segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Escalando o Himalaia

Outrora, desejava eu escalar o distante Himalaia da Ásia, longe de mim…

Em tempos passados, sonhava eu com enigmáticas aventuras em terras longínquas.

Naquele tempo, encantava-me a idéia de atingir as culminâncias do Everest, solitário, perder-me em imensos campos de neve.

Hoje, me fascina a suprema audácia de galgar o Himalaia Crístico de Dentro, as alturas cósmicas do meu próprio ser… em meio aos planetas, estrelas e todas as galáxias existentes.

Hoje, me seduz a divina aventura Crística de atingir o Everest do meu desconhecido Eu… em meio à Aurora Boreal, na imaculada alvura da minha Qualidade Crística… no silêncio da Verdade Infinita, na mística Cristicidade do Eu Sou o Que Sou.

Esta foi a razão de eu haver ultrapassado o profano querer do meu conhecido ego tradicional.

E, Bandeirante Crístico do Infinito, vivo os meus dias e minhas noites em demanda do monte sagrado que, como Sinai, dentro de mim mesmo se ergue, Altíssimo, ignoto, desconhecido, Divino.

Então, em todos os meus sacrifícios encontro prazer e em todas as minhas tristezas encontro alegria.

E, em todas as lágrimas encontro compreensivos sorrisos, porque tudo isso, porque tudo isso são degraus da montanha sagrada, estágios do meu Himalaia Crístico de Dentro.

E, ainda que tempestades desabem ao meu redor, e inquisições e raios fuzilem por cima de mim e abismos negrejem sob meus pés, ainda que sorridentes e floridas esplanadas me convidem a parar, eu sigo avante, rumo ao Everest, vencendo perigos, com os olhos fitos no sublime ideal da minha suprema Formação Crística, rumo ao grande além de dentro.

Rumo ao Himalaia, alcançando o Everest do meu Espírito, na Qualidade de Filho de Deus.

Huberto Rohden

Não sou mestre de ninguém

Não sou mestre de ninguém.
Ninguém é discípulo meu.
Sou como a flecha na encruzilhada,
Cuja missão é apontar o caminho certo -
E depois ser abandonada…
Se o viandante não ultrapassar a seta,
Não cumpre o desejo da mesma.
Ai de mim se eu não for abandonado!
Se o viandante parar diante de mim,
Contemplando a minha forma e cores,
Se, em vez de demandar
A invisível longinqüidade
Se enamorar da minha visível propinqüidade,
Não compreender a minha mensagem,
Que aponta para além de mim,
Rumo ao Infinito. .
Ai de mim, se eu for espelho,
Perante o qual os homens parem
Para se contemplarem a si mesmos,
Em mortífero narcisismo!
Feliz de mim, se eu for janela aberta,
Que permita visão de horizontes longínquos,
Passagem franca para o Infinito!
Não sou mestre de ninguém,
Ninguém é discípulo meu!
Indico a todos o Mestre invisível,
Que habita na alma de cada um
E para além de todos os mundos.
Sinto-me feliz, quando o viajor,
Orientado pela legenda da minha seta,
Me abandona e vai em demanda
Da indigitada meta
Em espontânea liberdade,
Rumo à longínqua felicidade…

Huberto Rohden

Mensagem mefistotélica

Antes de irdes ao vosso centro, loja, cenáculo, igreja, templo, terreiro ou instituição iniciática, reconciliai-vos com os vossos inimigos; antes da prece recitada em público, lamuriosa e poética, dedicai-vos tão abnegadamente aos vossos irmãos necessitados, de modo tal que nem vos sobeje tempo para orardes. Não julgueis a embriaguez do irmão sem lar e sem ânimo para viver, mas estendei-lhe as mãos fraternalmente; abandonai o vosso veículo caríssimo e luxuoso, até que o infeliz aleijado do vosso caminho tenha o seu carrinho de rodas. Reduzi a quantidade excessiva de ternos, que possuís, para que possais vestir alguns maltrapilhos da vizinhança; diminuí o uísque e as compotas da vossa adega, para que sobre pão ao faminto e vitaminas para a criança anêmica; economizai no gasto da boate, para socorrerdes a infeliz lavadeira que precisa de descanso, a parturiente que pede fortificante ou o operário desvalido que não cobre com o seu salário as suas despesas mensais. Buscai colocação para o desamparado e para a jovem doméstica que luta com dificuldades financeiras; providencial medicamento para o doente deserdado e livro para o estudante pobre.

Aprendei que a doutrina é sempre um meio e não um fim. O Espiritismo é maravilhosa revelação da imortalidade da alma; convite divino para que o homem modifique a sua conduta desregrada e assuma a responsabilidade da vida espiritual; mas, acima de tudo, que se cumpra a universalidade do Cristo, antes que o separatismo de seitas. E que “vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei” seja o compromisso incessante a que deveis atender, porque nunca podereis pregar a união sob a exclusividade religiosa. Podeis afirmar que estais com a melhor doutrina, mas isto é apenas uma opinião humana, com a qual pode discordar a opinião crística. A melhor doutrina é, ainda, o amor pregado por Jesus, doutrina que não possui postulados ou diretrizes tipografadas fora do coração! Se assim fizerdes, asseguramos-vos que estareis livres do imenso perigo dos “lobos vestidos de ovelhas”, dos “falsos profetas”, dos mefistófeles com aparência evangélica ou dos “Espíritos iníquos” preditos na Bíblia. Se eles vos conduzem ao erro e à iniqüidade, tornar-se-ão inofensivos, em virtude de não encontrarem em vós próprios as condições favoráveis para implantarem em vós a iniqüidade e o separatismo.

Saindo da Matrix
Texto na íntegra

sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

É você Jesus?

Um grupo de vendedores foi a uma Convenção de vendas. Todos tinham prometido às suas esposas que chegariam a tempo para o jantar da sexta-feira.

No entanto, a convenção terminou um pouco tarde, e chegaram atrasados ao aeroporto. Entraram todos com seus bilhetes, correndo pelos corredores. De repente, e sem quer, um dos vendedores tropeçou em uma mesa que tinha uma canastra de maçãs (exposição em forma de pirâmide). As maçãs saíram voando por toda parte. Sem deter-se, nem voltar atrás, os vendedores seguiram correndo para o embarque no avião. Todos menos um. Este se parou, respirou fundo, e experimentou um sentimento de compaixão pela dona do posto de maçãs.

Disse a seus amigos que seguissem sem ele e pediu a um deles que ao chegar em sua cidade, chamasse a sua esposa e lhe explicasse que ia chegar num vôo mais tarde.

Regressou-se ao terminal e encontrou todas as maçãs atiradas pelo solo. Sua surpresa foi enorme ao dar-se conta de que a dona do posto era uma menina cega.

Encontrou-a chorando, com lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Tateava ao andar, tratando, em vão, de recolher as maçãs, enquanto a multidão passava vertiginosamente sem deter-se e sem importar-se com o infortúnio da menina.

O homem se ajoelhou junto dela, falou-lhe, juntou as maçãs, colocou-as numa caixa e ajudou a montar a canastra de exposição novamente.

Enquanto o fazia, deu-se conta de que muitas da maças tinham sido golpeadas e estavam machucadas. Recolheu-as e as pôs em outra canastra. Quando terminou, sacou sua carteira e lhe disse à menina: “Toma, por favor, este dinheiro pelo dano que fizemos. Estás bem?”

Ela, chorando, acenou com a cabeça. E o homem disse ainda para a menina, “Espero não ter arruinado o seu dia”.

Conforme o vendedor começou a afastar-se, a menina gritou: “Senhor…”

Ele se deteve e voltou a olhar para os olhos cegos Ela continuou: “É VOCÊ, JESUS…?”

Ele se parou atônito e olhou ao seu redor. Deu várias voltas, antes de dirigir-se ao embarque noutro vôo, com essa pergunta queimando-lhe o peito e vibrando em sua alma: “É VOCÊ, JESUS? “.

E você irmão, já te confundiram com Jesus?

Porque esse é o nosso destino, não é assim? Parecer-nos tanto com Jesus, que as pessoas não possam distinguir a diferença. Parecer-nos tanto com Jesus, conforme vivemos num mundo que está cego ao seu Amor, sua Vida e sua Graça.

Se dissermos que conhecemos a Jesus, deveríamos viver e atuar como Ele faria.

Conhecê-lo é bem mais do que citar os Evangelhos, e ir às Igreja. É, em realidade, viver sua palavra cada dia. Nós somos como a menina cega, ainda que tenhamos sido golpeados pelas quedas, Ele deixou tudo e nos recolheu, a você e a mim no Calvário, e pagou por nossas maçãs machucadas.

Vivamos, pois, a partir de agora, como se valêssemos o preço que Ele pagou por nós!

Comecemos hoje!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

O despir do homem

Sim, o pecado nada mais é do que a barreira que o homem coloca entre ele próprio e Deus – entre seu eu transitório e seu eu eterno. A princípio, um punhado de folhas de figueira, essa barreira veio a tornar-se um poderoso baluarte. Desde o momento em que abandonou a inocência do Éden, o homem tem estado ocupadíssimo em reunir cada vez mais folhas de figueira e a costurar um sem número de aventais. Que são as artes e a instrução do homem, senão folhas de figueira? Seus impérios, nações, segregações raciais e religiões, não são cultos de adoração à folha de figueira? Seus códigos de certo e errado, de honra e desonra, de justiça e injustiça; seu avaliar o inavaliável, e medir o imensurável, e padronizar o que está além do padronizável – não é tudo isso remendar a já ultra-remendada tanga? Sua avidez pelos prazeres que estão pejados de sofrimento; sua ambição pelas riquezas que empobrecem; sua sede pela maestria que subjuga; sua cobiça pela grandeza que achincalha – não são todas essas coisas aventais de folhas de figueira?

Nesta corrida patética para cobrir sua nudez, o homem vestiu um grande número de aventais que, no correr dos anos, agarraram-se-lhe fortemente à pele que ele já não distingue os aventais da pele. E o homem sente-se sufocado, e clama por quem o liberte de tantas peles. No entanto, em seu delírio, o homem tudo faz para ser libertado de sua carga, menos a única coisa que em verdade pode aliviá-lo de sua carga, que seria atirar fora essa carga. Ele quer libertar-se de sua carga e agarra-se a ela com todas as suas forças. Deseja estar nu e, no entanto, mantém-se completamente vestido.

É chegada a hora de despir-se, e eu vim para auxiliar-vos a lançar fora vossas peles desnecessárias – vossos aventais de folhas de figueira – para que assim possais também auxiliar a todos os que anseiam por ver-se livres dos seus. Eu só ensino como fazê-lo, mas cada qual terá de se livrar dos seus, por mais doloroso que lhe seja o despir-se. Não espereis por nenhum milagre que vos salve de vós próprios, nem receeis a dor; a Compreensão nua converterá vossa dor em um perene êxtase de alegria. Se vos enfrentardes a vós próprios, na nudez da Compreensão, e, se Deus chamar-vos e perguntar: “Onde estais?” – não vos envergonheis, nem temais, nem vos oculteis de Deus, mas, ao contrário, deveis permanecer firmes, sem receio e divinamente calmos, respondendo a Deus:

“Eis-nos aqui, Deus – nossa alma, nosso ser, nosso único eu. Envergonhados, medrosos e sofrendo dores, caminhamos pela áspera e tortuosa vereda do bem e do mal, que tu nos apontastes na aurora do tempo. A grande nostalgia apressou nossos passos, e a fé sustentou nosso coração, e agora a Compreensão libertou-nos de nossas cargas, curou nossas feridas e trouxe-nos de volta a tua santa presença, nus do bem e do mal, da vida e da morte; nus de todas as ilusões da dualidade, nus exceto do manto de vosso ser, que tudo envolve. Sem folhas de figueira para esconder nossa nudez, aqui estamos diante de ti, livres da vergonha, iluminados e sem temor. Vede, estamos unificados. Vede, nós vencemos”.

Saindo da Matrix
Texto na íntegra

sexta-feira, 2 de dezembro de 2005

O Coringa

Neste mundo onde a vida e a verdade estão ocultas, apenas umas poucas cartas conseguem ver com clareza. “Apenas o curinga do jogo não se deixa iludir.” Curingas são raros em qualquer baralho, mas sempre existe um para manter viva a esperança e a verdade não deixar morrer.

Muitos de nós vivemos a buscar esta condição: ser um curinga. Em prol disso, negligenciamos tradições, afrontamos autoridades, desafiamos pensamentos, questionamos convenções, indagamos os porquês e procuramos algum a que. Nem sempre faz-se isso de forma coerente, sadia. A Ânsia por tornar-se algo diferente do que somos e não ser contado apenas como mais um, mais uma carta do baralho, é tão grande, que às vezes acabamos por nos perder. Nos perdemos em nossa realidade desvirtuada e confusa. O certo e o errado se misturam. O que buscamos tanto afirmar como sendo o certo, a coisa nobre a se fazer, não raro é a atitude que menos conseguimos concretizar. A tendência ao erro, à seguir a multidão, é forte, e querer ser um curinga, de maneira forçada e portanto, falsa, pode ser perigoso, talvez até mortal.

Não adianta querer fazer tudo porque é bonito de se dizer. Um discurso inflamado é muito belo, mas para ser um curinga de verdade não é necessário discurso. Não se exige diploma ou ideologia. Um curinga é aquele que não se baseia no sistema (esquerda ou direita) para viver. Ele percebe a hipocrisia dos dois lados (ou quantos lados existirem) e tem a nobre tarefa de alertar aqueles que desejem saber a verdade.

Estes costumam ser apedrejados. Ninguém quer ser acordado enquanto sonha. O sonho é belo, é prazeroso. Nele vê-se nuvens e se pode tudo. Você pode ser quem quiser, inclusive um curinga. Os curingas acabam por morrer na sua ânsia de revelar o que entenderam a outros. No seu desejo de despertá-los de sua dormência, acabam por ser acusados de perturbadores, de desertores.

Na verdade, são. São desertores deste sistema e dessa forma única e mecânica de se pensar e de sentir o meio e os pares. São perturbares desta falsa paz e dessa falsa racionalidade estabelecida de cima para baixo. Mas são muito mais do que isso. São sonhadores, são utópicos, são românticos e são sadios. Vêem o mundo com outros olhos: os olhos do delírio. Eis a sua chama vital que nunca se extinguirá.

Os curingas estão espalhados pelo mundo, disfarçados em pessoas alienadas e comuns. Não fazem tanto alarde, até chegar a hora de despertar outro curinga para seguir o jogo. Estão sempre presentes, e sempre estarão. E o nosso desejo, nosso mais íntimo anseio, é de ser, ao menos um dia, um curinga.

Mas não adianta, não se canse. Ser um curinga não é uma opção, não é apenas uma questão de filosofia. Ser um curinga não é só por distração, é apenas uma maldição de família…

Eduardo Marandola Junior
Comentário sobre o livro O Dia do Coringa

Fragmentos

Fragmentos de minha infância.

As pessoas grandes aconselharam-me deixar de lado os desenhos de jibóias abertas ou fechadas, e dedicar-me de preferência à geografia, à história, ao cálculo, à gramática. Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma esplêndida carreira de pintor. Eu fora desencorajado pelo insucesso do meu desenho número 1 e do meu desenho número 2. As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar toda hora explicando.

Quando o mistério é muito impressionante, a gente não ousa desobedecer. Por mais absurdo que aquilo me parecesse a mil milhas de todos os lugares habitados e em perigo de morte, tirei do bolso uma folha de papel e uma caneta. Mas lembrei-me, então, que eu havia estudado de preferência geografia, história, cálculo e gramática, e disse ao garoto (com um pouco de mau humor) que eu não sabia desenhar. Respondeu-me:
- Não tem importância. Desenha-me um carneiro.

Se lhes dou esses detalhes sobre o asteróide B 612 e lhes confio o seu número, é por causa das pessoas grandes. As pessoas grandes adoram os números. Quando a gente lhes fala de um novo amigo, elas jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca: “Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que coleciona borboletas?” Mas perguntam: “Qual é sua idade? Quantos irmãos ele tem? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai?” Somente então é que elas julgam conhecê-lo. Se dizemos às pessoas grandes: “Vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, gerânios na janela, pombas no telhado…” elas não conseguem, de modo nenhum, fazer uma idéia da casa. É preciso dizer-lhes: “Vi uma casa de seiscentos contos”. Então elas exclamam: “Que beleza!”


É uma questão de disciplina, me disse mais tarde o principezinho. Quando a gente acaba a toalete da manhã, começa a fazer com cuidado a toalete do planeta. É preciso que a gente se conforme em arrancar regularmente os baobás logo que se distingam das roseiras, com as quais muito se parecem quando pequenos. É um trabalho sem graça, mas de fácil execução.

- Bom dia, disse o principezinho.
- Bom dia, disse o vendedor.
Era um vendedor de pílulas aperfeiçoadas eu aplacavam a sede. Toma-se uma por semana e não é mais preciso beber.
- Por que vendes isso? perguntou o principezinho.
- É uma grande economia de tempo, disse o vendedor. Os peritos calcularam. A gente ganha cinqüenta e três minutos por semana.
- E o que se faz, então, com os cinqüenta e três minutos?
- O que a gente quiser…
“Eu, pensou o principezinho, se tivesse cinqüenta e três minutos para gastar, iria caminhando passo a passo, mãos no bolso, na direção de uma fonte…”

Os homens do teu planeta, disse o principezinho, cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim…e nunca encontram o que procuram…E no entanto, o que eles buscam poderia ser achado numa só rosa, ou num pouquinho d’água…Mas os olhos são cegos. É preciso buscar com o coração…

Eis aí um mistério bem grande. Para vocês, que amam também o principezinho, como para mim, todo o universo muda de sentido, se num lugar, que não sabemos onde, um carneiro, que não conhecemos, comeu ou não uma rosa…
Olhem o céu. Perguntem: Terá ou não terá o carneiro comido a flor? E verão como tudo fica diferente…

O Pequeno Príncipe
Antoine De Saint- Exupéry