sexta-feira, 28 de outubro de 2005

Ainda vaidade

Sê bom,
mas ao coração
Prudência e cautela ajunta
Quem todo de mel se unta
Os ursos o lamberão

Mário Quintana

Vaidade de vaidades

Palavras do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém: Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades, É tudo vaidade.Eclesiastes 1:1 e 2

Cada dia fico mais fascinado pelos escritos de Salomão. Sua sabedoria, sobrepuja o conhecimento humano, e suas palavras no livro sagrado, deixam conselhos que parecem tão atuais, que as vezes penso que ele escreveu seus livros nos dias de hoje. Uma coisa que não sabia é que Salomão além de Rei, ele era pregador. Com certeza esta é uma caracteristica nobre deste notavel pensador. Sua mensagem de abertura no livro de Eclesiastes começa falando da vaidade. A definição da profissão e filiação do autor, tem por objetivo dar credibilidade as suas palavras. O sentido espiritual da sua profissão é revelado quando ele repete no versciculo 2 a afirmativa de que ele é pregador. Talvez se ele tivesse se definido com o rei, a sua mensagem teria sido levada mais a sério. Entretanto, Salomão iniciou seu livro falando da vaidade das vaidades. E é exatamente por isso, que ele introduziu o seu livro de conselhos se denominando pregador, e exaltando o nome do seu pai. Com certeza esta introdução foi bem mais apropriada, ja que ele estava falando de vaidade.

Eu fui ao dicionário para compreender o significado da palavra vaidade. O que encontrei foi o seguinte: “Qualidade do que é vão, instavél, ou de pouca duração. Desejo imoderado e infundado de merecer a admiração dos outros. Vanglória, ostentação, futilidade.” Ao ler estas definições, pude verificar quão profundamente elas estão arraigadas na vida do ser humano. Salomão estava certissimo quando iniciou seu livro definindo a vida humana como sendo uma vaidade. Quem é que não quer ser notavel, brilhante em sua atuação. Todos apreciamos deveras, glória e vanglória. Aliás a natureza humana pos si própria, sempre está se vanglóriando de alguma coisa. Mas o que mais me impressiona nestas definições de vaidade, é que seja qual for a natureza da vaidade, ela será sempre passageira e de pouca duração.

Quando nós vivemos a vida em proveito próprio, nos atingimos o apogeu da vaidade. E esta é a vaidade das vaidades, que Salomão está falando. Por isso ele diz: “É tudo vaidade.” Como Cristãos temos que aprender de Cristo Jesus. So Ele pode nos livrar das vaidades temporais deste mundo. So Ele pode nos levar a pensar no semelhante, no necessitado, no pecador. São Paulo disse: “…não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus…” Galátas 3:20. Jesus é o antidoto contra a vaidade humana. Viver com Cristo é uma experiência que supera a vaidade das vaidades. É acrescentar dividendos eternos no caráter, a unica coisa desta terra, que vamos levar para eternidade. Que neste Sábado possamos compreender que tudo na nossa vida é vaidade, e que somente Jesus, pode pegar esta vinda instavél e de pouca duração, e nos dar a segurança eterna. E louvado seja Deus por isso!

Pr. Dilson Bezerra
Dallas Brazilian SDA Church
Bíblia OnLine

segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Não há religião superior à Verdade

[...] Mas como dissemos anteriormente, ouvir palavras que expressam a verdade não é o mesmo que compreender esta verdade. As palavras são apenas mapas, e como mapas não podem trazer a experiência do território, as palavras não podem tornar-se um substituto para o conhecimento direto que é a verdade. Infelizmente a substituição continua sempre; assim as palavras fascinam a mente de tal maneira que ela cai na ilusão de que conhece o fato ou a verdade. Krishnamurti falou muitas vezes sobre a palavra não ser a coisa: a palavra “árvore” não é a árvore. Em A Primeira e Última Liberdade, ele disse sobre a Verdade e a Mentira: “Quando você ouve as palavras “Ama o próximo”, isto é uma verdade para você? Isto é verdade somente quando você ama seu próximo; e este amor não pode ser repetido, somente a palavra pode ser repetida. Ainda assim, muitos de nós ficamos felizes com a repetição de “ama teu próximo” ou de “não cobiçar”. Portanto, a verdade de outro ou uma experiência real que voce tenha tido, não se tornam uma realidade apenas pela repetição. Pelo contrário, a repetição impede a realidade”. Isto implica que a verdade não pode ser passada de um para outro. Nenhum guru pode agir como um procurador. Assim como um medicamento não pode ser tomado por um substituto, mesmo por um pai dedicado quando um filho cai doente, é insensatez acreditar que a sabedoria do guru nos curará da cegueira espiritual. Não há alternativa para a experiência direta da verdade por cada pessoa. A menos que seja conhecida intimamente, não é a verdade —mas somente uma sombra enganadora. [...]

[...] Assim, a religião e a ciência interrompem inesperadamente sua dedicação à verdade. Elas falham em seu papel declarado de promover a busca pela verdade porque isto poderia alijar tudo que se refere ao auto-interesse. Madame Blavatsky comparou as duas a dragões dos tempos antigos “um devorando o intelecto; o outro, as almas dos homens”. Mais adiante ela diz “mesmo assim, elas podem reconciliar-se com a condição de que ambas devam limpar suas casas, uma das antigas escórias humanas, e a outra das excrescências terríveis do materialismo moderno”. [...]

[...] Para descobrir a verdade sobre a religião ou qualquer assunto, devem ser descartados preconceitos e preferências pessoais. Esta é a abordagem científica, que é tão valiosa nesta área como o é ao investigar fatos e fenômenos materiais. Somos condicionados a ver tudo sob um ponto de vista pessoal, “meu” país, “minha” raça, “minha” religião ou “minha” classe social. A Humanidade foi descrita como um enorme corpo cujos membros guerreiam entre si. Involuntariamente nos situamos como parte de uma raça, de um país, de uma classe ou sexo; na maioria das vezes, até mesmo a religião é herdada, e não é escolhida com inteligência. Portanto, de geração em geração, preconceitos baseados em rótulos como hindu, cristão, muçulmano, alto, baixo, etc., levam a conflitos e a outras graves calamidades. Somente uma mente investigadora pode livrar-se destas limitações da mente pessoal e perceber que o progresso humano é essencialmente um crescimento da compreensão dos valores que harmonizam e unificam. Ser verdadeiramente religioso significa aprender a ser uno com todas as coisas vivas, e a incorporar valores como bondade e compaixão, simplicidade e desapego, ausência de orgulho e vaidade. O profeta Maomé ensinou que “a benevolência e a cortesia são atos de piedade” (Sayings of Muhammad, Dr. Suhrwardy, 1905, p. 4). Quando crenças, rituais e práticas que separam as pessoas não são identificadas com a religião e são deixadas de lado, a paz se torna uma realidade maior.[...]

Palestra proferida por Radha Burnier,
em 1º de agosto de 1998, no Habitat Centre, Nova Delhi
Texto na íntegra

sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Sobre os filhos

Uma mulher que carregava o filho nos braços disse: “Fala-nos dos filhos.”
E ele falou:
Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável.

O Profeta
Gibran Kalil Gibran
(Em homenagem a meu filho Luiz Ricardo)

quarta-feira, 12 de outubro de 2005

No país das maravilhas

Morfeu: Finalmente, bem-vindo, Neo; como você deve ter adivinhado, eu sou Morfeu.
Neo: É uma honra conhecê-lo.
Morfeu: Não, a hora é minha, por favor, venha, sente-se. Eu imagino que você esteja se sentindo um pouco como a Alice, entrando pela toca do coelho.
Neo: Você tem razão.
Morfeu: Eu vejo nos seus olhos, você tem o olhar de um homem que aceita o que vê, porque está esperando acordar, ironicamente, não deixa de ser verdade. Você acredita em destino, Neo?
Neo: Não.
Morfeu: Porque não?
Neo: Não gosto de pensar que não controlo minha vida.
Morfeu: Sei exatamente o que quer dizer, vou te dizer porque está aqui. Você sabe de algo, não consegue explicar o que, mas você sente, você sentiu a vida inteira. Há algo errado com o mundo, você não sabe o que é, mas há, como um zunido na sua cabeça te enlouquecendo, foi esse sentimento que te trouxe até mim. Você sabe do que estou falando?
Neo: Da Matrix?
Morfeu: Você deseja saber o que ela é?
A Matrix está em todo o lugar, a nossa volta, mesmo agora, nesta sala, você pode vê-la quando olha pela janela, ou quando liga a sua televisão, você sente quando vai para o trabalho, quando vai a igreja, quando paga os seus impostos. É o mundo que foi colocado diante dos seus olhos para que você não visse a verdade.
Neo: Que verdade?
Morfeu: Que você é um escravo, como todo mundo, você nasceu num cativeiro, nasceu numa prisão que não consegue sentir ou tocar, uma prisão para a sua mente. Infelizmente, é impossível dizer o que é a Matrix. Você tem de ver por si mesmo.
Morfeu: Está é a última chance, depois não há como voltar, se tomar a pílula azul, a história acaba, e você acordará na sua cama acreditando no que quiser acreditar. Se tomar a pílula vermelha, ficará no país da maravilha e eu te mostrarei até onde vai a toca do coelho. Lembre-se, tudo que ofereço é a verdade, nada mais. Siga-me. Apoc, estamos conectados?
Apoc: Quase.

[...]

Neo: Eu estou morto?
Morfeu: Longe disso.
Dujuor: Ele precisa de muito trabalho.
Neo: O que estão fazendo?
Morfeu: Seus músculos atrofiaram, vamos reconstruí-los.
Neo: Porque meus olhos doem?
Morfeu: Porque você nunca os usou, descanse, Neo. As respostas virão.
Neo: Morfeu, o que aconteceu comigo? Que lugar é este?

domingo, 2 de outubro de 2005

Siga o coelho branco

Vamos resumir: um coelho branco é tirado de dentro de uma cartola. E porque se trata de um coelho muito grande, este truque leva bilhões de anos para acontecer. Todas as crianças nascem bem na ponta dos finos pêlos do coelho. Por isso elas conseguem se encantar com a impossibilidade do número de mágica a que assistem. Mas conforme vão envelhecendo, elas vão se arrastando cada vez mais para o interior da pelagem do coelho. E ficam por lá. Lá embaixo é tão confortável que elas não ousam mais subir até a ponta dos finos pêlos, lá em cima. Só os filósofos têm ousadia para se lançar nesta jornada rumo aos limites da linguagem e da existência. Alguns deles não chegam a concluí-la, mas outros se agarram com força aos pêlos do coelho e berram para as pessoas que estão lá embaixo, no conforto da pelagem, enchendo a barriga de comida e bebida:

- "Senhoras e senhores" - gritam eles, "estamos flutuando no espaço!"

Mas nenhuma das pessoas lá de baixo se interessa pela gritaria dos filósofos.

- "Deus do céu! Que caras mais barulhentos!" - elas dizem.

E continuam a conversar: será que você poderia me passar a manteiga? Qual a cotação das ações hoje? Qual o preço do tomate? Você ouviu dizer que a Lady Di está grávida de novo?

Jostein Gaarder
O Mundo de Sofia