quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Infinito

O Homem sonhava, e em seu sonho havia outro homem que caminhava, com o rosto que Ele teria, se não O tivesse. Era um sonho em forma de caminho comprido, um oito deitado sub specie aeternitatis, que o homem percorria vezes e vezes sem conta, mal se lembrando do Homem que era. E ele tropeçava, caía, se arrastava, morria, levantava-se, continuava, arrastava-se, caminhava. Encontrou outros homens e mulheres, todos que não sabiam como ele, e eram o Homem sem forma e sem rosto, sem nome e sem voz. Alguns deles tinham teorias que diziam que a cada vez que caía e se levantava, a pessoa tornava-se mais sábia, até o dia em que não precisasse mais cair e se levantar. O homem ouvia aquilo tudo e fazia que sim com a cabeça, mas no íntimo não lhe parecia estar ficando mais sábio, a não ser que se chamasse de sabedoria as cicatrizes de escoriações nos joelhos. No entanto, em deferência a seus amigos que assim diziam, decidiu prestar mais atenção no caminho, pois talvez todos aprendessem o que ele não aprendia. Com isso, começou a perceber algo para o qual nem seu agnosticismo nem as crenças de seus amigos o haviam preparado: o caminho repetia-se, repetia-se e repetia-se. Aos poucos, foi desenhando um mapa mental do percurso, e percebeu que limitava-se a andar em círculos fechados. Notando as bordas do oito deitado, delas se aproximou. Faziam fronteira com um insondável Abismo sem forma e sem rosto, sem nome e sem voz. Hesitou um pouco antes de saltar. Então, o Homem acordou e foi tratar da vida.

O Franco Atirador

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