necessidades é divino; ter o mínimo possível vem em seguida ao divino; e como o divino é a própria perfeição, quem mais se aproxima do divino mais próximo está da perfeição. – (Xenofonte, Memoráveis)

Texto extraí­do do site Filosofia e Idéias

quinta-feira, 8 de setembro de 2005

Sobre as virtudes - O Amor

Continuando com o Amor...

Não nascemos virtuosos, mas nos tornamos. Como? Pela educação: pela polidez, pela moral, pelo amor. A polidez, como vimos, é um simulacro de moral: agir polidamente é agir como se fôssemos virtuosos. Pelo que a moral começa, no ponto mais baixo, imitando essa virtude que lhe falta e de que no entanto, pela educação, ele se aproxima e nos aproxima. A polidez, numa vida bem conduzida, tem por isso cada vez menos importância, ao passo que a moral tem cada vez mais. É o que os adolescentes descobrem e nos fazem lembrar. Mas isso é apenas o início de um processo, que não poderia deter-se aí. A moral, do mesmo modo, é um simulacro de amor: agir moralmente é agir como se amássemos. Pelo que a moral advém e continua, imitando esse amor que lhe falta, que nos falta, e de que no entanto, pelo hábito, pela interiorização, pela sublimação, ela também se aproxima e nos aproxima, a ponto í s vezes de se abolir nesse amor que a atrai, que a justifica e a dissolve. Agir bem é, antes de tudo, fazer o que se faz (polidez), depois o que se deve fazer (moral), enfim, í s vezes, é fazer o que se quer, por pouco que se ame (ética). Como a moral liberta da polidez consumando-a (somente o homem virtuoso não precisa mais agir como se o fosse), o amor, que consuma por sua vez a moral, dela nos liberta: somente quem ama não precisa mais agir como se amasse. É o espírito dos Evangelhos ("Ama e faz o que quiseres"), pelo que Cristo nos liberta da Lei, explica Spinoza, não a abolindo, como queria estupidamente Nietzsche, mas consumando-a ("Não vim para revogar, vim para cumprir"), isto é, comenta Spinoza, confirmando-a e inscrevendo-a para sempre "no fundo dos corações". A moral é esse simulacro de amor, pelo qual o amor, que dela nos liberta, se torna possível. Ela nasce da polidez e tende ao amor; ela nos faz passar de uma a outro. É por isso que, mesmo austera, mesmo desagradável, nós a amamos.

Texto extraído do livro Pequeno Tratado das Grandes Virtudes
De André Comte-Sponville

segunda-feira, 5 de setembro de 2005

Paz

Aos nossos mais implacáveis adversários, diremos: “Corresponderemos à vossa capacidade de nos fazer sofrer com a nossa capacidade de suportar o sofrimento. Iremos ao encontro da vossa força física com a nossa força do espírito. Fazei-nos o que quiserdes e continuaremos a amar-vos. O que não podemos, em boa consciência, é acatar as vossas leis injustas, pois tal como temos obrigação moral de cooperar com o bem, também temos a de não cooperar com o mal. Podeis prender-nos e amar-vos-emos ainda. Assaltais as nossas casas e ameaçais os nossos filhos, e continuaremos a amar-vos. Enviais os vossos embuçados perpetradores da violência para espancar a nossa comunidade quando chega a meia-noite, e, quase mortos, amar-vos-emos ainda. Tendes, porém, a certeza de que acabareis por ser vencidos pela nossa capacidade de sofrimento. E quando um dia alcançarmos a vitória, ela não será só para nós; tanto apelaremos para a vossa consciência e para o vosso coração que vos conquistaremos também, e a nossa vitória será dupla vitória”. O amor é a força mais perdurável do mundo. Este poder criador, tão belamente exemplificado na vida de nosso Senhor Jesus Cristo, é o instrumento mais poderoso e eficaz para a paz e a segurança da humanidade. Diz-se que Napoleão Bonaparte, o grande gênio militar, recordando a sua anterior época e conquistas, teria observado: “Tanto Alexandre como César, Carlos Magno ou eu próprio, criamos grandes impérios. Mas onde se apoiaram eles? Unicamente na força. Jesus, há séculos, iniciou a construção de um império fundado no amor, e vemos hoje ainda milhões de pessoas que morrem por Ele”. Ninguém pode duvidar da veracidade dessas palavras. Os grandes chefes militares do passado desapareceram, os seus impérios ruíram e desfizeram-se em cinza; mas o império de Jesus, edificado solidamente e majestosamente nos alicerces do amor, continua a progredir. Começou por um punhado de homens dedicados que, inspirados pelo Senhor, conseguiram abalar as muralhas do Império Romano e levar o Evangelho ao mundo todo. Hoje, o reino de Cristo na terra compreende mais de um bilhão de pessoas e reúne todas as nações ou tribos.

Martin Luther King Jr.
Texto na í­ntegra

domingo, 4 de setembro de 2005

Insatisfação

Se quisermos nos liberar da insatisfação constante, teremos que compreender a natureza do desejo para sermos capazes de ter prazer diante da satisfação!

O budismo nos ensina que o problema não se encontra em nossos objetos de desejo, mas sim nas convicções que temos a respeito deles. Se as qualidades dos objetos de desejo fossem próprias deles, eles nos despertariam sempre as mesmas sensações. No entanto, o que eu hoje considero como algo profundamente atraente, em outro momento posso vir a sentir repugnância. Todos nós já experimentamos desejo e aversão por uma mesma pessoa. Ou seja, a primeira coisa que devemos ter em mente é que nada existe por si só, tudo resulta de nossas percepções.

Neste sentido, a origem da insatisfação de um desejo está em nosso hábito de nos apegarmos aos prazeres sensoriais como se eles fossem algo real e, portanto, constante. Quantas qualidades ilusórias atribuímos às coisas e às pessoas, pensando que elas poderiam existir por elas mesmas independentemente de nossos humores!

Reconhecer que nossas projeções são exageradas, sem dúvida é um passo importante. No entanto, isto não significa cultivar um olhar neutro em relação ao tudo e a todos. Pois tal postura representa outra projeção ilusória, apenas disfarçada por um mecanismo de defesa da negação. O ponto é simples, no entanto tão profundo que em geral encontramos dificuldade de reconhecê-lo. Por isso vamos repassá-lo: sofremos de insatisfação por que atribuímos aos nossos objetos de desejo qualidades que não estão neles, mas sim em nossa mente! Mas como não nos damos conta de tal erro, continuamos buscando fora o que está dentro de nós!

O passo seguinte para nos libertarmos da insatisfação consiste em renunciar a esta visão errônea. Sem dúvida, este é um processo longo e complexo, pois isto significa nos libertar de um hábito extremamente arraigado: buscar felicidade constante em algo ou em pessoas que, em essência, são transitórias.

É importante compreender que renúncia não significa abandonar o prazer ou negar a felicidade, mas sim abandonar nossas expectativas que algo será capaz de nos satisfazer constantemente. O budismo tibetano não condena o prazer, como se ele fosse a origem de nossos pecados. Aliás, a palavra pecado nem existe no vocabulário tibetano. O que esta filosofia nos alerta é que a origem de nosso sofrimento está no modo de pensar ávido e exagerado.

Texto de Bel Cesar
Leia na í­ntegra

quarta-feira, 31 de agosto de 2005

Gita

"Eu que já andei
Pelos quatro cantos do mundo
Procurando
Foi justamente num sonho
Que Ele me falou"

Às vezes você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado
Não falo de amor quase nada
Nem fico sorrindo ao teu lado...

Você pensa em mim toda hora
Me come, me cospe, me deixa
Talvez você não entenda
Mas hoje eu vou lhe mostrar...

Eu sou a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o mêdo de amar...

Eu sou o medo do fraco
A força da imaginação
O blefe do jogador
Eu sou, eu fui, eu vou..

Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!

Eu sou o seu sacrifício
A placa de contra-mão
O sangue no olhar do vampiro
E as juras de maldição...

Eu sou a vela que acende
Eu sou a luz que se apaga
Eu sou a beira do abismo
Eu sou o tudo e o nada...

Por que você me pergunta?
Perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra
Do fogo, da água e do ar...

Você me tem todo dia
Mas não sabe se é bom ou ruim
Mas saiba que eu estou em você
Mas você não está em mim...

Das telhas eu sou o telhado
A pesca do pescador
A letra "A" tem meu nome
Dos sonhos eu sou o amor...

Eu sou a dona de casa
Nos pegue pagues do mundo
Eu sou a mão do carrasco
Sou raso, largo, profundo...

Gita! Gita! Gita!
Gita! Gita!

Eu sou a mosca da sopa
E o dente do tubarão
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão...

Euuuuuu!
Mas eu sou o amargo da língua
A mãe, o pai e o avô
O filho que ainda não veio
O início, o fim e o meio
O início, o fim e o meio
Euuuuu sou o início
O fim e o meio
Euuuuu sou o início
O fim e o meio...

Raul Seixas

terça-feira, 30 de agosto de 2005

Dissolução da dualidade

Príncipio da Dissolução da Dualidade. Um dos príncipios do Taoísmo, brilhantemente abordado por Ricardo Kelmer:

O mito cristão da expulsão do Jardim do Éden é uma maneira simbólica (e nem por isso menos verdadeira) de explicar o processo da criação da consciência humana. Com uma forma mais refinada de consciência nossos ancestrais se diferenciaram de seus parentes hominídeos e começaram a se questionar sobre a realidade. Assim surgiram as dualidades, tão necessárias ao crescimento psíquico da espécie.

Bem e mal, mente e corpo, luz e sombra, vida e morte. De repente a existência tornou-se um grande mercado de conceitos e opostos por onde a espécie teria de se movimentar e se situar no contexto geral da existência.

Que mal há nos opostos da vida? Em si, nada. Eles de fato são necessários durante uma determinada etapa de aprimoramento da consciência. Porém, ao fragmentar a realidade em contrários, tendemos à identificação com um deles e desprezamos o outro. Desse modo nos limitamos a percorrer o grande mercado dos conceitos tendo de escolher o tempo todo entre isso e aquilo, o que termina por limitar nossas escolhas e nossa própria compreensão da vida. Tornamo-nos assim unilaterais. Acostumamo-nos a enxergar a realidade de forma fragmentada e fica cada vez mais difícil perceber sua natureza una. Assim nos aliamos ao que consideramos certo e entendemos que é errado tudo que não se alinha conosco. Assim surge o medo do outro, a intolerância e os preconceitos – assim surgem as guerras. Porque nunca identificamos o mal em nós mesmos.

Ao seguir o Tao, ruem por terra os opostos. Eles continuam existindo mas agora são usados pelo taoísta de forma diferente. Ao entender que não somos nem nunca seremos um dos opostos mas sempre os dois, começamos a lidar melhor com nossos defeitos e, consequentemente, com os defeitos dos outros. Somente essa compreensão já transforma o mundo, não duvide.

Agora veja só: se isso ocorre em termos de conceitos morais, o que dizer de conceitos como aqui e ali, ontem e amanhã? Se o taoísmo nos guia naturalmente para a dissolução dos opostos, ele aqui nos conduz também para uma compreensão mais abrangente do espaço e do tempo, onde as divisíµes começam a sumir feito névoa e nos surge… a percepção da unicidade! Surge-nos a indescritível sensação de perceber que na verdade tudo é uma coisa só, até mesmo o tempo e o espaço.

Deixei por último, de propósito, uma categoria de opostos: eu e o outro. Eu e aquilo que não sou eu. No polêmico mercado dos conceitos humanos certamente é esse o mais intrigante e limitador dos contrários. Sendo o mais difícil de superar, por isso mesmo deve esconder o mais libertador dos segredos. Qual será?

Por Ricardo Kelmer
Texto na í­ntegra

Dogma - uma análise do filme

Certas obras artísticas traduzem bem os movimentos que sacodem os subterrâneos do inconsciente comum da humanidade. O filme Dogma é um desses. Seu tema principal é um antiquíssimo e poderoso arquétipo que vive na alma coletiva da espécie desde seus primórdios: a idéia de Deus.

Que a relação da humanidade com esse arquétipo vem de muito longe, isso não é novidade. O que assusta algumas pessoas de religiosidade mais ortodoxa é dizer que, como numa relação todas as partes envolvidas são sempre afetadas, na relação da humanidade com Deus mudamos nós, humanos e… Deus também teve de mudar! E ai dele se não mudasse.

Dos deuses-forças da Natureza, passando pelos deuses do Olimpo, até a idéia de um deus único e todo-poderoso, muita água rolou por baixo da ponte, muitas noites em claro. Essa difícil relação entre criador e criatura é uma verdadeira saga onde não faltam conflitos, sofrimentos, dilemas, heróis e mártires. As mitologias de todo o mundo formam um mosaico precioso para entender melhor essa saga; no entanto, na carona do filme Dogma, tomemos a Bíblia: ela pode ser vista (também) como o registro simbólico da evolução do conceito de Deus de boa parte da humanidade. Assim veremos perfeitamente como ambas as partes da relação evoluíram com o tempo, criador e criatura.

A mordida no fruto proibido simboliza o advento da consciência, o momento histórico em que um ramo dos hominídeos se diferencia pelo refinamento de sua mente. Antes eram todos mergulhados na inconsciência geral, na indiferenciação psíquica: era o Éden. Nem felizes nem infelizes: simplesmente não se questionavam. Evoluída a mente, surge a consciência, feito uma extensão de terra que aos poucos se eleva do fundo do oceano inconsciente e põe a cabeça de fora: é a terra que, em forma de ilha, adquire consciência sobre si mesma e sobre o que a rodeia.

No entanto a autoconsciência tem seu preço. O despertar para um novo nível de compreensão da realidade e de si mesmo traz sempre novas dúvidas e grandes desafios. Ao adquirir a autoconsciência, nossos antepassados foram expulsos do tranquilo paraíso do não-saber. E saíram dele com a pergunta que a partir daí jamais se calaria: quem nos criou e onde diabos estará?

Por Ricardo Kelmer
Texto na í­ntegra

quinta-feira, 25 de agosto de 2005

Sermão do monte

Se todos os livros já escritos sobre religião desaparecessem repentinamente, mas ainda houvesse o Sermão da Montanha, seria mais do que suficiente. – Mahatma Ghandi

A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes são tais trevas! Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e à s riquezas. Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário?
Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas? Ora, qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um cí´vado à sua estatura? E pelo que haveis de vestir, por que andais ansiosos? Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam; contudo vos digo que nem mesmo Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé?

Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que havemos de comer? ou: Que havemos de beber? ou: Com que nos havemos de vestir? (Pois a todas estas coisas os gentios procuram.) Porque vosso Pai celestial sabe que precisais de tudo isso. Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.

Mt 6:22-34

domingo, 21 de agosto de 2005

A profundidade de Krishnamurti

Alguns trechos interessantes sobre o Krishnamurti.

O compromisso
Em 1980, seis anos antes de morrer, Krishnamurti estava fazendo uma palestra em Brockwood, na Inglaterra, quando foi questionado sobre os motivos que o levaram a continuar falando, após 50 anos, como mensageiro, gastando energia, quando ninguém parecia mudar. Ele sábia e serenamente respondeu: “Antes de mais nada, eu não dependo de vocês como um grupo que vem ouvir o palestrante. O orador não está ligado a nenhum grupo em particular, nem está precisando de uma assembléia. Penso que quando alguém vê algo verdadeiro e belo, ele quer contar í s pessoas sobre isso, por afeição, por compaixão, por amor. E, se não houver quem esteja interessado, tudo bem, mas aqueles que estão interessados, talvez eles possam reunir-se. Você pode perguntar à flor por que ela cresce, por que ela tem perfume? É pela mesma razão que o orador fala”.

A renúncia a títulos preestabelecidos
Em Madras, em 1947, aqueles que tinham contato com o homem Krishnamurti e com a essência de seus ensinamentos estavam perplexos com o fato de ele ter sido anunciado pela Sociedade Teosófica como sendo o Messias e o instrutor do mundo e ter renunciado a esse papel.
Krishnamurti tentou responder a essa questão contando uma história: “O diabo e um amigo estavam passeando quando viram, a sua frente, um homem abaixar-se e pegar algo brilhante do chão. O homem olhou para aquilo com deleite, colocou-o no bolso e continuou caminhando. O amigo perguntou: “O que aquele homem achou que o transformou tanto?” O diabo respondeu: “Eu sei, ele encontrou a verdade.” “Por Deus!”- exclamou seu amigo: “Isto deve ser um mau negócio para você!”. “De jeito nenhum”- o diabo respondeu com um sorriso malicioso: “Vou ajudá-lo a organizá-la, você vai ver só!”
Krishnamurti indaga: “Pode a verdade ser organizada? Você pode encontrar a verdade através de uma organização? Elas estão baseadas em diferentes crenças. Crenças e organizações estão sempre separando as pessoas, excluindo umas das outras. Você é um hindu e eu sou um mulçumano, você é um cristão e eu sou um budista. Crenças, ao longo de toda a história, atuaram como uma barreira entre os seres humanos. Nós falamos de fraternidade, mas se você tem uma crença diferente da minha, estou pronto para cortar sua cabeça; nós temos visto isso acontecer inúmeras vezes.
E prossegue; “A experiência de Deus deve ser experimentar por si mesmo. Ela não pode ser organizada. No momento que é organizada, propagada, ela cessa de ser verdade, ela se torna uma mentira. O real, o imensurável, não pode ser formulado, não pode ser colocado em palavras. O desconhecido não pode ser medido pelo conhecido, pela palavra. Quando você o mede, ele cessa de ser verdade, deixa de ser real e, portanto, é uma mentira”.

Por Ana Elizabeth Diniz
Leia o texto na íntegra no site
Jornal Infinito

quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Ego - o falso centro

Alguns trechos de um excelente texto a respeito do Ego. Recomento a leitura completa

O verdadeiro só pode ser conhecido através do falso, portanto, o ego é uma necessidade. Temos que passar por ele. Ele é uma disciplina. O verdadeiro só pode ser conhecido através da ilusão. Você não pode conhecer a verdade diretamente. Primeiro você tem que conhecer aquilo que não é verdadeiro. Primeiro você tem que encontrar o falso. Através desse encontro, você se torna capaz de conhecer a verdade. Se você conhece o falso como falso, a verdade nascerá em você.

O ego está sempre abalado, sempre à procura de alimento, de alguém que o aprecie. E é por isso que você está continuamente pedindo atenção. Você obtém dos outros a idéia de quem você é. Não é uma experiência direta. É dos outros que você obtém a idéia de quem você é. Eles modelam o seu centro. Mas esse centro é falso, enquanto que o centro verdadeiro está dentro de você. O centro verdadeiro não é da conta de ninguém. Ninguém o modela. Você vem com ele. Você nasce com ele. Assim, você tem dois centros. Um centro com o qual você vem, que lhe é dado pela própria existência. Esse é o eu. E o outro centro, que é criado pela sociedade - o ego. Esse é algo falso - é um grande truque.

Tente entender isso. E comece a procurar o ego - não nos outros, isso não é da sua conta, mas em você. Toda vez que se sentir infeliz, imediatamente feche os olhos e tente descobrir de onde a infelicidade está vindo, e você sempre descobrirá que o falso centro entrou em choque com alguém. Você esperava algo e isso não aconteceu. Você espera algo e justamente o contrário aconteceu - seu ego fica estremecido, você fica infeliz. Simplesmente olhe, sempre que estiver infeliz, tente descobrir a razão. As causas não estão fora de você. A causa básica está dentro de você - mas você sempre olha para fora, você sempre pergunta: 'Quem está me tornando infeliz?' 'Quem está causando a minha raiva?' 'Quem está causando a minha angústia?' Se você olhar para fora, você não perceberá. Simplesmente feche os olhos e sempre olhe para dentro. A origem de toda a infelicidade, da raiva e da angústia, está oculta dentro de você, é o seu ego.

É difícil ver o próprio ego. É muito fácil ver o ego nos outros. Mas esse não é o ponto, você não os pode ajudar. Tente ver o seu próprio ego. Simplesmente o observe.


Osho, Além das Fronteiras da Mente
Texto extraído do site Osho Brasil

segunda-feira, 15 de agosto de 2005

A Caverna de Platão

E agora, deixa-me mostrar, por meio de uma comparação, até que ponto nossa natureza humana vive banhada em luz ou mergulhada em sombras. Vê! Seres humanos vivendo em um abrigo subterrâneo, uma caverna, cuja boca se abre para a luz, que a atinge em toda a extensão. Aí sempre viveram , desde crianças, tendo as pernas e o pescoço acorrentados, de modo que não podem mover-se, e apenas vêem o que está à sua frente, uma vez que as correntes os impedem de virar a cabeça.

Acima e por trás deles, um fogo arde a certa distância e, entre o fogo e os prisioneiros, a uma altura mais elevada, passa um caminho. Se olhares bem verá uma parede baixa que se ergue ao longo desse caminho, como se fosse um anteparo que os animadores de marionetes usam para esconder-se enquanto exibem os bonecos.

Pois esses seres são como nós. Vêem apenas suas próprias sombras, ou as sombras uns dos outros, que o fogo projeta na parede que lhes fica à frente. - Platão, República, Livro 7

Platão (c.428-348 a.C.) não achava que este era o melhor dos mundos. É uma espécie de prisão, escreveu ele, onde estamos trancafiados em escuridão e sombras. Mas além dessa prisão reside um brilhante e esperançoso mundo de verdades que ele chamou de idéias ou ideais, e é por isso que chamamos essa doutrina de idealismo.

Platão desenvolve suas doutrinas idealistas de forma notável na República, onde seu porta-voz, como de hábito, é seu mestre, Sócrates. (Desconhece-se até que ponto Sócrates realmente sustentava os pontos de vista de Platão.) Sócrates compara nosso mundo cotidiano a um “abrigo subterrâneo”, uma caverna onde somos mantidos acorrentados. À nossa frente ergue-se uma parede e atrás de nós, uma fogueira.

Incapazes de virar a cabeça, vemos somente as sombras projetadas na parede pelo fogo.

Nada conhecendo além disso, naturalmente tomamos essas sombras por “realidade”. Os seres humanos, nossos companheiros, assim como todos os objetos da caverna, para nós não passam de sombras; não têm, para nós, outra realidade além dessa.

Mas se pudéssemos nos libertar das correntes, se pudéssemos ao menos nos virar para a entrada da caverna, poderíamos constatar o nosso erro. A princípio, a luz direta nos seria dolorosa e perturbadora. Porém, logo nos adaptaríamos e começaríamos a perceber as pessoas e objetos reais, que só conhecíamos em forma de sombras. Mesmo assim, devido ao hábito, nos agarraríamos às sombras, ainda acreditando que elas fossem reais, e suas fontes, apenas ilusões. Mas se fossemos tirados da caverna para a luz, cedo ou tarde chegaríamos à visão correta das coisas e lamentaríamos nossa antiga ignorância.

A analogia de Platão é um ataque aos nossos hábitos de pensamento. Estamos acostumados, diz ele, a aceitar os objetos concretos que nos cercam como “reais”. Mas eles não são. Ou melhor, eles são só cópias imperfeitas e menos “reais” de “formas” imutáveis e eternas. Essas formas, como Platão as define, são as realidades permanentes, ideais e originais a partir das quais (de alguma forma) são construídas cópias concretas imperfeitas e corruptíveis. Por exemplo, cada cadeira em nosso familiar mundo de objetos é meramente uma imitação, ou “sombra”, da Cadeira Ideal. Cada escrivaninha é uma cópia da Escrivaninha Ideal, que nunca muda, que existe pela eternidade, e na qual você nunca pode derramar café.

Essas cadeiras e escrivaninhas ideais, segundo Platão, não são fantasias; elas são de fato mais “reais” que suas imitações materiais, porque são mais perfeitas e universais. Entretanto, como nossos sentidos corrompidos têm sido sempre enganados, nós somos cegos para o mundo dos ideiais. Nossas mentes estão escravizadas a imitações que nós, desta maneira, confundimos com a realidade. Somos prisioneiros em uma caverna filosófica.

Texto extraído do site Filosofia e Idéias

quinta-feira, 11 de agosto de 2005

O vaso

Certo dia, num mosteiro zen-budista, com a morte do guardião foi preciso encontrar um substituto. O grande Mestre convocou então todos os discípulos para determinar quem seria o novo sentinela. O Mestre, com muita tranquuml;ilidade, falou:

- Assumirá o posto o primeiro monge que resolver o problema que vou apresentar.

Então, ele colocou uma mesinha magnífica no centro da enorme sala em que estavam reunidos e, em cima dela, pôs um vaso de porcelana muito raro, com uma rosa amarela de extraordinária beleza a enfeitá-lo e disse apenas:

- Aqui está o problema!

Todos ficaram olhando a cena. O vaso belíssimo, de valor inestimável, com a maravilhosa flor ao centro. O que representaria? O que fazer? Qual o enigma?

Nesse instante, um dos discípulos sacou a espada, olhou o Mestre, os companheiros, dirigiu-se ao centro da sala e … ZAPT … destruiu tudo, com um só golpe. Tão logo o discípulo retornou a seu lugar, o Mestre disse:

- Você será o novo Guardião do Castelo.

Moral da História: Não importa qual o problema. Nem que seja algo lindíssimo. Se for um problema, precisa ser eliminado. Um problema é um problema. Mesmo que se trate de uma mulher sensacional, um homem maravilhoso ou um grande amor que se acabou. Por mais lindo que seja ou, tenha sido, se não existir mais sentido para ele em sua vida, tem que ser suprimido.

Muitas pessoas carregam a vida inteira o peso de coisas que foram importantes no passado, mas que hoje somente ocupam um espaço inútil em seus corações e mentes. Espaço esse indispensável para recriar a vida. Existe um provérbio oriental que diz: “Para você beber vinho numa taça cheia de chá é necessário primeiro jogar o chá fora, para então, beber o vinho.”

Ou seja, para aprender o novo, é essencial desaprender o velho.


Texto extraído do Saindo da Matrix

quarta-feira, 13 de abril de 2005

Sobre as virtudes - A Simplicidade

Continuando com a Simplicidade…

A SIMPLICIDADE

Ele (o simples) não se interessa suficientemente para se julgar. Para ele, a misericórdia faz as vezes de inocência, ou a inocência, talvez, de misericórdia. Ele não se leva nem a sério nem a trágico. Segue seu pequeno caminho, de coração leve, alma em paz, sem objetivo, sem nostalgia, sem impaciência. O mundo é seu reino, e lhe basta. O presente é sua eternidade, e o satisfaz. Nada tem a provar, pois não quer parecer nada. Nada tem a buscar, pois tudo está ali. Há coisa mais simples que a simplicidade? Há coisa mais leve? É a virtude dos sábios, e a sabedoria dos santos.

Texto extraído do livro Pequeno Tratado das Grandes Virtudes
De André Comte-Sponville

terça-feira, 12 de abril de 2005

Sobre as virtudes - A Temperança

Estou lendo um livro chamado "Pequeno Tratado das Grandes Virtudes" de André Comte-Sponville, e alguns pontos em particular me chamaram a atenção.
Vou iniciar com alguns trechos que falam sobre a temperança.

A TEMPERANÇA

A temperança é essa moderação pela qual permanecemos senhores de nossos prazeres, em vez de seus escravos. É o desfrutar livre, e que, por isso, desfruta melhor ainda, pois desfruta também sua própria liberdade. Que prazer é fumar, quando podemos prescindir de fumar! Beber, quando não somos prisioneiros do álcool! Fazer amor, quando não somos prisioneiros do desejo! Prazeres mais puros, porque mais livres. Mais alegres, porque mais bem controlados. Mais serenos, porque menos dependentes.

O intemperante é um escravo, mais subjugado ainda por transportar em toda parte seu amo consigo. Prisioneiro de seu corpo, prisioneiro de seus desejos ou de seus hábitos, prisioneiro de sua força ou de sua fraqueza.

Numa sociedade não muito miserável, a água e o pão não faltam quase nunca. Na sociedade mais rica, o ouro ou o luxo sempre faltam. Como seríamos felizes uma vez que somos insatisfeitos? E como seríamos satisfeitos uma vez que nossos desejos não têm limites?

Não é o corpo que é insaciável. A ilimitação dos desejos, que nos condena à falta, à insatisfação ou à infelicidade, nada mais é que uma doença da imaginação. Temos sonhos maiores que a barriga, e censuramos absurdamente nossa barriga por sua pequenez!


Texto extraído do livro Pequeno Tratado das Grandes Virtudes
De André Comte-Sponville

quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

Sem amor

A inteligência sem amor, te faz perverso.
A justiça sem amor, te faz implacável.
A diplomacia sem amor, te faz hipócrita.
O êxito sem amor, te faz arrogante.
A riqueza sem amor, te faz avaro.
A docilidade sem amor te faz servil.
A pobreza sem amor, te faz orgulhoso.
A beleza sem amor, te faz ridículo.
A autoridade sem amor, te faz tirano.
O trabalho sem amor, te faz escravo.
A simplicidade sem amor, te deprecia.
A oração sem amor, te faz introvertido.
A lei sem amor, te escraviza.
A política sem amor, te deixa egoísta.
A fé sem amor te deixa fanático.
A religião sem amor se converte em tortura.

Autor desconhecido

terça-feira, 18 de janeiro de 2005

Queremos saber

Queremos saber,
O que vão fazer
Com as novas invenções
Queremos notícia mais séria
Sobre a descoberta da antimatéria
e suas implicações
Na emancipação do homem
Das grandes populações
Homens pobres das cidades
Das estepes dos sertões
Queremos saber,
Quando vamos ter
Raio laser mais barato
Queremos, de fato, um relato
Retrato mais sério do mistério da luz
Luz do disco voador
Pra iluminação do homem
Tão carente, sofredor
Tão perdido na distância
Da morada do senhor Queremos saber,
Queremos viver
Confiantes no futuro
Por isso se faz necessário prever
Qual o itinerário da ilusão
A ilusão do poder
Pois se foi permitido ao homem
Tantas coisas conhecer
É melhor que todos saibam
O que pode acontecer
Queremos saber, queremos saber
Queremos saber, todos queremos saber

Gilberto Gil

Sinais

Conta-se que um velho árabe analfabeto orava com tanto fervor e com tanto carinho, cada noite, que certa vez, o rico chefe de uma grande caravana chamou-o à sua presença e lhe perguntou :

- Por que oras com tanta fé? Como sabes que DEUS existe, quando nem ao menos sabes ler?

O crente fiel respondeu :

- Grande senhor, conheço a existência de Nosso Pai Celeste pelos sinais dele.
- Como assim? indagou o chefe, admirado.

O servo humilde explicou :

- Quando o senhor recebe uma carta de pessoa ausente, como reconhece quem a escreveu?
- Pela letra - respondeu
- Quando o senhor recebe uma jóia, como é que se informa sobre o autor dela?
- Pela marca do ourives.

O servo sorriu e acrescentou :

- Quando ouves passos de animais, ao redor da tenda, como sabes, depois, se foi um carneiro, um cavalo, um boi ?
- Pelos rastros. - respondeu o chefe, surpreendido.

Então, o velho crente convidou-o para fora da barraca e, mostrando-lhe o céu, onde a lua brilhava, cercada por multidões de estrelas, exclamou, respeitoso :

- Senhor, aqueles sinais lá em cima, não podem ser de homens!

Autor desconhecido