quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Manifesto Rosacruz

[...] Quanto às grandes religiões, consideramos que elas manifestam atualmente dois movimentos contrários: um, centrípeto e, o outro, centrífugo. O primeiro consiste numa prática radical que se pode observar sob forma de integrismos no seio do cristianismo, do judaísmo, do islamismo ou do hinduísmo, entre outros. O segundo se traduz por um abandono de seu credo em geral e de seus dogmas em particular. O indivíduo não mais aceita manter-se na periferia de um sistema de crenças, mesmo que se trate de uma religião dita revelada. Doravante, ele quer se colocar no centro de um sistema de pensamento resultante de sua própria experiência. Nisso, a aceitação dos dogmas religiosos não é mais automática. Os crentes adquiriram certo senso crítico a respeito das questões religiosas e a validade de suas convicções corresponde cada vez mais a uma validação pessoal. Onde a necessidade de Espiritualidade produziu outrora algumas religiões com forma arborescente (a forma de uma árvore bem enraizada em seu solo sócio-cultural, que elas aliás contribuíram para enriquecer), hoje ela toma a forma de uma estrutura em rizoma, feita de arbustos múltiplos e variados. Mas, o Espírito não sopra onde quer? [...]

[...] No que concerne à moral, no sentido que damos a esta palavra que se tornou ambígua, consideramos que ela está cada vez mais injuriada. Para nós ela não designa obediência cega a regras (para não dizer a dogmas) sociais, religiosas, políticas ou outras. Ora, é assim que muitos de nossos concidadãos percebem a moral dos nossos dias e daí vem sua atual rejeição. Consideramos antes que ela se relaciona com o respeito que todo indivíduo deveria ter para com ele próprio, os outros e o ambiente. O respeito a si mesmo consiste em viver segundo suas próprias idéias e não em se fundamentar nos comportamentos que se reprova nos outros. O respeito aos outros consiste, simplesmente, em não fazermos ao nosso semelhante o que não gostaríamos que ele nos fizesse, o que todos os sábios do passado ensinaram. Quanto ao respeito ao ambiente, ousamos dizer que ele vem naturalmente: respeitar a natureza e preservá-la para as gerações futuras. Vista sob esse ângulo, a moral implica um equilíbrio entre os direitos e os deveres de cada um, o que lhe dá uma dimensão humanística que nada tem de moralizadora. [...]

[...] No tocante às relações do Ser Humano com seus semelhantes, consideramos que elas são cada vez mais interesseiras e deixam cada vez menos lugar ao altruísmo. É verdade que se manifestam impulsos de solidariedade, mas isso acontece o mais das vezes fortuitamente, por ocasião de catástrofes (inundações, tempestades, tremores de terra, etc.). Em situações normais, é o cada um por si que predomina nos comportamentos. Pensamos que também essa ascensão do individualismo é uma conseqüência do materialismo excessivo que grassa atualmente nas sociedades modernas. Não obstante, o isolamento que decorre disso deveria acabar, cedo ou tarde, gerando o desejo e a necessidade de renovar o contato com os outros. Por outro lado, pode-se esperar que essa solitude leve cada um a se interiorizar mais e a se abrir finalmente para a Espiritualidade. [...]

[...] Pouco importam as idéias políticas, as crenças religiosas, as convicções filosóficas de cada um. Os tempos não estão mais para divisão, qualquer que seja sua forma, mas para a união; para a união das diferenças, a serviço do bem comum. Nisso, nossa Fraternidade conta em seu quadro com cristãos, judeus, muçulmanos, budistas, hinduístas, animistas e mesmo agnósticos. Reúne também pessoas que pertencem a todas as categorias sociais e representam todas as correntes políticas clássicas. Homens e mulheres nela têm um status de total igualdade e cada membro goza das mesmas prerrogativas. É essa unidade na diversidade que faz a pujança do nosso ideal e da nossa egrégora. Assim é porque a virtude que mais prezamos é a tolerância, isto é, precisamente, o direito à diferença. Isto não faz de nós sábios, pois a sabedoria abrange muitas outras virtudes. Consideramo-nos antes filósofos, ou seja, literalmente, “amantes da sabedoria”. [...]

Manifesto Rosacruz

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